domingo, 2 de outubro de 2011

Pelo modelo do chapéu se conhecia o tamanho da boiada

Kazuko, a filha
Sr. Shinsho e esposa



Em uma destas costumeiras incursões fotográficas pela feira livre, ambiente rico em propostas culturais, cores, aromas e sons, em dado momento a banca de chapéus prendeu a atenção. Isso mesmo! Na feira, tem uma banca que vende chapéus.
As pessoas param, observam... e não resistem à tentação de experimentar alguns modelos e se mirar no espelho. O movimento não tem idade. Desde as crianças, aos de idade mais avançada, é quase que irresistível pegar um, dois, três ou mais modelos e fazer poses e olhares debaixo das abas, de palha, de lona ou de materiais sintéticos.
O chapéu já foi um complemento do traje social em tempos não tão distantes, para mulheres e para homens. No caso deles, o conjunto era completado com o paletó, de linho, os sapatos, sempre bem lustrados, e a gravata. Durante o dia, chapéus de palhinha, que podem ser de uma palha ou de duas palhas, termos utilizados para determinar a trama e o arremate no acabamento. Na sabedoria dos lavradores mais experientes, quando o sol está muito quente, usa-se colocar duas folhas de mamona por dentro da copa do chapéu para amenizar o calor. No período da noite, caía bem um chapéu de feltro, para combinar com o terno e com a ocasião, social ou mais esportiva.
Para as damas, chapéus com mais requintes de decoração e acessórios, como tules, penas, miniaturas de pássaros, flores ou pequenas joias adornando os arremates.
Nas ruas, o movimento era intenso e, ao cruzar com as pessoas, num gesto de cavalheirismo e de respeito, retirava-se o chapéu da cabeça, curvando-se levemente em direção ao interlocutor, sempre acompanhado de um bom dia ou boa tarde ou da expressão “meus respeitos”. Este ato se repetia ao passar em frente à igreja ou à capela, ou mesmo na frente do portão do cemitério, fazendo em seguida o sinal da cruz quando católicos. Não tirar o chapéu diante de uma pessoa ao cumprimentá-la era ato explícito de desrespeito.
É claro que isto não valia para os coronéis ou fazendeiros, que se davam ao direito de manter a cobertura na cabeça diante dos caboclos e serviçais. Há até uma brincadeira que diz: “Dá para conhecer o tamanho da criação de gado do fazendeiro pelo tamanho da aba do chapéu; quanto maior a aba, maior a boiada.”
Nos cinemas, nos hotéis ou nos teatros, havia as chapelarias para guardar o acessório, durante a apresentação do espetáculo ou mesmo na participação em uma conferência. Além do chapéu, era comum guardar as famosas capas de chuva dupla face e as luvas de couro. Dia destes, em viagem a São Paulo, vi que um destes hotéis mais tradicionais ainda conserva a chapelaria.
Chapelaria São Luiz
Diante deste tema tão rico, a curiosidade me levou a visitar e a conhecer a Chapelaria São Luiz. Lá, eu fui atendido pela simpática Kazuko, filha dos comerciantes pioneiros Shinsho Miyagui e Sra. Katsu Miyagui, vindos de Okinawa, província que fica ao sul do Japão, constituída por 169 ilhas.
A loja está instalada na rua Arco Verde, 252, mas o início das atividades foi na rua São Luiz, 973, onde permaneceu até o ano de 1960. Kazuko nos contou que o pai era tintureiro e reformava chapéus, utilizava uma forma especial para poder passar e engomar as abas e depois deixava no sol para secar a goma. Devido à prática na profissão, quando surgiu a oportunidade instalou a sua própria empresa no ano de 1945.
A loja na rua Arco Verde há 51 anos, ainda conserva os mesmos ares que inspiraram os pais no passado. Nas vitrines, vários modelos de chapéus para tender aos mais exigentes gostos e agora conta com a linha de chapéus femininos, novidade que atraiu uma nova clientela . Nas paredes, espelhos estrategicamente colocados, para que as pessoas possam se admirar, num momento de bem estar e bom gosto. São janelas do tempo.
Ivan Evangelista Jr
Membro da Comissão de Registros Históricos de Marília
Publicado no Jornal Diário de Marília, edição de 02/10/11, Caderno Revista



2 comentários:

  1. agora eu quero chapeu e de abas bem largas!!!!!!!

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  2. Olá amigo Ivan,

    parabéns pelo blog,realmente foi uma visita muito prazeirosa,pois sempre tive o chapéu com um acessório indispensável,não me separando dele,me sinto mais nordestino...

    Abraço.
    Paulo Romero.
    Meliponário Braz.

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