quarta-feira, 14 de março de 2012

Armadilha para atrair enxames em caixa de papelão

Enxame capturado na caixa de papelão 

Preparando  a caixa para atrair novo enxame

Funciona assim:
Pegue uma caixa de papelão de tamanho médio, faça uma armação de madeira que se encaixa nas medidas da caixa, faça alguns caixilhos (5 ou 6) para servir de estrutura para os futuros favos.
Propolise a caixa ou esfregue erva-cidreira e abra um orifício por onde as abelhas possam entrar. Pronto, esta feita a armadilha.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Um dedo de prosa, um café e várias histórias



Fachada do Educandário Bento de Abreu onde
 raio destruiu ornamento na parte mais alta do prédio


Na esquina da Rio Branco com a Sampaio Vidal, sobre o telhado da antiga residência dos Montolar, armação de antena de rádio dos anos 60.

Rádio valvulado e ferramentas de trabalho diário
No bailado do rodamoinho, o prenúncio da mudança de tempo
A prosa na varanda seguia morna, no mesmo ritmo da água esquentando sobre a boca do fogão para mais tarde o café. O assunto, hora passava pela fase da lua boa para plantar milho e mandioca, hora sobre o capim na roça, que nesta época do ano, de chuva pouca e sol abundante, cresce viçoso e solta a sementeira, sem dó do lavrador já atarefado.
Um vento besta começou a soprar no terreiro de secar o café e as folhas secas entraram no bailado do rodamoinho que, geralmente, acompanha a brisa que anuncia uma mudança de tempo. Da ponta das árvores mais próximas do quintal, os Anus brancos são surpreendidos também pela corrente traiçoeira e saltam dos galhos num voo todo desengonçado, coisa de rabo muito comprido virando pra cima do corpo, apressados para encontrar um local onde possam se abrigar da chuva.
A carijó, toda cuidadosa com seus pintinhos, cacareja num tom parecido com a telegrafia, e eles entendem, vão saindo debaixo das saias do café, das moitas e montes de folha seca, onde ciscam os bichinhos preferidos, e correm pra mais perto da mãe. A cadela de cor quase cinza, de tetas sempre gordas porque tem uma cria atrás da outra, que descansava no cimento quentinho, de barriga para cima e olhos bem amiudados, sai da pasmaceira típica de cachorro vira lata, que mais late do que morde, e corre pra debaixo da mesa e das pernas do dono.
Todos estes sinais se juntam a um relâmpago rápido, seguido de forte estrondo que arrebenta no céu, e as nuvens vão virando umas sobre as outras, em cores escuras e disformes. Vem chuva forte por aí... "corre recolher uns paus de lenha", diz alguém lá na cozinha.
Outro relâmpago e um raio cheio de pontas cruza o céu rumo ao horizonte, segue mais um trovão e outro. Dona Joana, a dona da casa, já procura com os olhos ligeiros um canto para se esconder. É pânico de temporal, tem medo, muito medo mesmo, e isso vem desde criança quando perdeu a mãe, vitimada por uma descarga elétrica.
Ela nos conta que estavam todos na casa e o tempo virou pra chuva. Moravam na roça, lá no estado da Bahia, um lugar de poucas casas e muito chão batido. A faísca foi certeira, descarregou na ponta cumeeira e correu pelos paus do telhado, até descer pelo batente da porta, onde a mãe se recostava, sentada nos degraus da pequena escada. Ali ficou, foi fatal.
Casou-se com o Paulino e foi morar na região de Avencas, onde também naquela época ficava o bairro Catequese, ou Catiqueis, como era chamado pelos caboclos. Casa de taipa, chão batido e parede feita de casca de coqueiro do mato, completando a trama com barro vermelho alisado com as próprias mãos, depois uma caiação pra deixar mais bonita e afastar o bicho barbeiro.
Sem eletricidade, o rádio era tocado com aquelas pilhas enormes, muitas delas feitas pelo Sr. Aurélio, um curioso da eletrônica que, mais tarde, veio a ser funcionário da CPFL de Marília. As condições de recepção eram precárias e o conjunto exigia: além do rádio ABC Canarinho, A Voz De Ouro, o fio terra, geralmente feito de arame grosso, enrolado várias voltas em um lima de amolar enxada, velha e enferrujada, depois enfiado num buraco do lado de fora da parede e perto do local onde o rádio ia ser instalado. Um outro fio subia parede acima e atravessava o telhado, até alcançar a ponta de um outro arame, ou fio desencapado, estendido entre dois bambus, geralmente no cumprimento de 10 a 20 metros. Esta era a antena de rádio típica de sítio, também considerada a melhor arapuca para atrair raios e faíscas.
Nuvem preta dava sinal no horizonte e dona Joana corria cobrir o espelho da penteadeira com a toalha da mesa ou a colcha da cama, porque aprendeu desde criança que espelho também atrai raios. O mesmo se fazia com as tesouras de costura, que estavam sempre ali, ao alcance das mãos, mas nestas ocasiões ganhavam o lugar mais fundo das gavetas. Faca não ficava sobre a mesa da cozinha nem pensar. E quem tivesse lidando com metal, enxada, facão ou enxadão, que tratasse de largar rapidinho.
Voltando à cena da varanda, dona Joana serviu o café, que passou, com o coração apertado de medo, pelo coador de pano. Um gole esquenta a goela e seu Generoso entra na prosa contando que raio gosta é mesmo de Perobeira alta. “E tem mais viu”, dizia ele, “naquele tempo, eu vi o raio bater na ponta da Peróba e abrir a árvore no meio, até embaixo na raiz. Depois da chuva, a gente correu lá para ver se achava a ponta do raio no chão”.
- “Como assim Generoso?”
“Pois é. O povo daquele tempo dizia que quando o raio descarregava na árvore, podia procurar a ponta lá embaixo que virava uma pedra preta e comprida, parecida com uma cunha grande, isto sem falar do cheiro forte de enxofre que ficava no derredor.”
E fora esta, eu e você, amigo leitor, já ouvimos outras tantas boas histórias, de gente que morou em sítio ou fazenda e confirma tudo que aqui está contado, “tar e quar” o Guinete Grassi, leitor assíduo da coluna. Teve gente que já viu amigo cavar buraco feito Tatu Peba pra ver se encontrava a tal da pedra.
De minha parte, brinquei com eles: “nunca vi rastro de cobra nem couro de lobisomem, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.”
Povo bom de se conviver, prosa boa de se ter e café bom de se beber.
Ivan Evangelista Jr
Membro da Comissão de Registros Históricos de Marília e Chefe de Gabinete do Univem
Publicado no JornalDiário de Marília, edição de 11/03/12





sexta-feira, 9 de março de 2012

O Pé-de-Bode do Sargento Manzano

Manzano,de gravata, na frente da delegacia

No dia do casamento com a esposa Miriam

Algumas pessoas vão se lembrar que, na rua Arco Verde, ao lado da Escola SENAI, funcionava um Ponto de Automóveis, nome dado aos locais onde se podia alugar uma condução para fazer um frete de pequeno ou grande porte. Quase na esquina com a rua Quatro de Abril, ficavam estacionadas as Romisetas, veículos que, provavelmente, pouca gente conhece nos dias atuais, um tipo de Lambreta com carroceria pequena e cabine coberta.
Numa comparação simples, podemos dizer que estas foram a primeira versão dos atuais mototáxis, com a vantagem da carroceria para mercadorias. Eram compactas e quase todas na cor verde escuro. Um telefone público, instalado em poste de ferro próximo ao ponto, com duas campainhas estridentes para anunciar as chamadas recebidas, dava conta de todo o serviço de movimento de sacarias, engradados e malas dos viajantes que chegavam pelos trilhos da FEPASA. Por serem compactas, contavam com certa facilidade de manobra e atendiam bem às chamadas da plataforma de desembarque de mercadorias no pátio da ferrovia.
Mas, a lembrança mais agradável que me vem deste período é do Pé-de-Bode, ano 1929, propriedade do Sargento Manzano, casado com a Sra. Miriam e pai dos meus colegas de infância, o Marcos Manzano (Marcão), o Mário (Marinho), o Marlon e a Miriam (Mirinha). Sargento Manzano, um homenzarrão de bigode, serviu a Guarda Civil, que mais tarde veio a se tornar a Polícia Militar de São Paulo, com o maior orgulho desta terra. Vestia a farda com um ritual de fazer inveja e, com a ajuda da esposa, sempre muito carinhosa, dava os toques finais na arrumação do cinto, do coldre do revólver 38 e dos outros acessórios de trabalho.
 A gente ficava esperando que ele saísse pela porta da sala, na casa da rua 24 de de dezembro, esquina com a rua Catanduva, para embarcar, todo imponente, no seu querido Pé-de-Bode. A cena podia até ser rotineira, mas para nós era como filme de romance americano, que a gente não cansava de ver, com direito a beijo na boca e um afago de despedida nos cabelos já grisalhos. Dona Miriam tinha um orgulho e tanto do marido e, por várias vezes, vimos os olhos dela se encherem de lágrimas na hora da partida, tamanho foi o amor que eles viveram.
Sargento Manzano tomava conta da cadeia de Herculândia. Isto foi lá pelos anos de 1960 e 1970. Quando voltava do serviço, trazia da roça as mais belas melancias que eu já vi nesta vida, enormes, viçosas e tão vermelhas por dentro que chegavam a tingir os lábios. Era o complemento do orçamento familiar, sempre apertado. Por vezes, trazia abacaxis, jabuticabas e outras frutas de época.
Dona Miriam ajudava com a costura. Profissional de mão cheia, tinha a sua Singer virada para a janela, que dava para os baixos da rua 24 de dezembro, onde hoje estão o Alves Hotel, o prédio da Telefônica e a antiga rodoviária. De lá, ela ficava de olho nas nossas brincadeiras e na carga do Pé-de-Bode. O comércio era feito ali mesmo, os vizinhos buscavam da fruta porque sabiam da procedência e as conversas se desenrolavam a perder de vista. Era fato comum ouvir Dona Miriam lamentar que estava com as costuras todas atrasadas... também, pudera, haja terço e conta pra botar em dia.
Quando não estava com a farda da cor caqui, o Sargento Manzano se enfiava debaixo do motor, em um macacão cheio de graxa, fazendo os reparos, munido de uma alicate e um pedaço de arame. Cada viagem, um concerto novo ou uma encrenca nova surgia na casa. Cansado da lida, deitava no sofá e, com o cigarro de palha na boca, outro acessório inseparável, cochilava e as cinzas caíam queimando a roupa, sujando o sofá, o pano de prato e tudo mais que estivesse por perto.
O Marcão dizia que o cigarro o fazia dormir e, para provar a afirmação, era ele quem tirava o paieiro do canto da boca. O pai acordava no ato, resmungando e ralhando com a molecada.
O Marlon seguiu os passos do pai e, hoje, é cabo no Corpo de Bombeiros de Marília. O Mário é funcionário do INSS, trabalhava no atendimento da Rua Campos Sales,  fez curso de chefe de cozinha e mudou-se para a cidade de Balneário Cambuirú, onde também apresenta um programa de culinária na TV Cultura, O Marcão tornou-se consultor de vendas e de qualidade no atendimento ao cliente.A Miriam é profissional no comércio da cidade.
A casa dos Manzano foi sempre muito alegre e acolhedora, família feliz e exemplo de vida e de amor para todos nós. Não tenho dúvidas de que aprendi a respeitar e a gostar da Polícia Militar, desde pequeno, de tanto ouvir as histórias do Sargento Manzano, de ver o capricho no lustrar dos sapatos e do cinto, de ver a farda impecavelmente passada e o distintivo da Força Pública, orgulhosamente ostentado no lado esquerdo do peito.
Ivan vangelista Jr
Memro da Comissão de Registros Historicos de Marília
Publicado também no Jornal Diário de Marília, edição de 26.02.12