quarta-feira, 5 de março de 2014

A Rua Coronel José Braz


Do alto do pedestal e sob a sombra da copa do Jacarandá Mimoso, o monumento que homenageia o ilustre Comendador Christiano Altenfelder Silva dá as boas vindas para quem caminha sentido ao centro da cidade. Mais à esquerda, um enorme bloco de pedra sustenta placa em bronze, obra de arte, retratando a batalha dos Heróis de Lagunas (guerra do Paraguai, 1865-1870). No mesmo canteiro, encontramos ainda o símbolo do Lions Clube de Marília e a roda dentada do Rotary, com homenagem expressa a Luiz Coelho de Oliveira, diretor do Rotary Internacional.
Mais ao fundo, estes já sem as placas de identificação originais, estão os monumentos em homenagem à Maçonaria (1974) e o busto de Lázaro Luiz Zamenhof, o pai do esperanto, língua internacional criada por ele e que foi amplamente difundida pelo mundo. É certo que aos transeuntes, cidadãos natos ou visitantes, causa estranheza ver tantos monumentos em um mesmo espaço.
Os registros históricos nos contam que, num dos momentos de reformas nas praças públicas do centro da cidade, estes monumentos foram concentrados no jardim que dá frente à rua Coronel José Braz, sendo denominado "Espaço das Esculturas". O da Lagunas estava na Praça Saturnino de Brito, enquanto o da Maçonaria e o busto do Zamenhof  ficavam defronte à Biblioteca Municipal.
Em canteiro bem cuidado da mesma praça, encontramos um belo exemplar de Pau-Brasil, árvore nobre que povoou as matas e as aulas de histórias ouvidas inúmeras vezes nos bancos do primário. Logo atrás, uma enorme porta de madeira separa a biblioteca Braile da praça, porta que permanece fechada para evitar o assédio e acesso constante dos pedintes que fazem ponto na esquina com a avenida Sampaio Vidal.
Mas, deixando de lado as mazelas da vida, vamos nos concentrar nas belezas. Enquanto fazia as fotos para ilustrar o presente artigo, senti o aroma muito peculiar dos arbustos de Dama da Noite, com suas flores brancas e delicadas. Mesmo não estando florido nesta época do ano, o grande Jacarandá é o cartão de visitas da praça, com sua copa frondosa e galhos que parecem estar prontos para acolher quem se senta à sua sombra. Por sinal, neste dia, um senhor que caminhava com sua bicicleta parou em um dos bancos, sentou-se e retirou do bolso um pacote de fumo Juriti, enquanto alisava um pedaço de papel branco com o qual embrulhou o cigarro debaixo da aba do chapéu de palha quebrado na testa. Uma figura.
É diante de todo este cenário que começa a Rua Coronel José Braz. O prédio de número 29 foi o primeiro a aparecer com identificação numérica, vizinho da Rádio 950, construção germinada de bom acabamento e bem cuidada. Até pouco tempo atrás, havia placa de identificação do escritório do ilustre advogado mariliense Dr. Pedro Gelsi.
Na esquina com a rua São Luiz está o não menos majestoso prédio do Centro Cultural Brasil Estados Unidos de Marília, escola de idiomas muito bem instalada e conduzida pela Sra. Sylvia Garbelini. Além das aulas de línguas estrangeiras, a escola conta com belo espaço para acolher exposições artísticas, sempre com agenda de eventos concorrida, enriquecendo a cultura da cidade e recepcionando cidadãos estrangeiros com toda a gentileza e competência. Tive a honra de fazer duas exposições fotográficas no CCBEU, e toda vez que lhes faço uma visita me sinto como se estivesse no Consulado de Marília.
No trajeto, chamou-me a atenção a residência que tem o número 101. Segundo informações, é da família Fioravante. A arquitetura é diferenciada, tem jardim bem cuidado na frente e acabamentos artísticos que adornam todo o espaço da área de entrada.
E, quem conhece o pioneiro Antonio Beiro, membro da comunidade espírita mariliense, sabe que foi ele, ao lado de sua companheira e esposa Altair, quem durante anos conduziu a Creche Mãe Cristina, acolhendo crianças e suprindo suas necessidades sociais e materiais. Tantas outras mães e mulheres solidárias ligadas à Associação das Senhoras Espíritas de Marília se desdobraram em fazer roupinhas, tricôs, trabalhos manuais diversos e quitutes para promover os bazares solidários, com venda sempre revertida para a entidade. A história da honorável família Beiro, que também teve seus momentos de glória na trajetória do rádio mariliense, faz parte da história da Creche Mãe Cristina, hoje berçário municipal, que continua dando assistência aos menores.
A creche, que teve seu primeiro nome como “Ignácio de Loyola Torres”, nasceu do idealismo dos diretores do Centro Espírita “Amantes da Pobreza” (1961), tendo como provedor Hygino Muzzi Filho, vice-provedor Hélio Tavares Costa, 1º secretário Lauro Vargas, 2º secretário Alfredo Ramos Novaes; 1º tesoureiro Casimiro Olympio Vernaschi e 2º tesoureiro Odetto Berlanga Mugnai. Foi inaugurada em julho de 1966, com o apoio do Consórcio Intermunicipal de Assistência ao Menor, dirigido pelo querido professor Ermelino Flora. (Fonte: Marília, sua terra, sua gente, Paulo Corrêa de Lara)
Na baixada da rua, imediações dos fundos do terreno do Marília Tênis Clube, as antigas residências deram lugar às clinicas médicas. Fato interessante de registro, pois ao avaliarmos o número de clínicas médicas instaladas nas ruas paralelas e transversais, vamos observar que houve um fenômeno natural de aproximação de uma categoria profissional. É claro que o fato da av. Rio Branco ser uma das principais vias da cidade conta; na falta de prédios disponíveis, as ruas próximas foram se tornando boas opções.
Já no topo e quase final da rua, próximo da Avenida da Saudade, de onde se tem vista privilegiada, está a sede da CM Consultoria, maior complexo de assessoria e consultoria educacional do país, dirigida pelo educador, consultor e professor Carlos Antonio Monteiro, também ex-secretário da Cultura em nossa cidade. Tive a honra de atuar profissionalmente nesta organização, com filiais nas cidades de Brasília e São Paulo, e sinto orgulho de saber que é a partir de Marília, com o apoio de sua competente equipe de profissionais, que importantes decisões de grandes instituições de ensino do país tiveram apoio e orientação, inclusive em muitos processos de fusões e aquisições entre instituições de ensino de grande porte.
Nas pesquisas ao escritos do historiador Paulo Corrêa de Lara, encontramos algumas informações sobre a rua:  A rua se chamou inicialmente "Dirceu" e o cidadão que deu nome a ela é "Cel. José da Silva Nogueira". Juntamente com o Cel. Galdino Alfredo de Almeida criaram o loteamento da Vila Barbosa em 1927. Sempre foi tratado por "Cel. José Braz", cognome pelo qual era conhecido desde Igarapava, de onde veio para Marília.
                    O certo é que aquele cidadão deixou um nome respeitável pela honradez, trabalho e bondade que sempre demonstrou. E ainda nos deixou seus filhos: Teodoto da Silva Nogueira, que foi quem instalou a comarca de Marília e que morreu prematuramente como seu pai, e José da Silva Nogueira Júnior, o popular "Quitinho", que felizmente faz parte ainda da nossa convivência cotidiana. (artigo escrito em 1989)
                    A homenagem feita pela Prefeitura Municipal de Marília, por seu prefeito municipal, na ocasião o farmacêutico João Neves Camargo, foi justíssima em dar o nome do "Cel. José Braz" à antiga rua Dirceu, ficando aqui o nosso registro para que a posteridade saiba e não se esqueça daquele eminente cidadão.
                    Ivan Evangelista Jr. é membro da Comissão de Registros Históricos de Marília.

                    Publicado no Jornal Diário de Marília em 02/03/14

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