segunda-feira, 7 de julho de 2014

A rua 4 de Abril

Aproveitando os festejos e comemorações do aniversário da cidade, vamos falar sobre a rua 4 de Abril, resgatando algumas memórias e trazendo novos comentários. Fiz o caminho seguindo do final para o começo, mesmo sentido de direção do trânsito de veículos. Fiquei por alguns minutos parado ali na esquina com a rua Piratininga, observando o cenário do centro da cidade, e talvez por estar com a máquina a tira colo, não foram poucas as pessoas que me abordaram, perguntaram e acabaram trazendo alguma contribuição para a produção do artigo.
Gilberto Zochio, empresário da Hidráulica Paulista, foi um deles. Assim que trocamos algumas palavras, muito atencioso, ele foi até o escritório e me presenteou com algumas imagens antigas do prédio. Originalmente, o prédio foi máquina de beneficiamento de café. Antes de se tornar o comércio de produtos para hidráulica, abrigou um animado centro de dança e diversão, salvo engano, o Forró e Danceteria Realejo.
Seguindo sentido centro, ainda está a casa (hoje imóvel comercial) onde residiu o deputado Diogo Nomura, esquina com a Campos Sales. Notamos que poucas mudanças ocorreram na paisagem urbana desse trecho, destacando a preservação e o charme da fachada da residência na esquina com a rua José de Anchieta. Passamos pela 1ª igreja Presbiteriana Independente e chegamos ao antigo prédio da Telesp, hoje Telefônica. A fachada permanece a mesma.
Neste ponto da via, um destaque especial para as belas instalações da Bagueteria Orly, já tradicional ponto de encontro dos marilienses, cartão de visitas da cidade e onde também encontramos fotos antigas expostas no salão de refeições. A decoração interna reúne um misto de modernidade com saudosismo, e o proprietário Mário Bozo, ao lado da esposa, além da excelente qualidade dos produtos, cuidam com carinho especial dos clientes. Com a marca da empresa, produziram sacolas de tecido com fotos antigas impressas, um souvenir de extremo bom gosto para quem deseja presentear amigos ou levar uma lembrança de Marília.
Olhando através das vidraças, eu me lembrei do consultório do Dr. Alfredo Haber, dentista, que durante anos manteve seu consultório na esquina com a rua Paes Leme. Figura das mais simpáticas, ele e o irmão, Dr. Adib, médico, ambos espíritas, sempre envolvidos no amparo e atendimento dos mais carentes. Subi a rua, mentalmente, e vi o Cine Pedutti e o implacável comissário de menor Zé Maria, terror da molecada que insistia em entrar nos filmes proibidos para menores de 18 anos. Tem carteirinha? Então, mostra aí!
Agora vêm a velha pensão, esquina com a rua Prudente de Moraes, e a Casa Econômica, da primeira agência da Poupança Continental, do outro lado da esquina, aquela que distribuiu cofrinho que já vinha com uma moedinha de um centavo dentro. É a partir deste ponto, ou seja, da esquina com a rua Prudente de Moraes, que o comércio se tornou mais vibrante, se modernizou. Depois que a clínica do Dr. Hilário Maldonado foi transferida para a avenida das Esmeraldas, vieram as reformas e novas lojas enfeitaram o lado esquerdo da rua. No lado direito, década de 1960 em diante, a Pastelaria do China era o “ponto do mata fome”. Quem não comeu o pastel de palmito do China (que todos juravam que tinha bucho de boi moído junto para engrossar o recheio) não sabe o que é bom. Ao lado, era uma loja de venda de LPs e de fita cassete, tocada por três irmãos que, literalmente, dominaram o comércio neste segmento por muito tempo. Sob encomenda, eles copiavam as músicas dos LPs para as fitas cassetes em tempos que isto era proibido. Quem não mandou gravar uma fita com a coletânea dos sucessos preferidos que atire a primeira pedra.
Na esquina com a Nove de Julho, o prédio que preserva a fachada e alguns detalhes internos originais, guarda a memória da primeira Câmara Municipal de Marília. Já há alguns anos, no auditório onde ocorriam as sessões (piso superior) funciona jogo de bilhar. Na parte do piso térreo, a lotérica, que foi dirigida por muito tempo pelo João Presumido, outro personagem que marcou sua trajetória na sociedade mariliense pelas amizades e bondade.
A Associação Comercial manteve sua sede na quadra seguinte, por anos, e atendeu muito bem a comunidade até a mudança para o novo endereço. Muitas decisões importantes relativas ao comércio da cidade foram tomadas em assembleias realizadas no pequeno auditório que ficava no primeiro andar. Em frente, está o 1º Tabelião de Notas e Protestos de Letras e Títulos de Marília, sob a direção de Luiz Carlos Martin Morilhas (o Brasa) desde 1985.
Um pouco mais adiante, a antiga (3ª) sede do Marília Tênis Clube, que já esteve instalado na Sampaio Vidal. Hoje funciona a Coletoria e Inspetoria da Fazenda do Estado de São Paulo.
Além da quadra entre a rua Dom Pedro e Cel. Galdino, havia mais uma, que passava atrás da Praça Saturnino de Brito, chegando até a avenida Sampaio Vidal, esquina onde residiu por anos a família Botino. Este trecho da rua foi suprimido para ampliar a praça, fato que não deu muito certo, porque o número de veículos que circulam e estacionam sobre o calçamento é algo que não tem cabimento, não respeitam o espaço do cidadão. Ou é praça, ou é rua, hoje é bagunça.
Depois disso tudo, só fechando os olhos e tomar uma gelada no Bar Bambu, do Mourão, comendo um sanduíche de pão com queijo e carne, feito na chapa. Afinal, sonhar não custa nada, e já são quase 18 horas, o footing das meninas de saia rodada e plissê está começando. Parabéns, Marília, minha e de todos nós. 85 anos de felicidades.

Ivan Evangelista Jr.
Membro da Comissão de Registros Históricos de Marília
Publicado no Jornal Diário de Marília em 06/04/14

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