segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Ruas dos mirantes, dos aviões e das garças


Radioescutas marilienses no aeroporto
O período de festas natalinas e a chegada do ano novo são também tempo de desacelerar a vida. Mesmo estando no interior paulista, vivemos sob rotinas e atividades que nos fazem constantemente manter um olho no relógio e outro na agenda. Dá a impressão de que nos faltam horas no dia.

Nestes últimos tempos, uma nova agravante contribui para este sentimento. Marília já tem os grandes congestionamentos, os gargalos no trânsito que ocorrem nos horários de picos. Na Vicente Ferreira, acesso para a Tiradentes e para a zona leste, no final da Castro Alves, na Avenida República, sentido bairro-centro, Rua Nove de Julho, Rua São Luiz, entre outras.



Foi numa conversa com amigos sobre o crescimento da cidade e este sentimento de perda de qualidade de vida que me fizeram a pergunta: Você tem alguma sugestão de locais onde seja possível passar alguns bons momentos, fazer umas fotos, admirar o pôr do sol e curtir mais esta cidade? Disse que sim e, apesar de Marília não ser uma cidade plana, é possível fazer bons circuitos de lazer utilizando bicicletas.  

Via Expressa
Foi então que apresentei uma rota de caminhos e pontos de onde se tem boas vistas, da cidade e dos vales. São os “Mirantes”, que apesar de não formalizados turisticamente, são locais muito agradáveis e de fácil acesso. Confiram algumas opções: começo pelo Mirante da Via Expressa, com vista para o imenso vale que se abre à frente, logo após a passagem sobre o viaduto que limita a Av. Sampaio Vidal com a via Expressa. Evite parar na curva, siga adiante mais uns 40 metros, e dali se tem a melhor vista do Vale dos Dinossauros.

Outro local fantástico é no final da Avenida Brigadeiro Eduardo Gomes. Já na estrada de terra, no ponto onde hoje está a central de controle de distribuição da Gás Brasiliano, com duas possibilidades: seguir em frente e apreciar toda a paisagem da Serra de Dirceu, ou virar à direita, tendo acesso a uma bela estrada que nos leva ao conjunto de chácaras e pequenos sítios. Bons ventos, muito verde, visão privilegiada das encostas.

No Jardim Lavínia
Para quem gosta de apreciar os esportes radicais, lá no Jardim Lavínia, nos finais de semana, é o ponto de encontro da turma que pratica o voo livre com parapente, também conhecido como “a rampa do Lavínia”. O local é propriedade privada, mas o dono da terra permite que a moçada entre e desça com os veículos levando os equipamentos. Se for visitar, leve água potável, protetor solar e umas frutas, pois é certo que, se os ventos estiverem favoráveis, vai permanecer por ali umas boas horas.

Outro ponto de encontro de amigos é o terreno ao lado da pista do aeroporto local. Mais precisamente na Rua Antonio Grassi, com acesso pela Av. Brigadeiro Eduardo Gomes. Assim que passar o bosque municipal, entre à direita e siga até o final. Aos domingos, com tempo bom, a partir das 15 horas, a turma dos radioescutas se junta, e leva toda uma parafernália tecnológica para monitorar o movimento de aeronaves no território brasileiro.

Além dos rádios receptores, que permitem acompanhar os diálogos entre os pilotos com os aeroportos de destino, contam também com radares em tempo real e câmeras fotográficas em punho. O desafio é localizar e registrar fotos das aeronaves que passam sobre a rota aérea de Marília. Essa turma é descontraída, receptiva e sempre uma boa oportunidade de conhecer mais sobre estas máquinas voadoras que tanto nos encantam.

Serra de Avencas
Não poderia deixar de constar na lista a Serra de Avencas, este sim um mirante natural com vistas para todo o Vale da “Flor Roxa”, nome da principal fazenda da nossa zona rural e, na minha opinião, um dos locais mais belos do região. Tem área boa de estacionamento de veículos e dá para subir ao topo da serra, sem a necessidade de equipamentos especiais.  Aproveite a vista, o vento que sopra com mais intensidade, e procure registrar a variedade de cantos de pássaros silvestres.

Uma outra dica é a Rua Eugênia Freire Nunes, mais para a zona sul da cidade. Para facilitar a localização geográfica, esta r
ua fica exatamente do outro lado do "Vale do Barbosa", de onde se avistam os condomínios Parque Serra Dourada e Vale do Canaã. Foi a galera do voo livre que me convidou certo dia para registrar alguns saltos e, desde então, descobri mais uma tela natural da cidade. No fundo do vale, se avista a represa da Unimar e, com um pouco de sorte, a tarde poderá nos presentear com algumas nuvens esparsas no céu, transpassadas por raios solares.
E, para completar o circuito, visite o “Ninhal das Garças”. Fica logo atrás do Hospital Universitário, na Rua Emílio Moreti, acesso por asfalto. A partir das 17 horas, uma quantidade incrível de garças brancas toma conta da copa de uma enorme árvore. A paisagem vai se transformando, chegam aos bandos e, antes do pouso, fazem um sobrevoo de reconhecimento pela área.

Todas as dicas acima não exigem maiores esforços físicos, apenas a disposição de desligar-se do que nos consome. Compartilhe! 

Publicado no Jornal Diário de Marília, em 21/12/14 

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Arcoverde, a rua do Correio


O Cardeal Arcoverde
Já comentei que algumas ruas acabam perdendo a identidade e passam a ser mais conhecidas pela referência popular, conquistada ao longo dos anos, o que podemos dizer que foi um apelido que colou. Temos vários exemplos, entre eles: a "rua do bosque", referência à Brigadeiro Gomes, a "rua da Prefeitura", que é a rua Bahia, "a rua da Antarctica", que mesmo com o passar dos anos ainda continua sendo a primeira identidade da Av. Castro Alves, e  a "rua do MAC", referência à Av. Vicente Ferreira.
É um recurso de memória fácil de ser utilizado e que acionamos de imediato quando alguém nos pede uma informação sobre determinado serviço público ou estabelecimento. Fazemos da referência principal o centro da atenção, e transportamos mentalmente o nosso interlocutor até aquele ponto. A partir dele, traçamos o trajeto de acesso ao ponto desejado. Creio que isso é coisa bem brasileira e facilita a comunicação.
Faço esta introdução porque eu mesmo tenho uma grande dificuldade de guardar nomes de ruas, porém, as referências geográficas visuais são para mim um recurso de primeira mão. Quando mais jovem, me aventurei em viagem por conta própria. Acabava de receber o primeiro salário e fazia parte dos projetos uma visita ao amigo Júlio, mariliense que havia se mudado para São Paulo.
E lá fui eu. O destino final era o bairro São João Clímaco, Rua Pelegrino Varane, residência da  família Esteves; o pai, Francisco, trabalhou por anos na Antarctica; dona Olinda, a mãe, foi costureira das melhores, na Rua Coelho Neto, onde hoje está a indústria Marcom. Já na capital me indicaram ir até o Parque Dom Pedro, donde deveria me informar sobre a linha de ônibus que me levaria ao endereço. Andei tudo a pé, era muita novidade, e um misto de euforia com zonzeira me tomou conta. Então, decidi que o famoso prédio do Banespa seria o meu norte, o meu centro geográfico.
Antes de seguir ao Parque Dom Pedro, eu queria conhecer o Sujinho, a boca do lixo, o Filé do Moraes, a Rua Santa Ifigênia, a Av. Ipiranga, esquina com a São João, a Bela Cintra... Até então, tinha visto tudo aquilo nos jornais e nas revistas. Era um sonho que se realizava. Cortava galerias, atravessava avenidas, observava as pessoas naquele ritmo doido, e fui ao Mappin, ahhhh ! o Mappin, eu estava lá e nem acreditava...
Saí do Mappin e busquei com os olhos a torre do Banespa, daí, já sabia qual direção tomar até chegar ao Parque Dom Pedro. Para encurtar a história, chegando ao terminal do parque, passa na minha frente um ônibus prata com as inscrições na lateral: "São João Clímaco" e eu pulei dentro, mais rápido que gato fugido de pega de cachorro de rua. Por sorte, depois de passar pela Estrada das Lágrimas, descobri que o acaso havia conspirado a meu favor e o tal ônibus me levaria até bem próximo do local desejado. Foi o cobrador quem me contou que São João Clímaco era o nome da empresa de transporte público, concessionária de várias linhas na capital. Ufa!
É assim que a Rua Arcoverde, em Marília, é conhecida também como a "Rua do Correio". Caiu no consciente coletivo popular a partir da instalação da sede própria da empresa de Correios e Telégrafos, na esquina com a Sampaio Vidal. Antes, funcionava na Rua 4 de Abril, esquina com a Campos Sales. No livro do historiador Paulo Lara, encontramos boas narrativas sobre o tema.
Destaco entre elas o fato dos Correios, em certo período da história, competirem com a Companhia Paulista de Estrada de Ferro, visto que em todas as estações havia um posto de telégrafo. Na mesma obra, lê-se: "... Mas o serviço telegráfico da hoje Fepasa não mais existe e o dos Correios e Telégrafos se aperfeiçoou bastante,inclusive com o ‘Telegrama Fonado’ há alguns anos introduzido com reais vantagens."  (o livro é de janeiro de 1991)
Antiga sede da biblioteca municipal
O terreno dos Correios era propriedade dos irmãos Casadei, foi desapropriado pelo prefeito João Neves Camargo e passou por boa reforma neste ano de 2014, adaptando-se às normas de acessibilidade e com visual e instalações mais modernas.
O mesmo autor nos relata em outra publicação: "Primeiramente chamou-se ‘1º de Março’. Talvez fosse a data do início do loteamento. Depois se chamou ‘Cel. Siqueira Reis’, o primeiro coletor federal de Marília. Vivo este então, mudaram o nome para Arcoverde em homenagem ao 1º Cardeal brasileiro e da América Latina, nascido em Pesqueiro, Pernambuco, em 1850, e falecido em 1930. Seu nome completo era Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti."
biografia
Wilza Matos, bibliotecária da Câmara Municipal e também membro da Comissão de Registros Históricos, faz importante anotação de que na mesma rua residiu, por anos, o pioneiro Sr. Kyomassa Shibuya , um dos fundadores da empresa Sasazaki, grande admirador e cultivador de orquídeas e de bons amigos.
As placas de identificação ao longo da via variam na forma da escrita: Arco Verde e Arcoverde, sendo esta última a forma correta.
 
Publicado no Jornal Diário de Marília, em 14/12/2014
 

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Rua Dr. Pérsio de Carvalho, médico da família


Esta é mais uma daquelas histórias que a gente "emprenha" de orelha. Conhece o termo?

É um ditado popular caipira, muito utilizado para dizer que alguém ouviu um causo e passou para frente, daí dizer: "sobre este assunto, ele, na certa, emprenhou de orelha e passou adiante". Emprenhar, ficar prenha, diz-se do animal que vai dar cria; por exemplo, a vaca está prenha. Resumindo, ouvi e estou passando pra frente do jeito que me foi passado.

Mas a fonte é boa... veio de contador de história que prezo muito, gente que pisou nesta terra no começo da cidade, que vinha lá da Avenca (distrito de Avencas), no lombo de égua mansa, para fazer compras na rua Cel. Galdino e levar pra mãe. Tudo empacotado com papel de embrulho e amarrado com barbante, acomodado depois nos sacos alvejados, próprios para transportar alimentos, ajeitados sobre a cela do animal, que seguia a passos lentos até a morada.

Junto da lista escrita, a mãe dava o dinheiro, meio que na conta certa do valor, escrevendo logo abaixo: se faltar, depois eu mando o resto; anota, por favor. Para alegrar o garoto, hoje nosso contador de histórias, o dono da venda ajeitava um saquinho com doces e balas que ele ia degustando pelo caminho.


Dr. Persio em foto de formatura da medicina 
Naquele tempo, tinha a Santa Casa, a Gota de Leite, a escola de enfermagem, mas também já existia o médico de família, profissional que visitava regularmente as fazendas e atendia com datas pré-agendadas em locais diferentes. Entre os nomes mencionados pelo nosso contador de histórias está o do Doutor Pérsio de Carvalho, patrono de rua no bairro Vila Nova.

Geralmente, os atendimentos eram feitos na sede das fazendas e depois de consultar e medicar o pessoal das colônias, o doutor saía para a redondeza, em lombo de burro ou de Jippe, dependendo das condições do caminho.

Nosso contador de causos diz assim: "na nossa casa sempre tinha uma tira de linguiça e panceta salgada pendurada sobre o fogão de lenha, sempre tinha um porco na lata; era botar a frigideira na chapa do fogão a lenha e, em dois minutos, a travessa farta estava sobre a mesa. Dr. Pérsio chegava, e passava primeiro pela cozinha, donde já se instrumentava de uma faca e corria tirar uma lasca das peças defumadas, comidas com fatias de pão caseiro".

Dona Isabel, anfitriã da casa, era avisada com antecedência sobre a vinda do médico e se incumbia de avisar a vizinhança. Data marcada, notícia vinha de cavaleiro, ou de caminhão da compra, que fazia a rota campo e cidade. O melhor frango do terreiro já era separado. "Prende, e nos próximos dias só milho e água, pra depurá o sangue, Dr. Pérsio vem aí, faço questão que coma bem em nossa casa", dizia Dona Isabel ao filho.

E assim acontecia. O médico chegava e visitava os doentes, as mulheres que estavam esperando criança, as paridas e seus rebentos, os novos e velhos. Entre causos e contos, choros e risos, a fila andava e as receitas iam sendo anotadas e entregues aos pacientes.Tudo sem muita frescura, na sala de chão batido mesmo. Se tinha comprimidos nos bolsos do terno de linho branco, ou na maletinha, já distribuía ali mesmo e dava as recomendações sobre os períodos de resguardo.

Coisa comum naquela época era o tal de furunco, ou furúnculo, na pronúncia correta. Difícil encontrar menino de sítio que não teve pereba ou bicho de pé. Tinha que esperar o tal de furunco ficar maduro. Das duas, uma: espremia pra tirar o carnegão, ou com um pouco de conversa fiada, aquele tio mais querido ia entretendo na conversa, erguia o short e assim que a bunda ficava à mostra e o furunco aparecia... zap, navalha afiada cortava cirurgicamente a pele superficial, fazendo aquilo tudo explodir pra fora, igual pipoca que estoura na panela.

Dr. Pérsio dava uma olhada no serviço feito pelo tio, pra ver se não tinha infecção, e depois recomendava umas pílulas pra evitar que arruinasse. Não raro, ouvia do consultado que a mistura de fumo com urina havia sido aplicada pra garantir. Isto mesmo, fumo de corda com urina já foi remédio contra infecção, e dos bons segundo a crença popular.

Na Cãmara Municipal, título de cidadão Mariliense
Dr. Pérsio de Carvalho, filho de Breno de Carvalho e Antonia Oliveira, nasceu em 7 de setembro do ano 1909, Laranjal-MG. Chegou em Marília no ano de 1.933, trabalhou na Santa Casa e Gota de Leite, foi professor da disciplina de Moléstias Contagiosas na escola de enfermagem. Foi presidente da Associação Paulista de Medicina, membro ativo da comunidade dos Vicentinos e nas campanhas de combate ao câncer e lepra. Sócio fundador do Yara Clube, do Marília Tênis Clube e do Aeroclube de Marília, faleceu em Marília, em 5 de março de 1.986.    

Ivan Evangelista Jr. é membro da Comissão de Registros Históricos de Marília.

Publicado no Jornal Diário de Marília, edição de 07/12/14

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Rua Oscar Leopoldino da Silva


As visitas na casa de parentes e amigos, nos finais de semana, são um hábito antigo e comum. Seja pela amizade, pelos laços de parentescos ou mesmo pela necessidade implícita de socializar-se com outros grupos, o fato é que o final de semana vai chegando e os planos começam a ser traçados. Destas visitas, principalmente entre as classes mais populares, surgiu o termo "juntar panelas", que nada mais é do que duas ou mais famílias se confraternizarem, tendo como forte apelo a gastronomia.

De um lado, tem aquela vovó, que cozinha maravilhosamente bem e faz frango ensopado especial, do outro, a norinha, que está chegando agora no novo núcleo familiar, e para agradar a futura sogra propõe fazer uma maionese com ervas aromáticas. A cunhada, especialista em arroz soltinho, dá o grito: "O arroz com carne seca é por minha conta". E o cardápio especial vai ganhando temperos.

Tudo desculpa, a gente bem sabe disso. O que todos querem mesmo é estar junto, com muita contação de causos e de piadas, ouvir música e algazarra de criança brincando pela casa, gente esparramada nos sofás e nas redes. Depois vem aquela sobremesa especial, um pirex enorme de gelatina colorida, ou salada de fruta com sorvete, e se tiver aniversário no grupo, bolo, com direito a velinha e parabéns... e o cafezinho.    

Oscar Leopoldino, esquina com Alfeu Cesar
Vida simples. Foi assim em boa parte da minha infância. Meus pais gostavam de receber e de fazer visitas. Dos amigos, lembro da casa da Sra. Maria Lima e do Sr. Ildo, que moravam em um chácara, nas proximidades da Rua Oscar Leopoldino da Silva. Muita fruta no quintal, galinhas caipiras, parreiras de uva, goiaba e cana de fazer garapa. Sempre havia um motivo para se reunirem; às vezes para colher as uvas que estavam no ponto, ou para fazer pamonha e curau, pois o cabelo das espigas já estava começando a secar, fazer doce de abobora cristalizado ou doce de leite.

Na esquina com a Rua Alfeu Cesar Pedrosa, onde até hoje tem o Bar da Curva, havia uma chácara, tocada por uma família de japoneses, que plantava flores. Minha mãe Geni, acompanhada da Dona Maria, comprava lá os copos de leite para enfeitar o altar da igreja Nossa Senhora de Fátima. Aproveitavam a visita e já traziam cravos, margaridas e o tradicional mosquitinho branco, para enfeitar a mesa e a sala da aconchegante casa de madeira.

Voltei na Oscar Leopoldino para fotografar a antiga chácara. O local está cercado e tem placa da prefeitura de "Proibido Jogar Lixo". Mesmo assim, tem muito lixo jogado sob a pequena ponte. A casinha, branca e azul, tem ares de abandonada, mas ainda restam muitas flores espalhadas pelo terreno. As sementes ficaram, mesmo com o passar dos anos e o abandono. A vida renasce e parece insistir em resgatar e contar histórias do passado.



Ladeira na Oscar Leopoldino
Nas imediações, há uma certa concentração de edifícios de pequeno porte, e dependendo do ângulo que se observa a paisagem, há momentos em que as retículas das fachadas nos remetem aos subúrbios paulistanos, com ladeiras e varandas coloridas por lençóis e toalhas que balançam ao vento.

A numeração vai crescendo no sentido da Av. Sampaio Vidal, onde na esquina está o edifício Primavera. Construção portentosa, com apartamentos de 200 metros. Procurando um bom enquadramento para fazer uma das fotos de ilustração deste artigo. Ao fechar o ângulo, me dei conta de que as curvas das fachadas são parecidas com a do Edifício Copam.

Na esquina com a Rua São Leopoldo, há um prédio de construção enigmática, com uma grande lancha na garagem, suspensa por fortes correntes e estrutura de ferro condizente ao peso e tamanho. É o abre alas de toda a paisagem que se esparrama ao fundo, vista ampla da zona sul da cidade, dos condomínios populares, não sem antes passar os olhos pelos verdes vales e os paredões dos Itambés. Na lista de pontos estratégicos para se fazer bons registros urbanos, não resta dúvida de que esta esquina é um deles.

A Rua Oscar Leopoldino da Silva atravessa a Av. Santo Antônio e chega nos limites da antiga Fazenda Bonfim, finalizando na Rua José Rocha. Além das curiosidades aqui mencionadas, a via tem vários barzinhos que, nos finais de tarde, sempre estão cheios. É a turma do pincel, da funilaria, das reformas e das construções, gente que pega no batente pesado e no final da tarde vai discutir as falhas do juiz na arbitragem do jogo de domingo, falar de política e consertar o Brasil, cada um do seu jeito, mas todos ali, juntos.

Sobre o patrono da rua, encontramos as seguintes informações nos escritos do historiador Paulo Corrêa de Lara. "Foi um dos primeiros escreventes do Cartório de Paz e Registro Civil de Marília. Nasceu em Cajuru-SP, em 30 de dezembro de 1886, e faleceu em Marília em 22 de fevereiro de 1957. Teria vindo para a nossa cidade em fins de 1927, colocando-se no Cartório recém instalado. Quando da criação da Comarca, passou para o Cartório de 1º Ofício e Notas, no qual permaneceu até a sua aposentadoria. Por ocasião da Guerra Européia (1914/18), serviu na França como voluntário."
 
Publicado no Diário de Marília, em 30/11/14