segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

A Rua do Meu Senhor do Bonfim

Após passar pelo trâmite na Câmara Municipal, aprovado o projeto, o decreto com a denominação da rua é expedido e assinado pela presidência. O expediente segue para que a confecção das placas sejam providenciadas e, finalmente, instalada nos pontos determinados.
Novamente uma destas placas despertou minha curiosidade por saber a forma correta da grafia e as histórias guardadas em seu traçado. Foi o que a aconteceu com a Rua Arcorverde, onde temos ao longo do seu percurso placas com a grafia Arco Verde, escrito separadamente, o que já foi tema de crônica anterior.
Nas andanças eu encontrei a placa com o nome "Rua Bom Fim", sugerindo que estamos nos remetendo a um bom final. Fazendo uma brincadeira, até caberia a forma acima, uma vez que ela termina na Rua Joaquim de Abreu Sampaio Vidal, bem em frente à "Vila da Boa Vontade", um conjunto de pequenas residências do Hospital Espírita de Marília, que abriga pacientes do sistema de hospital dia.
Mas não, o correto é Bonfim, nome da fazenda de propriedade das famílias Almeida e Nogueira, que hoje abriga o restaurante típico italiano "Mama Mia", conservando boa parte da memória arquitetônica da construção original. E de onde vem esse nome, Bonfim?
Acredito que foi pela devoção, fato comum entre as famílias católicas que davam preferência aos nomes de santos para identificar as propriedades. Inclusive como forma de pedir a proteção divina para os que ali vão habitar e trabalhar. Senhor do Bonfim, segundo pesquisas, é uma figuração de Jesus Cristo, em que é venerado na visão de sua ascensão. Não encontramos nos arquivos da Câmara Municipal o decreto onde consta o nome da rua, talvez por ser uma das mais antigas, mas creio que as minhas suposições aqui expostas não estejam incorretas.
Com o intuito de melhor conhecer a rua, percorri toda sua extensão, desde o início, na Rua Sete de Setembro, até a Joaquim de Abreu Sampaio Vidal. Procurei por registros temporais que me ajudassem na reconstrução de parte desta história, mas confesso que pouco consegui. Encontrei muitas casas para locação, residências com estilos arquitetônicos das décadas de 1960 e 1970, com utilização de elementos vazados (cerâmicas) adornando as fachadas geométricas.
Há ainda muitos terrenos vagos, áreas grandes, algumas protegidas por muros altos e outras que deixam à vista dos transeuntes o seu interior. No sentido crescente da numeração, a partir do cruzamento com a avenida Rio Branco, até a travessa com a Rua Nove de julho, encontramos vários condomínios residenciais que variam na forma de prédios de pequeno porte e conjuntos de quitinetes.
A explicação para estes modelos de construções pode estar no fato de que a cidade, há alguns anos, viveu um período intenso de construção de imóveis de pequeno porte para abrigar os universitários, oriundos de vários Estados brasileiros. Neste período, considerando os cursos ofertados pela Unimar, Unesp e Fundação Eurípides Soares da Rocha, passavam de 18.000 acadêmicos que impactaram positivamente na economia local, inclusive no setor imobiliário e opções de aluguéis de baixo valor.  Investidores e famílias que contavam com recursos e terrenos disponíveis passaram a construir em ritmo acelerado a fim de atender esta demanda que durou por volta de seis anos consecutivos.
Na região da baixada nota-se a presença de residências familiares, com as donas de casa varrendo as calçadas, idosos sentados em varandas e escadas, aproveitando os raios de sol da manhã, gente circulando com sacolas penduradas nos braços e cachorros vira-latas que latem para tudo e para todos que passam. A rua tem um clima que mistura o nostálgico e o melancólico, traduzido nas fachadas sem pinturas novas ou de manutenção, nos jardins sem cuidados e nas placas abundantes que anunciam as locações.
No contraponto desta visão, das imediações da Rua Araraquara, tem-se uma visão bonita dos altos da Igreja Santo Antônio e dos extremos da via. 
Aliás, quem não conhece as famosas fitas coloridas do Senhor do Bonfim, o adereço mais popular da Bahia? No álbum Tropicália/Panis Et Circencis, Caetano Veloso canta o Hino ao Senhor do Bonfim, eternizando a sua paixão pela Bahia e homenageando sua gente.
 
Final da rua encontra a "Vila da Boa Vontade"

Ivan Evangelista Jr, é membro da Comissão de Registros Históricos de Marília
Publicado no Jornal Diário de Marília em 25/01/2015

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Calçadas e ruas que enfeitam a cidade

Marília ainda tem um bom número de casas de madeira, foi assim que tudo começou por aqui. No processo de desmatamento as serrarias já fatiavam as grandes toras e forneciam as tábuas e vigas para erguer as residências dos trabalhadores. Vilas inteiras foram edificadas com madeira de primeira qualidade, tudo cortado no serrote português, ou lavrado no machado mesmo, trabalho bruto, geralmente, feito por portugueses que eram os mestres da carpintaria.
Os lotes eram divididos por cercas de balaustres, tudo ficava à mostra. Não havia esta quantidade e variedade de comércio de frutas e legumes, as “vendas” comercializavam mais os gêneros de primeira necessidade, como o açúcar cristal, o óleo a granel, o arroz e o feijão, a carne seca, a sardinha salgada, o fumo de rolo, e os doces de lata, como a tradicional marmelada.
Nos fundos dos terrenos as famílias plantavam as frutíferas e o complemento da “dispensa”, nome que se dava ao cômodo da casa onde se guardavam os gêneros alimentícios. Canteiros de verduras, de cebola e alho  eram muito comuns. Depois de colhidos e secos, as pessoas sentavam na varanda e, proseando com o vizinho, faziam as tranças e formavam as réstias. As réstias eram penduradas na “estronca”, nome popular da entronca de madeira que sustenta as paredes de tábuas. Era mudar o tempo para chuva que o cheiro se espalhava pela casa toda.
Para enfeitar a frente do lote as donas de casa se incumbiam dos jardins. Cavados os canteiros, eram cercados por cacos de telha ou tijolos,utilizava-se também lascas de madeira ou bambu. Da vizinhança chegavam as mudas de cravos, margaridas, rosinha branca (boa para fazer chá e para desempachar a prisão de ventre) , os gerânios e as rosas vermelhas que variavam no tamanho e nas espécies.   
Resgatei estes lapsos de histórias para entendermos os jardins e o paisagismo que vemos pela cidade nos dias atuais. São mais elaborados, antes de ganharem o solo, passam por estudos e telas de computadores que já projetam diferentes opções. 
Mas há ainda quem prefira projetos mais simples. Na Avenida Euclides da Cunha, esquina com a Rua 24 de Dezembro, o sobrado ganhou duas mudas de Primaveras, plantadas em manilhas de concreto. O improviso ficou tão bom que a ideia pode ser copiada por alguma sorveteria da cidade. O corte das copas e as flores avermelhadas lembram duas casquinhas de sorvete de bola.
Na baixada da mesma Rua 24 de Dezembro, nº 3021, uma casinha de madeira muito aconchegante abriga o Sr. Orlando Macedo e a sua esposa Sra. Conceição. Na frente da casa um charmoso pé de Jasmim Manga, traduz muito bem a simpatia dos seus moradores. De longe se avista o pequeno arbusto em forma de bola e as folhas brilham à luz do sol. Enquanto registrava as fotos conheci o Sr. Orlando, técnico de som aposentado que já trabalhou em importantes empresas de São Paulo, como a Embrasom e na Odil Fono Brasil.
Sr. Orlando e a árvore bolinha
Ele contou que as pessoas param por lá, com frequência, para fazer fotos em frente da árvore bolinha.
Mas há também quem prefira adotar uma praça ou espaço público e fazer ali o seu jardim. Há vários exemplos pela cidade, entre eles, o canteiro que encontramos próximo do Hotel Aquárius, confluência das ruas Thimo Bruno Belluci e Luiz Monteiro. Um dos moradores instalou um enorme sol colorido entre as plantas. Poderia até batizar de “Praça Jardim do Sol”.
Neste caso, além de contar com boa sombra e algumas flores, o jardim serve também como
Praça do sol
cortina de proteção, uma vez que a rodovia passa ao lado e gera muito barulho além de tirar um pouco da privacidade dos moradores.
Na Avenida Santo Antonio, imediações do nº 4.400, uma árvore bem exótica foi plantada na frente do portão social da residência. Parece com o Salgueiro Chorão, porém suas folhas são mais estreitas e a composição da copa é muito harmônica. Com a cor de tinta certa na parede de fundo a planta se encaixou muito bem na paisagem.
Continuando as andanças pelos bairros, encontrei uma curiosidade na Rua Hermes da Fonseca. Um pequeno arbusto que visto de longe lembra uma bailarina em plena atividade, tem leveza, tem estilo e graça. 
Outra opção muita utilizada para decoração é a mistura de padrões ornamentais que ajuda a quebrar a dureza do concreto. A cerâmica da calçada pode ganhar trechos de grama e as paredes do muro podem ser entremeadas com arbustos e grades, criando um jogo de mostra e esconde do jardim interno. 
Uma das senhoras que entrevistei deu sugestão para as empresas e lojas que atuam no ramo de paisagismo e assessórios para jardinagem promoverem concursos regulares de jardins e frentes de casas. Se a moda pegar a cidade poderá ganhar uma série de novos cartões postais, mais verde e mais vida. Olha só que boa sugestão!

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

A casa que guarda a história das lambretas e das motos

Era na Rua Catanduva que residia o seu Manuel Português e também o Sensei (professor de judô) Hajime Kobari, nome muito respeitado no esporte brasileiro. O filho do seu Manuel, do qual não me recordo o nome, era conhecido como “português”, e o sobrinho do Kobari San, Shinji Nishimoto, é conhecido como “chupeta”.
Encontro na Sampaio Vidal
Estes dois jovens tinham lambretas e passavam boa parte do tempo montando e desmontando os motores para “envenenar” as máquinas. Lembro-me que lavavam as peças dentro das tampas laterais dos motores. Colocadas sobre o calçamento com a parte interior virada para cima, serviam como caçamba para deixar as peças de molho na gasolina. Naquele tempo eles eram conhecidos como “os capetas” em razão de andarem sempre com os motores em alta rotação e com os escapamentos encurtados para fazer mais barulho.
Eles participavam de competições e corridas, formavam grupos e viajavam pelas cidades vizinhas, em busca de troféus, ou simplesmente para exibir as máquinas incrementadas. O visual era composto do blusão, o boné de couro, com tapa orelhas, os óculos de proteção e calça rancheira Lee.
Cordeiro e a turma de motoqueiros
Podemos dizer que eles eram os sucessores de uma outra turma, bem mais antiga, que já circulava pelas ruas da cidade, donde participavam o Cordeiro, pai da Vera, do Dr. Marcos e do Nenê Cordeiro e o seu Orlando, da bicicletaria da rua Bahia. Quando acionados os motores destas motocicletas, a combustão gerava um grande estouro, assustando as pessoas e os animais que puxavam as carroças e charretes. Por isso mesmo, já naquela época, os pilotos de motos eram chamados de “infernais”.
E boa parte desta história sobre motocicletas e lambretas, do mundo todo, está guardada aqui em Marília, na Rua Francisco de Oliveira Santos, nº 72, no bairro Bandeirantes. Visitei a residência do Luiz Antônio Campos Peres, colecionador de veículos automotores, e como ele mesmo diz, não tem sangue nas veias, e sim, óleo de motor. Para se ter uma ideia da sua dedicação e paixão, a coleção de máquinas ocupa, além da garagem, todo o espaço externo disponível na residência, restando apenas um pequeno quintal gramado onde mantém algumas frutíferas.
Entre motos e lambretas, numa contagem rápida durante as fotos e registros, arrisco dizer que passam de 70 máquinas de duas rodas, mais 5 automóveis antigos, todos em processo de restauração que ele mesmo executa, e às vezes, buscando serviços de outros profissionais. Foi mecânico por 8 anos na oficina do Alemão, para encontrar as peças que necessita procura nos ferros velhos e desmanches, ou vasculha pela internet.
Luiz e a coleção na garagem
Luiz é colecionador e, por natureza, um irremediável contador de histórias. Imagine as peripécias para conseguir juntar este conjunto todo? É técnico em química e aposentado no ramo de representante de laboratório, viajou muito pelos estados de São Paulo e do Paraná. Conta com emoção que cortou muito barro vermelho com o fusquinha, tempo em que visitava médicos e farmácias para divulgar a linha de produtos.
Foi nestas viagens que descobriu parte destas máquinas, geralmente, esquecidas em cantos e quintais nunca imaginados. Era ouvir a notícia de que em tal lugar poderia haver uma moto antiga encostada e começar a traçar os planos para na próxima oportunidade iniciar mais uma caça ao tesouro.
Na frente da residência ele tem um exemplar de um Ford Truck 1938, raridade que chama a atenção de quem passa pelo bairro. O veículo também tem história. Pertenceu ao Sr. João Toyota, foi mecânico em Marília, estava guardado em um sítio. Entre idas e vindas, propostas e recusas, finalmente a transação aconteceu.
Em meio as máquinas de metal, um destaque: a réplica da primeira motocicleta com motor de combustão interna, inventada pelo alemão Gottlieb Daimler. Ajudado por Wilhelm Maybach, no ano de 1885, instalou um motor a gasolina de um cilindro em modelo que lembra uma espécie de bicicleta de madeira. O alemão contou com o auxílio do filho Paul Daimler, um garoto de 16 anos, que o acompanhava nos testes já que as explosões com uso da gasolina eram fato comum.
Replica da primeira motocicleta
Instigado pela curiosidade Luiz conseguiu cópias do projeto da moto de Daimler. Auxiliado pelo artesão e carpinteiro Sr. Barbosa, e com a sorte de encontrar um motor antigo em condições de recuperação ele montou a réplica. Diz que a moto vai ganhar lugar de honra no museu, hoje, improvisado na residência.
Outra peça que tem orgulho e alegria de possuir é a moto DKW Bloch, ano 1926, origem alemã, sendo que esta exigiu muitos contatos e paciência para conseguir as peças. Ela divide espaço na garagem com o automóvel modelo Chevrolet Wood,ano 1950, feito com armação de madeira, outro Chevrolet Bel Air, americano, ano 1954, uma Harley Davidson, ano 1948, a moto inglesa, marca Ariel NH350, uma BSA 250 e uma  Golden Flash, considerada a moto mais rápida do mundo nos anos de 1950.

Luiz alimenta o desejo de um dia poder mostrar toda a coleção em local mais adequado para receber visitantes, será uma exposição de sonhos e de histórias que o acompanham há muitos anos e que para nossa sorte está guardada aqui em Marília.

Publicado no Jornal Diário de Marília em 11/01/2015

domingo, 4 de janeiro de 2015

Ruas com temas natalinos e bíblicos

Um conjunto de ruas localizadas em dois bairros bem tranquilos da cidade nos remete ao Natal e toda a sua magia. Convidando os leitores a fazer este passeio, e para facilitar a orientação urbana, tomem como referência a Casa de Betânia, das irmãs do Sagrado Coração de Jesus.  
Seguindo pela rua Tenente Antônio João, lateral da Casa de Betânia, sentido norte, chegamos à Vila Altaneira e listamos as seguintes ruas: Belém, Nazaré, Jerusalém,  Betânia, Jericó, Cananéia, Emaús, Calvário e Galileia.
Para completar, temos a Rua Cristo Rei, começando na rotatória da Vicente Ferreira, e lá no final, avistamos o Memorial das Apóstolas do Sagrado Coração.
Nazaré foi a cidade do nascimento da Virgem Maria e também o local onde Jesus passou boa parte de sua infância e por isso se tornou um centro de peregrinação cristã. É uma rua curtinha, porém muito agradável e com residências bem cuidadas. Do último quarteirão, avistamos, lá do outro lado da cidade, o Santuário São Judas Tadeu.   
Depois seguimos para Rua Belém, local onde nasceu Jesus de Nazaré, cidade habitada por uma das mais antigas comunidades cristãs do mundo, e cantada em versos de várias músicas natalinas. No Brasil, a tradução mais comum para Belém é “Casa do Pão”, sendo utilizada para identificar centros assistenciais que servem refeições e acolhem pessoas carentes. Na rua Belém está a escola Emef
“Célio Corradi”, e bem ao lado da mesma encontramos a fonte de água potável “Padre Guy Fortier”.
Galiléia, atual Palestina, é uma região que concentra todas estas cidades bíblicas. Esta rua também me chamou bastante a atenção pela tranquilidade e concentração de residências com fachadas e jardins bem cuidados. Notei ainda um costume comum de tempos mais antigos, que é manter quintais com muitas frutíferas e muitos vasos e plantas nas áreas das casas. Em uma das residências as placas “vende-se frangos e ovos caipiras” e “vende-se gansos”, instalada no portão, indica que é possível encontrar produtos de origem rural bem mais próximo do que imaginamos.
Paralela à Rua Galiléia está a Rua Emaús. Segundo a tradução, significa riacho quente, foi uma cidade antiga localizada próxima de Jerusalém, e segundo as escrituras, foi o local onde Jesus apareceu diante de dois de seus discípulos após a sua ressureição. Já a Rua Cananéia é uma referência aos povos de origem de Canaã, antiga denominação da região correspondente à área do atual Estado de Israel.
A Rua Jericó é muito utilizada pelos marilienses, recebe todo o fluxo de veículos das Ruas José Bonifácio e Salgado Filho. Da esquina com esta última, por não ter prédios residenciais que tampam a visão, temos um bom enquadramento para fotos do centro da cidade, onde se destaca no cenário a cúpula da Matriz de São Bento.  Acima dela, paralela, está  Rua do Calvário.
Em latim, Calvária, em hebraico,Golgota, “lugar da caveira”, ficava perto de Jerusalem local onde o Cristo foi crucificado. Nas pesquisas realizadas encontrei uma passagem que merece registro: “O imperador bizantino Constantino, contruiu a igreja do Santo Sepulcro sobre o que se pensava ser o sepulcro de Jesus, entre 326 e 335, perto do lugar do Calvário. De acordo com a tradição cristã, o Sepulcro de Jesus e a verdadeira cruz, foram descobertos descobertos pela imperatriz Helena de Constantinopla, mãe de Constantino, em 325.
Vista a partir da Rua Jericó
A igreja está hoje dentro das muralhas da cidade antiga de Jerusalém, após a expansão feita por Herodes Agripa, em 41-44, mas o Santo Sepulcro estava provavelmente além das muralhas, na época dos eventos relacionados com a vida de Cristo.

Ao fazer o circuito das ruas aqui mencionadas não prenda os olhares apenas nas linhas longitudinais e fachadas. Com altos e baixos, a região toda favorece boa visão dos bairros que se avizinham e o descobrimento de informações que quase não são registradas no cotidiano. Um exemplo prático é quantidade de áreas verdes com produção de hortaliças que abastecem parte do mercado consumidor local.
Aproveitando as águas que brotam das minas, comuns nas baixadas, como já mencionei em artigos anteriores, são fontes de vida, e de trabalho para muitos cidadãos que ainda preferem o contato com a vida da natureza como forma de ganhar o pão de cada dia.
Pelas lentes da companheira Nikon, quase que inseparável no dia-a-dia, captei imagens que me remeteram à Marília dos anos 70 e 80, onde as hortas eram mais comuns. Ainda não se falava em “orgânicos”, mas a gente sabia a origem dos produtos, dos adubos e dos métodos de controle de pragas.
Nas andanças para a captura dos registros e das informações para a produção do artigo alguns detalhes que despertaram mais a minha atenção: a tranquilidade das pessoas que caminham pelas ruas no sol da manhã, na Rua Galiléia, prolongamento, uma jovem paineira que esparrama a sua vitalidade e anuncia florada para o próximo ano, e não raro, pessoas com enxadas nas mãos, capinando a calçada e a guia, trocando palavras com os vizinhos e fazendo planos de reformar a moradia para o próximo ano.

É Natal, é a vida que renasce dentro de todos nós. Feliz  2015.   
Publicado no Jornal Diário de Marília, em 04/01/2015