sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

A casa que guarda a história das lambretas e das motos

Era na Rua Catanduva que residia o seu Manuel Português e também o Sensei (professor de judô) Hajime Kobari, nome muito respeitado no esporte brasileiro. O filho do seu Manuel, do qual não me recordo o nome, era conhecido como “português”, e o sobrinho do Kobari San, Shinji Nishimoto, é conhecido como “chupeta”.
Encontro na Sampaio Vidal
Estes dois jovens tinham lambretas e passavam boa parte do tempo montando e desmontando os motores para “envenenar” as máquinas. Lembro-me que lavavam as peças dentro das tampas laterais dos motores. Colocadas sobre o calçamento com a parte interior virada para cima, serviam como caçamba para deixar as peças de molho na gasolina. Naquele tempo eles eram conhecidos como “os capetas” em razão de andarem sempre com os motores em alta rotação e com os escapamentos encurtados para fazer mais barulho.
Eles participavam de competições e corridas, formavam grupos e viajavam pelas cidades vizinhas, em busca de troféus, ou simplesmente para exibir as máquinas incrementadas. O visual era composto do blusão, o boné de couro, com tapa orelhas, os óculos de proteção e calça rancheira Lee.
Cordeiro e a turma de motoqueiros
Podemos dizer que eles eram os sucessores de uma outra turma, bem mais antiga, que já circulava pelas ruas da cidade, donde participavam o Cordeiro, pai da Vera, do Dr. Marcos e do Nenê Cordeiro e o seu Orlando, da bicicletaria da rua Bahia. Quando acionados os motores destas motocicletas, a combustão gerava um grande estouro, assustando as pessoas e os animais que puxavam as carroças e charretes. Por isso mesmo, já naquela época, os pilotos de motos eram chamados de “infernais”.
E boa parte desta história sobre motocicletas e lambretas, do mundo todo, está guardada aqui em Marília, na Rua Francisco de Oliveira Santos, nº 72, no bairro Bandeirantes. Visitei a residência do Luiz Antônio Campos Peres, colecionador de veículos automotores, e como ele mesmo diz, não tem sangue nas veias, e sim, óleo de motor. Para se ter uma ideia da sua dedicação e paixão, a coleção de máquinas ocupa, além da garagem, todo o espaço externo disponível na residência, restando apenas um pequeno quintal gramado onde mantém algumas frutíferas.
Entre motos e lambretas, numa contagem rápida durante as fotos e registros, arrisco dizer que passam de 70 máquinas de duas rodas, mais 5 automóveis antigos, todos em processo de restauração que ele mesmo executa, e às vezes, buscando serviços de outros profissionais. Foi mecânico por 8 anos na oficina do Alemão, para encontrar as peças que necessita procura nos ferros velhos e desmanches, ou vasculha pela internet.
Luiz e a coleção na garagem
Luiz é colecionador e, por natureza, um irremediável contador de histórias. Imagine as peripécias para conseguir juntar este conjunto todo? É técnico em química e aposentado no ramo de representante de laboratório, viajou muito pelos estados de São Paulo e do Paraná. Conta com emoção que cortou muito barro vermelho com o fusquinha, tempo em que visitava médicos e farmácias para divulgar a linha de produtos.
Foi nestas viagens que descobriu parte destas máquinas, geralmente, esquecidas em cantos e quintais nunca imaginados. Era ouvir a notícia de que em tal lugar poderia haver uma moto antiga encostada e começar a traçar os planos para na próxima oportunidade iniciar mais uma caça ao tesouro.
Na frente da residência ele tem um exemplar de um Ford Truck 1938, raridade que chama a atenção de quem passa pelo bairro. O veículo também tem história. Pertenceu ao Sr. João Toyota, foi mecânico em Marília, estava guardado em um sítio. Entre idas e vindas, propostas e recusas, finalmente a transação aconteceu.
Em meio as máquinas de metal, um destaque: a réplica da primeira motocicleta com motor de combustão interna, inventada pelo alemão Gottlieb Daimler. Ajudado por Wilhelm Maybach, no ano de 1885, instalou um motor a gasolina de um cilindro em modelo que lembra uma espécie de bicicleta de madeira. O alemão contou com o auxílio do filho Paul Daimler, um garoto de 16 anos, que o acompanhava nos testes já que as explosões com uso da gasolina eram fato comum.
Replica da primeira motocicleta
Instigado pela curiosidade Luiz conseguiu cópias do projeto da moto de Daimler. Auxiliado pelo artesão e carpinteiro Sr. Barbosa, e com a sorte de encontrar um motor antigo em condições de recuperação ele montou a réplica. Diz que a moto vai ganhar lugar de honra no museu, hoje, improvisado na residência.
Outra peça que tem orgulho e alegria de possuir é a moto DKW Bloch, ano 1926, origem alemã, sendo que esta exigiu muitos contatos e paciência para conseguir as peças. Ela divide espaço na garagem com o automóvel modelo Chevrolet Wood,ano 1950, feito com armação de madeira, outro Chevrolet Bel Air, americano, ano 1954, uma Harley Davidson, ano 1948, a moto inglesa, marca Ariel NH350, uma BSA 250 e uma  Golden Flash, considerada a moto mais rápida do mundo nos anos de 1950.

Luiz alimenta o desejo de um dia poder mostrar toda a coleção em local mais adequado para receber visitantes, será uma exposição de sonhos e de histórias que o acompanham há muitos anos e que para nossa sorte está guardada aqui em Marília.

Publicado no Jornal Diário de Marília em 11/01/2015

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