quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Calçadas e ruas que enfeitam a cidade

Marília ainda tem um bom número de casas de madeira, foi assim que tudo começou por aqui. No processo de desmatamento as serrarias já fatiavam as grandes toras e forneciam as tábuas e vigas para erguer as residências dos trabalhadores. Vilas inteiras foram edificadas com madeira de primeira qualidade, tudo cortado no serrote português, ou lavrado no machado mesmo, trabalho bruto, geralmente, feito por portugueses que eram os mestres da carpintaria.
Os lotes eram divididos por cercas de balaustres, tudo ficava à mostra. Não havia esta quantidade e variedade de comércio de frutas e legumes, as “vendas” comercializavam mais os gêneros de primeira necessidade, como o açúcar cristal, o óleo a granel, o arroz e o feijão, a carne seca, a sardinha salgada, o fumo de rolo, e os doces de lata, como a tradicional marmelada.
Nos fundos dos terrenos as famílias plantavam as frutíferas e o complemento da “dispensa”, nome que se dava ao cômodo da casa onde se guardavam os gêneros alimentícios. Canteiros de verduras, de cebola e alho  eram muito comuns. Depois de colhidos e secos, as pessoas sentavam na varanda e, proseando com o vizinho, faziam as tranças e formavam as réstias. As réstias eram penduradas na “estronca”, nome popular da entronca de madeira que sustenta as paredes de tábuas. Era mudar o tempo para chuva que o cheiro se espalhava pela casa toda.
Para enfeitar a frente do lote as donas de casa se incumbiam dos jardins. Cavados os canteiros, eram cercados por cacos de telha ou tijolos,utilizava-se também lascas de madeira ou bambu. Da vizinhança chegavam as mudas de cravos, margaridas, rosinha branca (boa para fazer chá e para desempachar a prisão de ventre) , os gerânios e as rosas vermelhas que variavam no tamanho e nas espécies.   
Resgatei estes lapsos de histórias para entendermos os jardins e o paisagismo que vemos pela cidade nos dias atuais. São mais elaborados, antes de ganharem o solo, passam por estudos e telas de computadores que já projetam diferentes opções. 
Mas há ainda quem prefira projetos mais simples. Na Avenida Euclides da Cunha, esquina com a Rua 24 de Dezembro, o sobrado ganhou duas mudas de Primaveras, plantadas em manilhas de concreto. O improviso ficou tão bom que a ideia pode ser copiada por alguma sorveteria da cidade. O corte das copas e as flores avermelhadas lembram duas casquinhas de sorvete de bola.
Na baixada da mesma Rua 24 de Dezembro, nº 3021, uma casinha de madeira muito aconchegante abriga o Sr. Orlando Macedo e a sua esposa Sra. Conceição. Na frente da casa um charmoso pé de Jasmim Manga, traduz muito bem a simpatia dos seus moradores. De longe se avista o pequeno arbusto em forma de bola e as folhas brilham à luz do sol. Enquanto registrava as fotos conheci o Sr. Orlando, técnico de som aposentado que já trabalhou em importantes empresas de São Paulo, como a Embrasom e na Odil Fono Brasil.
Sr. Orlando e a árvore bolinha
Ele contou que as pessoas param por lá, com frequência, para fazer fotos em frente da árvore bolinha.
Mas há também quem prefira adotar uma praça ou espaço público e fazer ali o seu jardim. Há vários exemplos pela cidade, entre eles, o canteiro que encontramos próximo do Hotel Aquárius, confluência das ruas Thimo Bruno Belluci e Luiz Monteiro. Um dos moradores instalou um enorme sol colorido entre as plantas. Poderia até batizar de “Praça Jardim do Sol”.
Neste caso, além de contar com boa sombra e algumas flores, o jardim serve também como
Praça do sol
cortina de proteção, uma vez que a rodovia passa ao lado e gera muito barulho além de tirar um pouco da privacidade dos moradores.
Na Avenida Santo Antonio, imediações do nº 4.400, uma árvore bem exótica foi plantada na frente do portão social da residência. Parece com o Salgueiro Chorão, porém suas folhas são mais estreitas e a composição da copa é muito harmônica. Com a cor de tinta certa na parede de fundo a planta se encaixou muito bem na paisagem.
Continuando as andanças pelos bairros, encontrei uma curiosidade na Rua Hermes da Fonseca. Um pequeno arbusto que visto de longe lembra uma bailarina em plena atividade, tem leveza, tem estilo e graça. 
Outra opção muita utilizada para decoração é a mistura de padrões ornamentais que ajuda a quebrar a dureza do concreto. A cerâmica da calçada pode ganhar trechos de grama e as paredes do muro podem ser entremeadas com arbustos e grades, criando um jogo de mostra e esconde do jardim interno. 
Uma das senhoras que entrevistei deu sugestão para as empresas e lojas que atuam no ramo de paisagismo e assessórios para jardinagem promoverem concursos regulares de jardins e frentes de casas. Se a moda pegar a cidade poderá ganhar uma série de novos cartões postais, mais verde e mais vida. Olha só que boa sugestão!

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