sábado, 9 de janeiro de 2016

Nos “Lemmytes” da vida


Os extremos sempre me chamaram a atenção, assim como, os seres humanos que fogem das normas consideradas regulares. Explico e dou exemplos.
Tem vários locais aqui em Marília onde encontramos alguns destes casos de pessoas que definitivamente saíram do script. Na rua Olavo Bilac, esquina com Rua Dr. Gelás, tem um barzinho bem simples, estilo “buteco de vila” onde é possível fazer um estudo aprofundado no assunto.
Todos os dias, repito, todos os dias, um velhinho chega mais cedo do que o horário de abertura e fica ali na porta esperando.  Assim que as portas são levantadas, a mesma mesma que ele ocupa há anos é montada no mesmo local da calçada e ali ele bebe sua cerveja ritualisticamente. Tem outro senhor que chega mais tarde e este já prefere a cachaça servida em copo, tá certo que uma dose por vez, mas o ato se repete pelo dia todo.
As roupas, a barba por fazer, a posição corporal e as pernas sempre cruzadas, mais o olhar sempre fugidio e penumbroso  são características marcantes. Se fizéssemos uma foto todos os dias seria possível registrar algumas mudanças, mais precisamente nos personagens ao redor, porque eles são como molduras impregnadas nas paredes do estabelecimento.
Outro personagem é um jovem que já ganhou o apelido de Tarzan porque está sempre quase nu e gosta de utilizar uma camiseta ou um trapo qualquer para esconder as partes baixas. Geralmente fica na esquina da Rua Antônio Prado, próximo ao Tauste, no cruzamento da linha férrea onde pede uma moeda aos que aguardam no semáforo.
Faz tempo que este moço usa os trocados para sustentar o vício do crack. Carrega escondido sob as poucas vestes uma lata de refrigerante amassada que serve de cachimbo para queimar as pedras e aspira o conteúdo com uma ansiedade de fazer dó. Tem olhos claros, tristes e amedrontados, foi consumido pelo vício, mas ao mesmo tempo me chama a atenção pela resistência física. Parece que o corpo “se acostumou” a viver no limite.
Fonte: Folha de São Paulo
Hoje eu li sobre o funeral do Lemmy, a lenda do rock e líder do grupo Motorhead. Diz a matéria que ele sempre foi da pá virada e para ilustrar  sua vida nada convencional mencionaram o bordão: “muito sexo, drogas e rock “n” rol”.
Mesmo assim o cara morreu com 70 anos. O autor nos relata que desde os 30 anos de idade ele bebia uma garrafa de Jack Daniel´s com Coca-Cola todos os dias.  Numa conta rápida  cheguei aos seguintes números : 40 anos bebendo com regularidade, vezes 365 dias, é igual a 14.600 garrafas de uísque e outra quantidade igual de Coca-Cola.
Juntem-se a estes números as drogas que ele ingeriu e vamos ter um exemplar de ser humano que não pode ser simplesmente enterrado, pelo contrário, precisa ser preservado para servir de base de estudos científicos, aliando-se mais o impressionante fato de não ter ficado surdo devido ao volume de suas apresentações musicais. Em um dos seus shows o volume chegou a 130 decibéis e bateu o recorde.
Ironias e brincadeiras à parte o que eu quero de fato ressaltar é que somos seres incríveis, cada um com suas peculiaridades, com suas fortalezas e fraquezas e que a medicina ainda vai descobrir muito sobre nós, sobre o que comemos ou deixamos de comer e sobre o que bebemos.

No caso do guitarrista aqui mencionado penso que talvez seja a música, o rock, que tenha sido o grande antídoto de tanta esbórnia. Será? – que o diga Keith Richards, outra lenda ambulante que insiste em não acreditar em limites.