sábado, 18 de fevereiro de 2017

Do Panorâmio para os vídeos

Há alguns anos eu comprei a máquina fotográfica que tanto desejava, foi uma Nikon F 601, adquirida de um amigo decasségui que precisava retornar ao Japão. Na época o dólar estava 1 x 1 e o valor da passagem era o mesmo da máquina, algo em torno de R$ 1.300,00. Foi uma boa aquisição.
Depois de alguns ensaios urbanos eu decidi explorar as vicinais que estão na região em torno de Marília. Cada final de semana escolhia um trecho diferente e pé na estrada, assim, andei boa parte das vicinais que ligam Marília aos distritos vizinhos e também às cidades localizadas num raio de até 50 km. Visitei o Bairro da Graminha, a Água da Formiga, o Morro Redondo, o bairro de Catiqueis (Catequese) , Avencas, entre outros, e tudo foi inspirado por um outro contador de histórias.

Eram locais sempre mencionados pelo meu saudoso sogro Paulino Munhoz Plaça, criado na “Avenca”, andou muito trecho em lombo de burro e de cavalo pra buscar mantimentos e fazer negócios com a produção da pequena propriedade tocada por ele, seus irmãos e sua mãe.
Das suas contações eu guardei na memória os trechos e locais mais curiosos e fiz uma lista de visitas para conferir de perto tudo que me impressionou pela riqueza de informações. Foi assim que percorri boa parte dos mesmos trechos, inspirado por um homem que sempre foi apaixonado pela terra, materializando suas palavras em imagens coloridas.  


Valtinho Saia
Com a ajuda do Valtinho (Valter Eugênio Saia) consegui um mapa da região que me ajudou na localização dos rios e riachos. As histórias do Seu Paulo sempre passavam pela água, referência comum aos caboclos e sitiantes para dar uma localização, como por exemplo: “fica lá perto da  Água da Cobra”. Mas tem outras, a Água Sumida, o Córrego do Pratinha, o Córrego do Veado, a Água da Coruja, e mais um monte de denominações bem sertanejas, todas oriundas do período de ocupação desta faixa do estado de São Paulo.


A cada nova expedição eu fazia um monte de fotos, depois, eram indexadas no Panorâmio, um sítio disponível na internet onde se compartilhava fotografias pela internet, e o melhor, com a localização exata e comentários. 



Creio que passei de mais de 800 fotos indexadas no Panorâmio, porém, foi desativado, hoje, está substituído pelo Google Maps.As fotos registravam o número de visitas que recebiam e algumas delas realmente extrapolaram as expectativas deste autor.




Foi assim que mais recente eu recebi uma mensagem do prof. Elândio Ferreira que também gosta de pesquisar a nossa história. Trocamos algumas informações e ele me disse que acompanhava as fotos publicadas e aproveitava sempre que possível para organizar novas expedições.
Vez ou outra,enquanto escreve novos roteiros, ele aciona o bate-papo do Face e vamos trocando informações. E neste último vídeo ele realmente me surpreendeu, e por vários motivos: pelo cuidado na pesquisa das  informações, pela edição das imagens e o capricho de utilizar o recurso do P&B para pontuar referências a episódios passados, enfim,  vê-se que o prof. Elândio está se aprimorando na arte da imagem e da pesquisa.Que venham novos projetos.

Assista ao vídeo em:       https://youtu.be/sa40ufopwBc

Ivan Evangelista Jr, é membro da Comissão de Registros Históricos, Chefe de Gabinete da Reitoria do Univem.        

domingo, 5 de fevereiro de 2017

92 anos, e sempre alerta

Ao centro, Oswaldo, neto de Bento de Abreu


O telefone toca e meu amigo Oswaldo Passos de Andrade (Osvaldinho), me faz o convite: “Passa aqui na fazenda Cascata, vamos comemorar os 92 anos do Minhão, lá no terreirão do café, com roda de fogo e tudo mais que pede o bom escotismo”. Que honra ser convidado para as comemorações do aniversário de um dos personagens mais conhecidos e respeitados da história de Marília.
Por volta das 19h30 cheguei à sede da fazenda e já me encantei de ver os portões abertos novamente e todo aquele movimento de pessoas, das crianças correndo soltas pelo terreirão, da mesa de madeira, arrumada com os comes e bebes que os convidados traziam e deixavam ali para a degustação de todos.





Gean Paul Lebeal (Minhão) 
Minhão estava na entrada do estacionamento, acompanhado pelo irmão Mateus e recebendo alguns amigos. Devidamente uniformizado ele parecia ser o mesmo escoteiro inspirador de tantas crianças e jovens de anos passados. Num relance de memória, ao vê-lo, assim vestido, me transportei para os desfiles comemorativos na Sampaio Vidal, onde a passagem dos escoteiros era anunciada com galhardia. O comandante Minhão estava sempre lá, encarava altivo o público, acenava e sorria como a dizer: “Estes são meus garotos e garotas, tenho muito orgulho”.

Acolhido com todo carinho por todos que se aproximavam para tirar uma foto com o ídolo, ele apertava firme as mãos e buscava no fundo de suas memórias o nome da pessoa. Vi ali muitos olhos rasos de lágrimas, muitos mesmos, parece que a máquina do tempo levou o comandante e os comandados para uma viagem de renovação das almas.



Luiz Eduardo Carvalho Leme (Dado) e o ídolo Minhão  
O Dado (Eduardo Leme) foi escoteiro e levou um presente especial para o Minhão, uma goiabada Cascão; ao que consta doce muito apreciado pelo aniversariante. Mas neste reencontro eu percebi também certo mea-culpa; Dado me contou que nos acampamentos, ao anoitecer, esperavam a turma dormir para “buscar” na intendência, às escondidas, o doce e dividir com os amigos. Creio que o aniversariante entendeu o pedido de perdão.
Um apito soou alto e todos são chamados a fazer a roda em torno das pilhas de lenha que estavam organizadas para as fogueiras. O Gustavo (Mestre pioneiro) deu as boas vindas aos amigos e contou um pouco da história de vida do aniversariante. Explicou também sobre o “Fogo de Conselho”, ritual criado por Baden Powell, fundador do movimento escotismo, onde na última noite de acampamento os participantes se reuniam em volta da fogueira para brincar, contar suas tradições e ouvir conselhos dos mais velhos, uma espécie de ritual de passagem.
O movimento escoteiro está em Marília desde 1958 e no mês de agosto do mesmo ano foi realizado primeiro acampamento na Fazenda Flor Roxa. Os fundadores foram o Padre Herman Price e o Irmão Luiz Felipe Cadore, e no ano de 1962, o Minhão, vindo de Minas Gerais para Marília, para lecionar no Colégio Cristo Rei, assume a chefia do grupo escoteiro, posição que ocupou até o ano de 2001 quando passou o comando.

Irmão Mateus fez a prece e a fogueira foi acesa. Renovou os votos da amizade eterna e fez a oração da generosidade no que foi acompanhado por todos que conheciam a prece. Neste momento o céu, já quase apagado, conspirou em favor do evento e os anjos arrumaram as nuvens de tal forma que não seria possível encontrar melhor moldura para o cenário de festa.
Sob a inspiração do fogo ainda tímido o comando da roda foi passado ao chefe Geraldo que abriu a palavra aos presentes. A energia trocada entre o grupo era forte, os depoimentos sobre a importância da passagem do Minhão em suas vidas foram surgindo de forma espontânea, um testemunho coletivo de um tempo que marcou a história de vida de muita gente.

Minhão acompanhou tudo sentado em sua cadeira, entre sorrisos e abraços, fez questão de levantar-se toda vez que alguém se aproximava para pedir uma foto em sua companhia. Ao apertar suas mãos na despedida senti uma energia boa, daquelas que somente as pessoas mais idosas e mais experientes, sabem compartilhar de verdade com a gente quando estão felizes.
Parabéns Minhão, seja sempre feliz.


Ivan Evangelista Jr, é membro da Comissão de Registros Históricos de Marília, fotografo e Chefe de Gabinete da Reitoria do Univem.