sexta-feira, 29 de setembro de 2017

As bandas marciais, mais o antigo time do MAC eram referências da cidade.Nos desfiles em datas comemorativas nos sentávamos na sarjeta da Sampaio Vidal a espera das apresentações. A batida forte e seca do bumbo, seguida do contraponto do surdo, marcava o passo dos atiradores do Tiro de Guerra.Coturnos impecavelmente engraxados, lenço branco no pescoço para os condutores dos pavilhões, farda engomada a ferro, armamentos polidos e cabeças altivas.
Olho na nuca do companheiro da frente e não perca o passo.Antes da partida do pelotão pela Sampaio Vidal o implacável Sargento Raul, o Raulzinho, pegava uma folha de papel e passava pelo rosto dos recrutas. Ai daquele em que o papel enroscava porque a barba não foi bem feita.
As imediações do palanque oficial era o local mais disputado pelas crianças e adultos porque também era o palco das melhores apresentações. Tinha que chegar cedo para pegar lugar na sombra. Os cotovelos e ombros disputavam cada centímetro da calçada. Levantar da guia para fazer xixi, nem pensar, perdia o lugar na certa.
Do começo da avenida onde a concentração ficava em frente ao Correio, chegavam pelo vento os acordes das bandas e fanfarras.
Nas apresentações a máxima "os últimos serão os primeiros" valia mais do que nunca porque era certo da última banda a passar conquistaria maior simpatia e aplausos da multidão.
Eu, ali, espremido com os amigos, ficava esperando a Banda do Senac, regida pelo Maestro Raymond Roger Rainville. Na condução da bateria o amigo Takashi Sonoda, um "sargento" na liderança dos seus comandados que ficavam atentos à mão direita que apontava para cima e determinava as entradas de novos ritmos.
As caixinhas repicavam feito pipoca em panela quente, era como se as batutas tivessem vida própria. Ermelino Flora desfilava com a turma e ao se aproximar do palanque cumprimentava gentilmente a cada um dos que estavam à frente da comissão de honra.
Depois vinha a Banda do Cristo Rei com a cor vermelha (da congregação) se destacando pelo visual dos uniformes. Passo forte, passo firme, marcado pela batida do bumbo que preenchia cada espaço da avenida Sampaio Vidal. Parecia que o bumbo batia dentro do peito, naqueles momentos o coração deixava de ter o seu compasso natural e assumia o ritmo da banda.
Foram os amigos Zarur e João Paulo Evangelista, salvo engano, que nesta mesma banda introduziram um jeito diferente de bater o bumbo. As baquetas ganharam duas longas tiras de couro que permitiam manobras incríveis antes de tocarem a superfície do couro esticado. Rodava na mão direita e marcava a batida, depois fazia algumas piruetas por cima do instrumento e com a mesma mão tocava o lado esquerdo do bumbo alternado em variações, o que era uma apresentação à parte.
Nesta banda a atração especial era feita pelas Liras que sempre nos brindavam com duas músicas em frente ao palanque."Esperem..., olhem lá na frente do Banespa,saiu a Banda da Associação de Ensino de Marília nas cores azul e branca. Olha o Wando Mendes, vestido com seu terno branco de linho e gravata em tom azul claro que acompanhava as cores da banda", ele, sempre ao lado do maestro dando as coordenadas para mais uma apresentação marcante.
Os pistões, os metais em geral eram o destaque na sonorização e na harmonia das melodias, todos muito brilhantes e dourados. O cabelo dos jovens sempre cortados no maior capricho e no "pé quadrado", feito a navalha esmerada, completava-se o conjunto do quepe e ornamento de cabeça com arremate de uma plumagem. ...Coisa de cinema!
E claro que não se posso deixar de comentar sobre as meninas da coreografia e a baliza, geralmente, a menina mais bonita da escola escolhida para representar a equipe. Parece que elas flutuavam entre um salto e outro.
Maquiagem perfeita, cabelo em forma de birote e preso com redinha, sorriso de atriz e olhos que tinham a missão de encantar a multidão.O irrequieto bastão de ornamentação das acrobacias era uma extensão de seus braços, e quando elas o jogavam para cima, bem alto, a gente ficava torcendo para que conseguissem pegar na volta. Quando isto acontecia surgiam os aplausos, muitos aplausos, retribuídos por ela com um delicado aceno de cabeça e o movimento gentil das pernas cruzadas atrás do corpo com muito glamour.
Nossos olhos inquietos corriam cada detalhe da avenida, o colorido das bandeirinhas vermelhas e brancas com o brasão do município ao centro, e as miniatura da bandeira nacional numa demonstração espontânea de exaltação aos valores morais e cívicos.
Os vendedores andavam de uma lado para outro com os papa-vento espetados em talo seco de mamoeiro, conjunto que formava um arco-íris barulhento, mais o cheiro da pipoca caipira, feita na hora, o picolé de groselha, vendido na caixa suja de isopor,porém tinha um sabor de manjar dos deuses ao refrescar o sol quente sobre a cabeça. No final do desfile se sobrasse algum trocado com o pai ou a mãe, comer um cachorro quente na barraca da esquina do edifício Cliper, com direito ao guaraná Antarctica..."num esquece de devolver a garrafa por favor! - Dá para furar a tampinha?"
Mais tarde, já em casa, tampas de panelas de alumínio eram transformadas em pratos de banda, as latas de 5 litros de óleo Zillo ou Senhorinha se tornavam os bumbos, a marmita era a caixinha e as pontas dos cabos de vassoura caipira, cortados sem a mãe ver, se tornavam as baquetas de uma nova banda, a banda dos amigos que se juntavam para falar e viver a fantasia do desfile mágico da manhã. Mas esta é outra história que eu conto depois.
Parabéns Maestro Clairton Basta, parabéns ao instrutor Marcos da Silva e aos brilhantes músicos da BANDA MARCIAL CIDADE DE MARÍLIA. Vocês no enchem de orgulho pela conquista do primeiro lugar no campeonato estadual. Quero vê-los em breve em desfile pelas ruas da cidade, faço a sugestão que seja num sábado, descendo a rua São Luiz e depois seguindo pela Sampaio Vidal até o Paço Municipal. Merecem aplausos, muitos aplausos!
Marília, cidade Símbolo de Amor e Liberdade, Capital do Alimento,e a mais nova Capital da Tecnologia Paulista. Agora, por bmais uma vez,é a cidade que tem a melhor Banda Marcial do Estado de São Paulo.
Orgulho de ser Mariliense.
Ivan Evangelista Jr, membro da Comissão de Registros Históricos de Marília

*Este artigo foi publicado também na edição do dia 01/10/2017 do Jornal da manhã.

Nenhum comentário:

Postar um comentário