segunda-feira, 7 de julho de 2014

Avenida Gonçalves Dias

Foi a florada da Paineira, plantada na rua Maranhão, esquina com a reta final da avenida Gonçalves Dias, a inspiração para escrever sobre a via que homenageia Antonio Gonçalves Dias, poeta brasileiro, nascido em Caxias, no Maranhão, em 1823, e falecido em 1864. Era indianista, identificando e louvando nos seus poemas os costumes e tradições das populações indígenas do Brasil. Entre eles, está ‘Canção do Exílio’, poema que fez parte dos estudos no ensino primário e que muitas vezes era apresentado na forma de jogral com a participação de colegas.
Apreciando a paisagem florida, voltei-me para o prédio que durante muito tempo abrigou os plantões policiais e a antiga cadeia de Marília. Nas entranhas da memória, fui parar no balcão da cantina do Josué, no pátio interno da delegacia, onde ele e suas filhas atendiam e serviam o melhor café da região, sempre com muita simpatia. No corredor, mais adiante, ficava o gabinete do Dr. Lourival Luiz Viana, delegado seccional. O movimento de pessoas que buscavam os despachos era algo impressionante.
Em fevereiro de 1945, a delegacia de polícia de Marília foi elevada à categoria de 2ª classe, sendo criada e instalada a Delegacia Regional, dividindo, neste endereço, espaço com as outras duas delegacias que já atendiam a população.
Na entrada lateral do prédio, havia um banco de madeira onde ficavam as pessoas que aguardavam a vez para fazer o boletim de ocorrência. Numa sala contígua, sempre lotada, guardavam aparelhos de som, brinquedos, eletrodomésticos, os toca-fitas e outros produtos recuperados de furto. No pátio externo, uma quantidade sem fim de bicicletas, algumas inteiras e outras aos pedaços, tudo material de furto. Neste período da história, as “magrelas” tinham chapa, assim como os veículos, o que facilitava a localização dos seus proprietários.
Nos finais de semana, a fila dos parentes dos presos se formava na frente da delegacia, esperando a hora da visita. Nos plantões, lembro-me de alguns nomes de delegados: Dr. Sandoval, Dr. Yoshiaki Suguimoto, Dr. Roberto Tucunduva, Dr. Gastão Monteiro Puga, Dr. Waldemar Cortelini, entre outros. Na porta de entrada principal, ficava o motorista “Nelson do sapato branco”, figura folclórica dos meios policiais e muito conhecido na cidade, sempre atento e batendo papo com os jornalistas que faziam o expediente do plantão policial.
Joaquim é o barbeiro voluntário
Do outro lado da rua, está o Centro Espírita Luz, Fé e Caridade, sendo que o terreno em que se encontra a edificação foi doado por Bento de Abreu Sampaio Vidal, a pedido de um grupo de espíritas, por intermédio do Sr. Alfeu Cesar Pedrosa, do Sr. Paulino da Silva Lavandeira e do Sr. Antonio Manfredini (1928). A fachada do prédio está preservada e a construção conta com amplo salão para conferências, biblioteca e departamento de evangelização, e desde aquela época, até os dias de hoje, a casa mantém o atendimento aos mais necessitados, com o apoio de voluntários para preparar e servir diariamente a sopa, serviços de barbearia, banho e higiene pessoal e troca de roupas, ações fraternas sempre acompanhadas de uma boa acolhida e de orientação espiritual, ou seja, um consolo, uma palavra amiga, uma mão estendida aos que vivem nas ruas.
Contígua ao Centro Espírita, está a sede da 31ª Subsecção de Marília da Ordem dos Advogados do Brasil, fundada em janeiro de 1940, instalada inicialmente no prédio do antigo Fórum, na rua Bahia, passando posteriormente para a sede própria na rua Gonçalves Dias, 440, inaugurado em novembro de 1982.
No mesmo quarteirão, encontra-se o Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento, denominado Tattwa Inteligência, Amor e Vida, entidade que, segundo informações do site institucional, tem o propósito de estudar as forças ocultas da natureza e do homem e promover o despertar das energias criadoras latentes no pensamento humano. A fachada é bonita e, apesar de estar um pouco afastada do alinhamento da calçada e protegida por grades, pode ser observada pelos transeuntes. O prédio recebeu cuidados de manutenção recentes, destacando-se na porta de entrada principal o emblema da instituição. Fato à parte, mas interessante, é saber que o pai do artista Ronnie Von, Sr. José Maria Nogueira, foi presidente da mesma entidade, na cidade de São Paulo.
Outro ponto de encontro dos marilienses, também na mesma quadra, é a Agência de Despachos Policiais Bozano, denominação comercial que surgiu da fusão dos nomes dos seus fundadores, Aristeu Dalaqua Borba e Manoel Manzano, desde janeiro de 1970. O escritório fez tradição ao longo dos anos e, devido ao atendimento diferenciado, boa receptividade e amizades dos seus dirigentes, continua em plena atividade, sendo a visita o pretexto inicial de algum serviço ou informação para, logo em seguida, um cafezinho amigo nas imediações. Dizem as boas línguas da cidade que as melhores pescarias nasceram a partir destas conversas e encontros na agência, hoje conduzida pelo Borba e pelo José Álvaro Abdala Goes (Tuca).
No nº 257 está o belo prédio do Cartório de Registro Civil de Marília, com excelentes instalações e serviços informatizados, sob a direção do sucessor e Oficial Antonio Francisco Parra, sendo o titular inicial o Coronel Rodolpho Negreiros.
A rua Gonçalves Dias começa na rua Floriano Peixoto, com a casa nº 6, sendo que dali para baixo, sentido centro-bairro, é o início da rua Professor Francisco Morato. Neste trecho, é notória a mudança na paisagem urbana e os investimentos que vêm acontecendo ao longo dos anos. Foram construídos dois prédios residenciais (Ed.Viena e Ed. Saint Raphael), aproveitando a tranquilidade e boa localização do bairro. Onde antes havia um enorme bosque, em terreno que faz fundos com a via, já se erguem as primeiras colunas e paredes de futuro prédio residencial de grande porte. Considerando os pontos positivos que contam nos quesitos de valorização urbana e territorial, não restam dúvidas de que em breve se tornará mais uma das áreas nobres da cidade, com a vantagem da proximidade com o centro comercial e um rol privilegiado de bons restaurantes e vida noturna nas imediações.
Bom registrar que ali já foi uma região de chácaras. Lembro-me que nas proximidades havia um horticultor japonês que, além das verduras, vendia ramalhetes de flores “Copo de Leite”, muito utilizada na ornamentação residencial. Pés de jabuticabas, de jambo, bananeiras de fundo de quintal, parreiras de uva e pitangas, ainda denunciam estas lembranças do passado. Placas de identificação ao longo do trajeto identificam a via de duas formas: ora como rua e outras como avenida. Ficamos com a segunda forma.

Ivan Evangelista Jr.
Membro da Comissão de Registros Históricos de Marília
Publicado em 23/03/14 no Jornal Diário de Marília

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