segunda-feira, 25 de julho de 2022

A imensidão que nos consome

 


A imensidão que nos consome

Por conta do aniversário da sogra (Joana 87) fiz imersão de uma semana na chácara. Tinha muita coisa para arrumar, outras para concluir, outras para inventar, enfim, tinha muita coisa para ser feita.

Me organizei de tal modo que pudesse dedicar todo o tempo disponível para a lista dos fazeres. Iniciei pelo chalé que estava sem o deck de entrada. Eu tinha feito uma escada de quebra galho e assim ficou por bom tempo.

Do porão eu resgatei velhas guarnições de portas que encontrei jogadas nas caçambas de restos de construções para fazer o esquadro do piso. Comprei algumas tábuas recicladas de peroba para o assoalho e mão a obra. 



Fim do primeiro dia e o corpo cobrou a conta – muito movimento de agacha e levanta, muito torce aqui e ali, muito se estica e se espicha e as dores musculares brotaram feito água. Será que vai ter segundo dia?

Teve. E volta bater prego, cortar tábua, medir, puxar, empurrar e o tal deck vai tomando forma. – Com proteção lateral ou sem proteção? Afasta o olhar, imagina, muda de posição e faz projeção. Decidido. – Com proteção.


Nada de rádio ou qualquer interferência. Só os sons da natureza, assim como gosto. Conexão. Canto do galo, canto das galinhas, canto de arrepios pela passagem do Gavião ou dos Tucanos, canto dela que botou ovo fresquinho, e claro, cheiro de lenha queimando no fogão. Se estou na roça tem que ter cheiro de lenha queimando, mesmo que não esteja nada cozinhando.

Terra seca, vento seco, temperatura típica do anúncio de agosto. Uma pausa para uma laranja, tirada do pé, assim é melhor do que tudo, as folhas das bananeiras dançando no vento e os gansos em volta. - Trouxe o balde com restos de comida?

Volta para a lida e agora é a vez de organizar o rancho do fogão a lenha, o mesmo que foi parar na capa do Manual Prático do Turismo Rural. Tem área anexa coberta, chão de tijolo espelhado e forno de barro. Melhor de tudo: tudo feito por mim.

Uma bagunça, admito que estava. Além de ser rancho de conversas e de comidas improvisadas é também oficina de fazeres. Pregos, tintas, vernizes, arames e ferramentas, todos estes, se encontram neste local. Imagina tentar por ordem no caos, pois é, vai tempo.


Pronto. Próxima etapa o porão da casa sede. Eita que a briga foi grande. Sou acumulador, sou do tipo que sempre diz “um dia vai servir para alguma coisa, guarda”. O filho mais novo (André) desta vez foi comigo e ajudou bastante. O porão é baixo e tive que trabalhar vergado, imagina só, confesso que o medo de travar no dia seguinte esteve presente. Viva...não travou, sinal que flexitura toda tava fazendo bem, pro corpo e pra alma.

Pendura, organiza, ajeita, passa o rastelo, tira sujeira, junta e queima o que não serve mais, e a coisa foi mudando de aspecto. Fim doa dia, moídos literalmente. Pausa. Chama o compadre (Polaco) que mora na chácara ao lado, chama o vizinho (Neno) que cria mina cabras e vamos por a rosa em dia e lavar a garganta por dentro. O sol caindo no horizonte e o céu ficando avermelhado e a gente ali. A natureza encanta.


Quase tudo arrumado, falta um dia para o aniversário da sogra. Vamos fazer uma mesa para acomodar melhor as pessoas. Observando bem o terreno e a posição do sol nos períodos da manhã e tarde, pronto, decidido o local. A bancada da oficina agora virou mesa, ganhou reforma, ajustes nos pés e os bancos colocados em volta.

A patroa e companheira (Valéria) foi para o chalé dar os retoques finais. Decoração é com ela. Da minha parte resgatei alguns quadros de infância, fotos mais antigas de família, juntei documentos do meu pai e emoldurei e foi tudo para a parede. Falta o diploma de corte e costura da minha mãe que ainda não encontrei por aqui, mas logo estará pendurado. Acho que vou batizar o chalé de “útero”. Entende?

Patroa levou arte de macramê (feito por ela) e deu o toque final na decoração. Tem rádio antigo, tem quadros com memórias afetivas, tem chapéus de lida pendurados na estronca, tem máquina de costura a manivela e tem uma cama de colchão muito bom e duas janelas. Ficou do gosto!

E o dia da festa chegou e a Tubuna ficou encantada, alegre, cheia de risos e encontros de pessoas queridas. No período da tarde os gansos escaparam de onde estavam presos e se misturaram com as pessoas, aí foi alegria total. Adultos e crianças com celulares querendo fazer as melhores fotos.


Cadê as crianças? - Na casinha da árvore, um dos melhores investimentos imobiliários que eu fiz até hoje. Almoçaram lá, café da tarde foi lá, brincadeiras e um lugar pra chamar de seu.  





A noite acabou em pizza, feitas pelo sobrinho e pelo

 filho mais velho (Ivan) e assadas no forno a lenha, o

 mesmo que durante o dia assou pernil e cabeça de

 porco caipira criado pelo vizinho. Fazia tempo, muito

 tempo, que não sentia o verdadeiro gosto da carne de porco original.     




Uma imensidão de fazeres e alegrias que nos consome de tal forma que não é possível mensurar o valor destas horas.  Viva Da. Joana, viva a vida!