sexta-feira, 8 de maio de 2020

Vai um torradinho aí?

Ele já foi estrela de campo de futebol e anunciado aos gritos em meio a galera enlouquecida pelas dribladas e  o quase gol que sempre teima em não acontecer. O vendedor esperto consegue andar pelas arquibancadas pulando em meio aos torcedores e encontrando espaços que só ele vê. Ele têm passe livre na galera e anuncia seu produto com toda poesia; “Olha o torradinho pessoal, vai bem com  a Skol e com o futebol”.
Foto internet
Também pode ser encontrado nas principais vias de acesso da cidade de São Paulo onde os ambulantes carregam baldes com braseiro, e na parte superior uma espécie de tampa mantém o torradinho mais querido do Brasil quentinho. Bonito de ver a embalagem feita de papel em formato de cone,fica difícil não arriscar abrir a janela do carro para compra um, dois ou até mesmo três pacotinhos. Irresistível.
Ganhei do meu filho agrônomo amendoim recém colhido e foi por isso que toda esta memória cultural brasileira veio à tona. Quase todos nós temos alguma lembrança onde o amendoim marcou presença. Alguém aqui já deixou um monte de casca sob a carteira escolar de madeira? Alguém aqui já tomou bronca da professora por fazer barulho na aula quebrando a bage, bem escondidinho e apertando os dedos e as pernas para abafar o som? – Claro que não e se aconteceu algum dia foi por pura implicância dela.

Isso sem dizer das casquinhas que vamos juntando uma a uma até que um vento ou um descuido qualquer faz espalhar tudo pela casa. Já tentou juntar casquinha de amendoim? Cada uma que se tenta pegar parece que se multiplica em mais mil delas e aquilo vai pros cantinhos. Depois quando a gente anda descalço elas aparecem como mágica na sola dos pés.Fica tudo pintadinho de vermelho.


Amendoim lembra roça, que lembra forno de lenha, que lembra chaminé soltando fumaça, que lembra o torradinho, e que depois de chegar em casa despertou na patroa vontade de fazer canjica com amendoim. E foi por conta do torradinho de hoje que me despertou esta rápida lembrança afetiva.


Ainda na infância, meu tio Arlindo fazia paçoca caseira das melhores. Torrava, tirava e soprava as cascas, passava no moedor manual, fazia
aquela pasta oleosa e cheirosa, levava ao fogo com açúcar e mexia com a colher de pau até dar o ponto.
Depois despejava a massa cozida na pia de granito para esfriar mais rápido ou ajeitava numa assadeira de alumínio e ia apertando para ficar bem firme.Depois disso , riscava os quadradinhos e cortava os pedaços. Não sem antes limpar a panela com os dedos e lamber a colher com aquele restinho de doce grudado na ponta.


Tinha outra receita que ele fazia com freqüência. Panela no fogo, açúcar Cristal para derreter com um pingo de limão. Dando aquele ponto de grude ou puxa-puxa acrescentava uma xícara ou pouco mais do torradinho, grãos inteiros, e mexia bastante par misturar bem. Dado o ponto jogava na pia ou sobre pedra fria para cristalizar logo. Estava pronto o pé-de-moleque mais gostoso que já comi na minha vida, e tenta comer escondido e sem fazer barulho. Difícil hein!

Da roça até a nossa mesa é um caminho que merece aplausos aos seus produtores. E bom dizer que a região de Marília responde por boa parte da produção do estado de São Paulo.
Vai um torradinho aí?

Ivan Evangelista Jr, fotografo, articulista, membro da Comissão de Registros Históricos de Marília e incentivador do Turismo Rural Brasileiro. #turismoruralmarilia