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A igreja ainda em construção |
Nasci e cresci convivendo com amigos japoneses e seus
familiares. O bairro Alto Cafezal sempre foi reduto de várias famílias de
origem nipônica, talvez a concentração tenha relação estreita com o fato da
construção do templo religioso Marilia Honganji , localizado na esquina das
ruas 24 de dezembro e rua Taquaritinga.
Neste mesmo templo foi onde passamos inúmeras horas de
brincadeira de infância e ainda a travessura de bater o grande sino da igreja
nos horários mais inesperados pela vizinhança. O sino ficava do lado de fora do
templo, geralmente suas batidas marcavam o horário das preces ou a realização
de rituais de missas no grande salão religioso.
Até a década de 1970 o padre do templo batia o sino todos os
dias às 6 horas da manhã. Parecia que a grande campana estava dentro de casa
tamanha a potência das vibrações. O ritmo começava mais lento e aos poucos se
intensificava até chegar a um repicado, compassado e curto. Mesmo com a
freqüência diária do ritual a vizinhança não se importava porque as batidas
marcavam também o horário de levantar para o trabalho e arrumar as crianças
para ir pra escola.
As festas comemorativas na igreja eram marcadas por músicas
típicas e um cheiro apetitoso de comidas exóticas que se espalhava pela
redondeza durante os preparativos. Tal e qual as quermesses da igreja católica,
as festividades japonesas eram precedidas de muita atividade de mulheres e
homens, a maioria deles, pequenos sitiantes que traziam a família completa para
trabalhar em prol da comunidade.
Numa mesa instalada bem na entrada do salão de festas ficavam
4 ou 5 mais idosos. Penso que eram membros do conselho do templo e passavam o
dia escrevendo em tiras de papel que depois eles penduravam em barbantes
estendidos entre os pilares. Uma vez perguntei o que escreviam e me explicaram
que era o registro dos agradecimentos e nas tiras de papel constava o nome das famílias
doadoras.
Foto: Instituto Nikkeyweb |
No período da noite as famílias chegavam de todos os cantos
da região, se organizavam mesas enormes e eles se acomodavam. O movimento era
tão grande que num raio de 300 metros todas as ruas ficavam lotadas de carros
estacionados. As senhoras se arrumavam trajadas com o kimono e se maquiavam no
melhor estilo nipônico com o rosto coberto por um
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Traje tipico - foto internet |
No pátio uma grande roda sem organizava e as pessoas
dançavam.Ora caminhando no sentido horário, ora no sentido anti-horário, batiam
palmas, faziam gestos e uma série de performances que ilustravam a letra de
cada música. Nas mesas sempre fartas de comida típica os homens bebiam saquê,
cerveja, chá quente, contavam casos e davam risadas escancaradas até o fim do evento
que se prolongava para perto da meia noite.
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Senhora prepara umê para curtido - Feira livre/Marília |
E por que eu me lembrei de tudo isso agora? Porque é tempo
de umê e eu encontrei esta senhora na feira de domingo preparando a iguaria
para comercialização. O umê curtido em sal vai bem com arroz (gorrã), com
sushi, com o sashimi e muitas outras opções.
Nossa feira-livre de domingo ainda conta com algumas
famílias tradicionais japonesas que comercializam comidas típicas para atender
uma clientela cada vez mais diversificada. A feira é um grande apelo turístico
da nossa cidade. Os japoneses ajudaram no desenvolvimento da nossa cidade,
trabalharam nos campos de algodão, de café e de arroz e até hoje a cidade de
Marília é uma das que mais conta com a presença de famílias nipônicas.
otsukaresama deshita !
Ivan Evangelista Jr
É membro da Comissão de Registros Históricos de
Marília