sábado, 25 de fevereiro de 2012

As nanicas que viraram maçãs


A muda da bananeira eu comprei na feira. Deixando a rima de lado, o amigo feirante Shinohara me garantiu que era da espécie Nanica, daquelas bem docinhas depois que amadurecem.
E foi assim que ela ganhou chão no quintal de casa e quantidades generosas de adubo orgânico jogado no pé. Todo resto da pia ia para o canteiro. Talos de beterrabas, cascas de laranja, folhas queimadas dos pés de alface e da
couve, cascas das melancias e dos melões, fizeram a compostagem natural no pequeno espaço do terreno.
No começo, pé ainda tímido, parecia que não ia pra frente, nem com toda a água jogada quase que diariamente. Depois engrossou o talo na parte mais baixa e foi crescendo, até soltar uma folha viçosa e mais um broto, parecia uma bengala feita com folhas enroladas. Abri o sombrite que cobria o caramanchão e dei espaço para subir mais alto, ela agredeceu e soltou novas folhas, compridas e largas; estas substituíram a função do sombrite artificial na proteção dos vasos de orquídeas pendurados.
Certo dia percebi que no pé da bananeira nasceu um filhote, um broto, e segundo os entendidos, era sinal de que a planta mais velha em breve ia dar frutos. Não tardou muito e aquela bola em forma de coração completou a paisagem do quintal. Junto vieram as Arapuás, fazendo a festa com a seiva abundante do miolo. Depois as flores brancas, ainda tímidas, mais uma penca de flores, outra, mais uma abaixo e assim o futuro cacho de bananas começava a se desenhar. As espécies de abelhas visitantes se multiplicaram na mesma proporção das flores e o talo se espichava para baixo feito tromba de elefante. As flores brancas são o prenúncio das primeiras bananinhas. Com o tempo o cacho ganhou forma e massa, agora era esperar o momento certo para a colheita. Alguém disse que era preciso cortar o coração da ponta após um tempo porque senão ele “tira a força” da planta. Usos e costumes populares são como decisões de juízes de tribunais, não se discute,
cumprem-se. Cortei o coração da ponta e parecia que ali havia uma torneira de seiva branca, tamanha foi a quantidade de líquido que escorreu. Deu dó, mas era preciso.
Vieram as chuvas, mais força e vitalidade para a bananeira que agora tem novos filhotes, até que chegou o dia de retirar o cacho que contava com mais de vinte pencas, um peso tamanho que exigiu técnica e ajuda do filho mais novo para trazer até o chão e transportar para a varanda, onde ficaria pendurado para amadurecer. Não foram precisos mais do que três dias para as enormes  bananas ganharem o tom amarelo.
Maduras, apanhei a primeira como quem retirava uma jóia preciosa de um cofre. Frutas produzidas no quintal, plantadas por você mesmo, tem sempre um gosto especial. Fechei os olhos e dei a primeira dentada na banana...maçã. Fui enganado pelo tamanho das bananas, geralmente a banana maçã é menor, ainda que sua concorrente de preferência no paladar do povo tenha a pecha de nanica. Mesmo com o engano da marca de origem não há o que se discutir em relação ao sabor e doçura da fruta. Como diria um velho e querido tio, é uma coisa supimpa.
Levei a penca para fruteira e a nossa cozinha e lá ficou ainda mais bonita, ganhou destaque entre a simetria dos azulejos brancos das paredes e o fundo preto da pia. Uma fruteira bem montada enfeitando o centro da mesa, ou mesmo
no canto da pia, sempre faz a casa mais acolhedora, são como flores, cada qual no seu local certo.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Dr. Pintassilgo em Marília


Quem vai produzir um documentário sobre uma cidade, geralmente, busca reproduzir o espírito que alimenta a comunidade, resgatando seus valores e sua historia. A linha de produção vai depender do fio condutor que o produtor adotar, ou seja, vai retratar os fatos, fazer o roteiro, segundo a sua ótica, segundo aquilo que captou nas entrevistas e contatos, traduzindo tudo i...sto em cenas e textos.
Visito regularmente o site MIGALHAS, fonte de consulta permanente sobre os assuntos da área do Direito, com a vantagem de que é muito sério e, ao mesmo tempo, espirituoso, é atual e pontual. Sou fã.
Hoje, descobri mais uma no site Migalhas. Descobri que o “Dr. Pintassilgo”, intrépido repórter Migalheiro, esteve em nossa cidade e fez um documentário. Não consegui identificar a data do vídeo, mas a referência cronológica está na participação do ilustre Dr. Rigueti, advogado, na época, identificado como Vice Presidente da OAB (2004-2006).
Fiquei feliz por ver que o Dr. Pintassilgo, captou cenas da feira livre de quarta-feira, lá na rua Euclides da Cunha, fazendo uma conexão sobre a presença marcante dos japoneses em nossa história, antes e agora. Mas eles captaram também outros pontos e seguiram os trilhos da historia.
Confiram o vídeo em:
http://www.youtube.com/watch?v=zx4ySNVL6hY&feature=player_embedded
Ivan Evangelista Jr
Membro da Comissão de Registros Historicos de Marília

domingo, 12 de fevereiro de 2012

A busca pelo “Marco Zero” de Marília (parte II)

Pouca gente conhece a Praça Alto Cafezal

Referências apontam para a praça da igreja Santo Antônio

Conforme prometido na edição de domingo passado (5/2), hoje vamos desvendar, finalmente, a localização do Marco Zero da cidade de Marília. Feita a pesquisa de campo, recebidas as contribuições dos amigos e leitores, algumas tentativas bem sucedidas no Google, outras nem tanto, entramos no acervo da biblioteca da Comissão de Registros Históricos de Marília e da Câmara Municipal, para levantar novas informações.
No livro de autoria do saudoso Paulo Corrêa de Lara, “Marília, Sua Terra, Sua Gente”, encontramos a seguinte referência geodésica sobre a localização do município: 49º 56' e 46" de longitude e 22º 13' e 10" de latitude sul. Os apontamentos do autor são fruto de pesquisa em livros e fontes históricas. Como hoje temos a facilidade da Internet e seus recursos tecnológicos, podemos fazer uma interessante experiência, que pode até ser reproduzida nas salas de aulas das nossas escolas.
Abra o Google Earth e localize Marília na tela. Após isto, movimente o cursor sobre a área da cidade e vá observando as anotações que ficam na parte de baixo da foto aérea mostrada, canto esquerdo, até chegar aos indicadores acima. O leitor vai notar que a referência aponta para onde está instalada a antiga Estação da Fepasa. Ou seja, esta primeira referência geodésica indica que o grande “marco” histórico para a época, não por menos, foi a Estação Ferroviária, ponto de partida e chegada do desenvolvimento, ponto de escoamento da produção agrícola da região, local de chegada de novos desbravadores das terras férteis da Alta Paulista, das mercadorias vindas da capital e do Porto de Santos, para abastecer o crescente comércio local, via principal da entrada de imigrantes portugueses, italianos, japoneses e sírio-libaneses.
Cabia também ao sistema ferroviário a comunicação pela telegrafia entre as estações instaladas ao longo da linha e, para quem tem memória, mais adiante na história, era na estação ferroviária que as famílias e comerciantes ligavam para acertar a hora e os ponteiros do relógio. Lembram disso? Salvo engano, o final do telefone era 2211.
Mas, voltando ao livro de Paulo Corrêa de Lara, na página 22 encontramos um dado importante sobre o assunto: “Por essa época (fala-se do ano de 1915), a Cia. Paulista de Estradas de Ferro volvia suas vistas para muito além de Piratininga, até que em 1916 os seus engenheiros cravaram o marco no lugar onde futuramente seria edificada a capital da Alta Paulista.” A fonte de consulta do historiador foi o livro "Marília, Cidade Nova e Bonita", do professor Balthazar de Godoy Moreira, edição de 1936, onde encontramos na página 174: “Seus engenheiros, trânsito em punho, avançam, e no ponto onde hoje se ergue a cidade plantam, em 1916, o marco que haviam de atingir com os seus comboios, doze anos mais tarde.”
O importante é não nos esquecermos que os fatos acima ocorreram na região das terras de Bento de Abreu, no entanto, o patrimônio do Alto Cafezal, fundado por Antônio Pereira da Silva e seu filho José Pereira da Silva, já se encontrava instalado e em pleno desenvolvimento econômico. Portanto, podemos avaliar que o Marco Zero, diante dos fatos, deve estar na região do Alto Cafezal. Mas onde, então?
Encontramos a resposta nos livros aqui mencionados e reproduzimos parte dos textos. “Antônio Pereira da Silva e seu filho José Pereira da Silva, mais persistentes do que aqueles que os precederam, transportaram-se para a região onde Antônio Pereira da Silva foi encarregado de administrar a fazenda Cincinatina, no ano de 1919. Mais tarde, o velho fluminense (Cincinato Braga), tendo conhecimento de terras de primeira qualidade nas cabeceiras do Pombo, tratou de explorá-las e adquiri-las, mas, as terras em apreço haviam sido pouco antes compradas pelo major Elisiário de Camargo Barbosa. Deste, conseguiu Antonio Pereira da Silva uma opção para a venda da propriedade, em razão de cento e cinquenta cruzeiros o alqueire, reservando para si uma gleba de cincoenta e três alqueires, cuja escritura lhe foi outorgada em 1923. Nesta gleba foi que delimitou um patrimônio, dividindo em datas cujas vendas se processaram com rapidez vertiginosa. Surgiram então as primeiras casas de madeiras, improvisadas para darem abrigo aos primeiros moradores que dia e noite, em número avultado, afluíam ao patrimônio. As primeiras ruas foram rasgadas, obedecendo ao trabalhão do engenheiro Francisco Schimidt, retificado posteriormente por Jorge Streit e Leandro Matiazzo”.
Para completar esta preciosa e indicadora informação sobre a região mais caracterizada para ser considerada como Marco Zero da cidade, lemos: “Na colina que se ergue ao poente, onde levantado havia um grande cruzeiro, símbolo da religião dos intrépidos bandeirantes, construíram uma humilde capela na qual foi entronada a imagem de Santo Antonio, padroeiro da nascente povoação.”
Diante dos fatos e registros, podemos sim dizer que o local adequado para a instalação do Marco Zero da cidade, considerando as referências históricas, é na praça em frente a Igreja Matriz de Santo Antônio. O que seria, sem dúvida, uma importante contribuição para o resgate da nossa história e para o turismo da cidade. Fica a sugestão aos senhores vereadores.
Ivan Evangelista Jr
É membro da Comissão de Registros Históricos de Marília

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Uma história, um amigo especial.


Detalhe do interior do restaurante
Talvez tenham conhecido o Alfio Torisi. Um italiano muito simpático que veio parar em Marília por caprichos do destino. Ficou pouco aqui, mas pela simpatia e jeito de ser, fez muitos amigos , sem contar que é um excelente fotógrafo.
Eu, ele e a Wilza Matos fizemos um trabalho legal no dia em comemoração às mulheres. Saímos num 8 de março registrando as mulheres em suas rotinas, terminamos o ensaio dentro da Gota de Leite, registrando tres mulheres que estavam em trabalho de parto e mais outras que tinham dado a luz há poucos instantes.Foi um dia mágico.
Alfio, italiano com alma de brasileiro, voltou para a sua terra e montou um restaurante, que era para ter acontecido em Marília. Chegamos a andar juntos pela cidade para escolher o local mais adequado. Quase foi em frente ao estádio municipal.
Ontem ele me enviou esta mensagem e eu convido os amigos para conhecerem o restaurante do Alfio, la na Itália, em Siracusa.
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(convite do Alfio)...queridos amigos,pra ver as fotos do restaurante "Dionisio"

https://picasaweb.google.com/103436366987616990629/FotosDoRestauranteDioniso
algumas fotos de Siracusa a noite
https://picasaweb.google.com/103436366987616990629/Siracusa
e o barrio onde moro
https://picasaweb.google.com/103436366987616990629/OBarrioOndeMoro#
abs

Alfio

domingo, 5 de fevereiro de 2012

A busca pelo “Marco Zero” de Marília



Documento da USP registra informações do aeroporto 

Local marca o início da instalação de um patrimônio
A pauta da primeira reunião do ano com os membros da Comissão de Registros Históricos de Marília, no dia 19 de janeiro, foi bem interessante. Antecipamos alguns detalhes e providências para a realização da tradicional “Noite dos Pioneiros”, evento que acontece no mês de abril, durante as comemorações do aniversário da cidade. Também fizemos um balanço das realizações e do atendimento da Comissão aos munícipes e visitantes, na orientação de pesquisas sobre assuntos diversos ou sobre os ilustres personagens da nossa história.
Entre um assunto e outro, surgiu na conversa o questionamento sobre a localização do “Marco Zero” de Marília, como aquele que existe bem em frente à Catedral da Sé, em São Paulo, ou seja, o ponto geográfico central da cidade. Geralmente, o Marco é um pilar de concreto aterrado, tendo na parte superior uma placa de metal afixada, na qual estão anotadas as indicações geográficas.
Há alguns anos, numa das reuniões do Contur - Conselho Municipal de Turismo, obtive uma informação não oficial de que o tal Marco estaria bem em frente ao Monumento ao Expedicionário, na Praça Saturnino de Brito. Na época dos fatos, procurei a referência física no local indicado e não encontrei. Em tempos de redes sociais e suas facilidades, coloquei esta semana o assunto no Facebook e provoquei os amigos para ver se conseguia novas contribuições.
A primeira contribuição relevante veio do José Lyrio, que já ocupou o cargo de secretário municipal em administração passada. Diz ele: “Na implantação do novo projeto visual da Praça Saturnino de Brito, a estátua do Soldado Expedicionário ficava de frente para a Rua Coronel Galdino e foi reposicionada para a frente do prédio da Prefeitura Municipal. Na época, constatamos que o Marco Zero ainda se encontrava no local.”
Outra contribuição foi do Luiz Carlos, o amigo Brasa, do 1º Tabelião de Notas e Protesto de Títulos e Letras, localizado na Rua Quatro de Abril, 263. Disse ele: “Estive no local da estátua e não encontrei o Marco, aliás, constatei que até mesmo algumas placas de identificação do monumento foram subtraídas.” Triste constatação do amigo, mas o fato é que muitas placas, de vários monumentos da cidade, por serem confeccionadas em bronze, foram furtadas e vendidas como sucata.
Num outro e-mail, o zootecnista Valtinho Saia, com o objetivo de “pôr mais lenha na fogueira”, deu seu pitaco: “Ouvi dizer que o tal Marco fica lá pelas bandas do aeroporto, na confluência da Av. Brigadeiro Eduardo Gomes com a Rua Antônio Serapilha”. Em seguida, o Edson Joel, da TV Marília Produções, alertou que o assunto da instalação e origem do Patrimônio Alto Cafezal constava dos registros do Engenheiro Jorge Streit, isso lá pelo ano de 1921. Bem lembrado, Joel.
E, assim, foram chegando contribuições, até que o amigo Leonel Nava, que já foi professor de química no Instituto Monsenhor Bicudo, disse que também teve a informação, no passado, de que o “Marco Geodésico de Marília” realmente ficava na Praça Saturnino de Brito. O Léo acabava de me dar uma luz nesta pesquisa. Voltei ao Google e desta vez digitei nova busca, utilizando: “Marco Geodésico de Marília”. Descobri um trabalho científico da USP, no qual encontramos a preciosa informação de que havia um Marco Geodésico no aeroporto “Frank Miloye Milenkovich”. A informação é documentada e está disponível na internet, com foto e mapa do local, constando infelizmente também a anotação “Marco Destruído” (http://sites.poli.usp.br/ptr/ltg//proj/RedeSP/Marilia.htm).
Surgiu, então, um novo questionamento: Marco Zero e Marco Geodésico são a mesma coisa? Desta vez, a consulta foi direcionada ao IBGE e aos professores da USP; as respostas vieram bem esclarecedoras. Um Marco Geodésico pode ser estabelecido em vários pontos da cidade, de uma fazenda, nas estradas, em diversos lugares. Faz-se a medição no local desejado, com um aparelho de GPS ou com o tradicional teodolito, e instala-se ali um Marco, com as referências geodésicas de latitude, longitude e altitude em relação ao nível do mar. Estes dados vão servir para mapeamentos, para divisão de terras e limitação de regiões, para serviços de terraplenagem, ou mesmo como indicadores precisos de localização para orientação de tráfego, como é o caso dos aeroportos e das estações ferroviárias.
Já o Marco Zero é um ponto estabelecido, geralmente por motivos históricos, local onde teve início a instalação de um patrimônio ou de uma cidade. É a referência maior, ponto este que orientou o traçado das primeiras ruas e bairros. Diante dos esclarecimentos e da quantidade de informações que foram levantadas, decidi mergulhar na pesquisa dos livros históricos sobre a nossa cidade, para coletar informações mais consistentes e trazer ao conhecimento dos amigos leitores.
Fiquei encantado com a riqueza das narrativas e entendi porque é tão difícil chegar a uma resposta pronta. Os registros podem ser interpretados de formas diferentes ao longo do tempo, afinal, quem conta um conto aumenta um ponto.
Mas, e aí, onde está então o Marco Zero de Marília? Ah, para saber a resposta o amigo leitor terá que esperar até a publicação da próxima semana. Não perca.
Ivan Evangelista Jr
Membro da Comissão de Registros Históricos de Marília
Publicado no Jornal Diário de Marília, coluna "Raízes", edição de 05/02/2012