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Ao centro, Oswaldo, neto de Bento de Abreu |
O telefone toca e meu amigo Oswaldo Passos de Andrade (Osvaldinho), me faz o convite: “Passa aqui na fazenda Cascata, vamos comemorar os 92 anos do Minhão, lá no terreirão do café, com roda de fogo e tudo mais que pede o bom escotismo”. Que honra ser convidado para as comemorações do aniversário de um dos personagens mais conhecidos e respeitados da história de Marília.
Por volta
das 19h30 cheguei à sede da fazenda e já me encantei de ver os portões abertos
novamente e todo aquele movimento de pessoas, das crianças correndo soltas pelo
terreirão, da mesa de madeira, arrumada com os comes e bebes que os convidados
traziam e deixavam ali para a degustação de todos.
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Gean Paul Lebeal (Minhão) |
Minhão
estava na entrada do estacionamento, acompanhado pelo irmão Mateus e recebendo
alguns amigos. Devidamente uniformizado ele parecia ser o mesmo escoteiro
inspirador de tantas crianças e jovens de anos passados. Num relance de memória,
ao vê-lo, assim vestido, me transportei para os desfiles comemorativos na
Sampaio Vidal, onde a passagem dos escoteiros era anunciada com galhardia. O
comandante Minhão estava sempre lá, encarava altivo o público, acenava e sorria
como a dizer: “Estes são meus garotos e garotas, tenho muito orgulho”.
Acolhido com
todo carinho por todos que se aproximavam para tirar uma foto com o ídolo, ele
apertava firme as mãos e buscava no fundo de suas memórias o nome da pessoa. Vi
ali muitos olhos rasos de lágrimas, muitos mesmos, parece que a máquina do
tempo levou o comandante e os comandados para uma viagem de renovação das
almas.
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Luiz Eduardo Carvalho Leme (Dado) e o ídolo Minhão |
O Dado
(Eduardo Leme) foi escoteiro e levou um presente especial para o Minhão, uma
goiabada Cascão; ao que consta doce muito apreciado pelo aniversariante. Mas
neste reencontro eu percebi também certo mea-culpa; Dado me contou que nos
acampamentos, ao anoitecer, esperavam a turma dormir para “buscar” na
intendência, às escondidas, o doce e dividir com os amigos. Creio que o
aniversariante entendeu o pedido de perdão.
Um apito soou
alto e todos são chamados a fazer a roda em torno das pilhas de lenha que
estavam organizadas para as fogueiras. O Gustavo (Mestre pioneiro) deu as boas
vindas aos amigos e contou um pouco da história de vida do aniversariante.
Explicou também sobre o “Fogo de Conselho”, ritual criado por Baden Powell,
fundador do movimento escotismo, onde na última noite de acampamento os
participantes se reuniam em volta da fogueira para brincar, contar suas
tradições e ouvir conselhos dos mais velhos, uma espécie de ritual de passagem.
O movimento
escoteiro está em Marília desde 1958 e no mês de agosto do mesmo ano foi
realizado primeiro acampamento na Fazenda Flor Roxa. Os fundadores foram o
Padre Herman Price e o Irmão Luiz Felipe Cadore, e no ano de 1962, o Minhão,
vindo de Minas Gerais para Marília, para lecionar no Colégio Cristo Rei, assume
a chefia do grupo escoteiro, posição que ocupou até o ano de 2001 quando passou
o comando.
Irmão Mateus
fez a prece e a fogueira foi acesa. Renovou os votos da amizade eterna e fez a
oração da generosidade no que foi acompanhado por todos que conheciam a prece. Neste
momento o céu, já quase apagado, conspirou em favor do evento e os anjos
arrumaram as nuvens de tal forma que não seria possível encontrar melhor
moldura para o cenário de festa.
Sob a
inspiração do fogo ainda tímido o comando da roda foi passado ao chefe Geraldo
que abriu a palavra aos presentes. A energia trocada entre o grupo era forte,
os depoimentos sobre a importância da passagem do Minhão em suas vidas foram
surgindo de forma espontânea, um testemunho coletivo de um tempo que marcou a
história de vida de muita gente.
Minhão
acompanhou tudo sentado em sua cadeira, entre sorrisos e abraços, fez questão
de levantar-se toda vez que alguém se aproximava para pedir uma foto em sua
companhia. Ao apertar suas mãos na despedida senti uma energia boa, daquelas
que somente as pessoas mais idosas e mais experientes, sabem compartilhar de
verdade com a gente quando estão felizes.
Parabéns
Minhão, seja sempre feliz.
Ivan Evangelista Jr, é membro da
Comissão de Registros Históricos de Marília, fotografo e Chefe de Gabinete da
Reitoria do Univem.
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