Em abril de 2005, a professora, pesquisadora e
historiadora Rosalina Tanuri editou, pela Comissão de Registros Históricos da
Câmara Municipal e da Cidade de Marília, a segunda edição da publicação
"Índios Kaingangs ou Coroados”. Na apresentação da obra, encontramos uma
frase que resume a sua paixão pela profissão que abraçou com tanto amor e
carinho: "...Assim agindo, a Comissão pretende facilitar o trabalho dos
mestres e despertar nos estudantes o interesse pelas coisas que são realmente
nossas. É mais fácil amar o que se conhece."
No curioso e investigativo conteúdo das páginas,
encontramos a informação de que a denominação de Caingangue (já abrasileirado)
se dá ao indivíduo dos Caingangues, grupo indígena de SP, PR, SC e RS, já
integrado na sociedade nacional, cuja língua era outrora considerada como jê, e
que hoje representa uma família própria. São chamados também, em parte, de Coroados,
Camés e Xoclengues. Adj.2g.2. Pertencente
ou relativo aos caingangues.
Estes eram os habitantes que dominavam a margem
direita do Rio do Peixe, atualmente chamado de Alta Paulista. Esta informação consta do relatório, ano de 1905,
elaborado pela Comissão Geográfica e Geológica do Estado, obra que se encontra
disponível na biblioteca da Câmara Municipal, a qual eu recomendo a leitura a
todos aqueles que querem conhecer de fato as nossas origens. Um misto de
romance e aventura, com histórias vivas dos nossos primeiros desbravadores.
No relatório, consta que foi encontrado aldeamento
de Coroados nas proximidades da cabeceira do Pombo, rio que tem suas nascentes
na Rua XV de Novembro, proximidades do Mercadão. O nome de Coroados foi dado
pelos exploradores, ou homens brancos, como eram chamados pela população
indígena, pelo fato de os índios terem as cabeças raspadas no alto, corte de
cabelo parecido com uma coroa de clérigo.
Na missão de desbravar e conquistar terras para a
instalação dos futuros povoados na região, menciona a história que os brancos
foram piores que os bárbaros, tamanha a crueldade nos embates com os índios,
esquartejando corpos e deixando-os expostos em estacas, inclusive crianças e
mulheres. O coordenador de toda esta ação foi o Coronel Francisco Sanches de
Figueiredo, idealizador das "dadas", as comitivas, armadas até os
dentes com a finalidade de expulsar e eliminar os índios do Rio do Peixe.
Covolan explicando os mapas da região |
Tive a alegria de participar, com os amigos da
Comissão e com o pesquisador e professor Antonio Carlos Covolam, de uma
expedição histórica, onde fomos até o ponto de encontro do Rio do Peixe com o
Rio Feio, no bairro da Corredeira e Fazenda da Faca, sede das expedições, sendo
este o local onde o Monsenhor Claro foi alvejado pelas flechas dos Coroados.
Seguimos, literalmente, os passos da história que constam do relatório Hummel.
Foi uma experiência incrível para todos nós. O cinegrafista Eduardo Leme
produziu e dirigiu o filme que é documento histórico, relato desta expedição
que resgatou parte da nossa memória cultural. O filme faz parte do acervo da
Comissão e está à disposição da população.
A Rua Coroados tem o primeiro quarteirão na esquina
com a Avenida Rio Branco, sendo a casa de número 30 a primeira que identifiquei
com numeração residencial. Porém, é a casa 37 que ainda guarda traços
históricos. Casa de madeira, instalada imponente no alto do terreno, com
aquelas janelas tipo venezianas, trabalho artístico, como já não se faz hoje em
dia.
Deste ponto, sentido crescente, cruzamos o antes
temido "Morro do Querosene", bairro histórico. Se, por um lado, o
morro era "quente", é de lá que também Marília ganhou muita gente
boa, como é o meu amigo Duja, o Dujardes, o pintor de paredes, o artista de
teatro de arena, que numa conversa com o prof. Wanderley Martins Mendes, o
Wando, foi incentivado a fazer o concurso do Banco do Estado de São Paulo. Aprovado,
ele tornou-se bancário, um dos caixas mais alegres e receptivos de Marília.
Duja é da terra e do terreiro, sambista sangue bom, amigo do Mingão, e de toda
a comunidade do saudoso Querosene.
Até a esquina com a Rua Paes Leme, a mão de direção
é única, sentido Rio Branco - bairro Alto Cafezal. Depois, segue com mão dupla,
passando pela tradicional Casa dos Parafusos, a Maribox, do Vicentinho, o Super
Mercado Uliam, e a ponte que passa sobre o antigo córrego do Pombo.
Um projeto
antigo previa a construção de uma vicinal sobre o córrego canalizado, ligando a
antiga Rodoviária de Marília, instalada na Rua 24 de Dezembro, até a rodovia do
contorno, visando facilitar o fluxo dos ônibus. Ficou no projeto. A área
ganhou, recentemente, um conjunto de prédios de apartamentos populares que não
está finalizado. Quem sabe com a entrega das novas moradias o projeto da via
seja retomado.
Já nos quarteirões finais, encontramos a Escola de
Educação Infantil Pirlimpimpim, anexa ao Colégio Bezerra de Menezes. A área localizada
na esquina com a Rua Dr. Joaquim de Abreu Sampaio Vidal é reserva verde das
mais belas na cidade, contando com exemplares de Jacarandá Mimoso, Figueira,
Jatobazeiro, e uma grande Seringueira, em cujo tronco imponente e modelado
brincam as crianças, sob a sombra fresca e o canto de pássaros. O colégio construiu um belo parque infantil,
aproveitando todo este contexto lúdico e saudável, com direito à casa na árvore
e lanches em meio à natureza.
Na última quadra, está o Centro Espírita Dr. Bezerra
de Menezes, nº 1.606, e neste mesmo ponto a Rua Coroados se finda, dando início
à Rua José Ferreira da Costa. Passear pela Rua Coroados foi uma experiência
muito boa, registrei vários estilos arquitetônicos de casas, uma espécie de
linha do tempo da nossa história e da nossa gente.
Ivan Evangelista Jr. é membro da Comissão de Registros Históricos de
Marília
Contatos: evangelista@univem.edu.br , publicado no Jornal Diário de Marília, em 31/08/2014