Se
pudéssemos voltar ao passado e participar do planejamento da cidade, um dos
principais requisitos de acessibilidade e mobilidade seria o de que toda via
longitudinal extensa, deveria ter, no mínimo, a mesma configuração da Avenida
Santo Antônio. Seu traçado tem início na Rua Presidente Vargas, e seguia até o
encontro com a Manoel Muller, logo abaixo da rotatória onde está a capela Maria
Mãe de Deus. Porém, com a criação do Jardim Aquárius, a avenida se estendeu até
a Rua Dr. Timo Bruno Beluce e figura entre as mais extensas da cidade.
Com
muitos prédios residenciais instalados nas quadras iniciais, a avenida, que
homenageia o santo padroeiro e os fundadores Antônio Pereira e Pereirinha, tem
como seu maior ícone a Igreja Matriz de Santo Antônio.
Construção
imponente e de fundamental importância para história da cidade, a atual igreja
substituiu a primeira capela erguida pelos pioneiros e fundadores do município,
Antônio Pereira da Silva e seu filho José Pereira da Silva. A inauguração do
santuário se deu em dezembro de 1924. Seguindo os registros históricos, a praça
da igreja de Santo Antônio pode ser considerada o “Marco Zero” da cidade, pois
foi a partir do espigão que surgiram os traçados das primeiras ruas.
Pereira
e Pereirinha foram os responsáveis pela encomenda ao engenheiro Francisco
Schmidt, que trabalhava para a Companhia Agrícola e Pecuária de Campos Novos,
do “Plano Xadrez”, o primeiro plano de loteamento da história da cidade, com
ruas de 12 metros
de largura, quarteirões de 88
metros por 88 metros , divididos em 10 datas, sendo 8 de 22
por 33 metros ,
e 2 de 22 por 44 metros .
Foi reservada uma quadra para a Igreja Santo Antônio, e o loteamento ganhou o
nome de “Alto Cafezal”, em homenagem à exuberância dos cafezais plantados em
áreas próximas desta região.
No
quarteirão 700, ainda está em atividade a antiga "Creche Dona
Nhanhã", instalada em Marília em 1949, por iniciativa de Da. Olívia
Cândida de Almeida, viúva do Cel. Galdino Alfredo de Almeida, em homenagem ao
marido falecido e proprietário da Fazenda Bonfim. No terreno de número 766,
funcionou o 2º Grupo Escolar, e foi adquirido para ampliar as instalações da
creche que passou a denominar-se "Lar da Criança", abrigando apenas
menores do sexo feminino inicialmente. Faço um parêntese aqui para registrar a
benemerência de cidadãos e cidadãs, que marcou a história da cidade até certo
período, com doações e aquisições de áreas para a criação de entidades
assistenciais que perduram até os dias atuais.
O
Grupo Escolar Gabriel Monteiro da Silva é outro marco da avenida e, certamente,
faz parte da história de muitos marilienses que tiveram a oportunidade de
frequentar as aulas em suas dependências. É uma escola organizada, bonita, tem
direção pedagógica competente e também é sede de votação nos pleitos
eleitorais.
Seguindo
no sentido crescente da numeração, encontramos um charmoso conjunto de casas de
madeira no quarteirão 1.500. Muito bem conservadas, são o registro de uma época
em que a as serrarias eram as principais fornecedoras de material de construção
para a criação e instalação de novos bairros. Há modelos que vão dos mais
simples, ou de "pouco acabamento", como eram chamados, até aquelas
residências que têm adornos artísticos, com fachadas recortadas, pontas de
vigas em forma de "peito de pomba" ou "cabeça de cavalo”, e as
emendas de madeira que levam o nome de "mão amiga". Todos estes
detalhes eram discutidos no momento de se elaborar o orçamento da futura
morada.
Não
deixe de observar os Manacás, em plena florada, na residência localizada ao
lado direito, sentido centro-bairro, logo após a esquina com a Rua Dr. Joaquim
de Abreu Sampaio Vidal. Um capricho de jardim.
Na
esquina da avenida com a Rua Benjamin Pereira de Souza, localiza-se o
Departamento de Água e Esgoto de Marília - DAEM, onde estão os serviços de
manutenção e controle da frota de veículos, de atendimento à solicitações de
reparos e novas ligações de água e esgoto. No terreno, dois tanques
subterrâneos de armazenamento de água potável, com capacidade de 4 milhões de litros,
são alimentados pelo "Sistema Peixe".
vista interna do ginásio |
Ao
lado do DAEM, está o prédio da Delegacia Seccional de Polícia, e na baixada,
próximo da escola Baltazar e do antigo CEASA, o vistoso prédio do novo mais
novo ginásio de esportes de Marília.
Mais
um fato curioso sobre a avenida: ao longo da via, são mais de 40 garagens de
intermediação de compra e venda de veículos, sendo que alguns quarteirões
concentram até seis empreendimentos deste segmento. É interessante notar como
um determinado ramo de negócio acaba sendo atraído para uma mesma via e a
transforma numa grande "feira de usados" no meio urbano. Considerando
que cada garagem pode ter de 30 a 50 veículos, em média, temos uma noção do
volume de negócios que movimentam na economia local. E vale comentar sobre a
gíria, própria do ramo, que marca as conversas e negociações entre compradores
e vendedores: "Arma de Fogo" - carro cheio de defeitos, velho;
"Casamento" - carro que encalhou na venda, "Filezinho";
argumento muito utilizado para dizer que o negócio é dos bons; "Carro de
professora", veículo com pouco uso, sugere boa procedência; "Mosca
Branca", aquele que todo mundo quer; "Dar um talento ou
carioca", ajeitar o veículo para venda, polir, cuidar dos detalhes,
"Bem calçado", tem bom conjunto de pneus; e para a frequente
pergunta: quantos quilômetros está o veículo? O vendedor responde - Com quantos
você quer que ele esteja?
É
por estas e por outras que a nossa cidade é um local muito especial para se
viver e passear. Ruas e avenidas guardam histórias e personagens que dão sabor
à vida.
Ivan
Evangelista Jr. é membro da Comissão de Registros Históricos de Marília.
Publicado no Jornal Diário de Marília em 27/07/2014
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