Placa ainda não foi substituída |
Foi a secura do tempo que me inspirou a escrever
sobre esta rua. Nestes dias de inverno, ainda que os ipês brancos e amarelos
estejam enfeitando as ruas, sentimos falta daquele cheiro de chuva batendo no
asfalto, ou mesmo do vento que vem dos vales trazendo aromas enigmáticos e
agradáveis.
Na região central, quando bate uma garoa passageira,
o máximo que sentimos é um cheiro de poeira apagada, que pega forte na
garganta.
Já notaram que até os carros estão rangendo as suas
entranhas? É o acúmulo de poeira, misturado à graxa seca dos amortecedores, dos
guarda-pós e suspensões, mostrando que mesmo as máquinas pesadas sofrem com a
falta de chuva. Sofrem igualmente a grama seca dos jardins e praças,as flores
que desabotoam, num misto de jovialidade e senilidade. Até as laranjas das
feiras estão ressentidas... vistas de longe, são viçosas e coloridas, porém,
quando tocadas, notamos que não estão tão apetitosas assim.
É o ciclo do tempo, sabemos disso, mas de certa
forma não aceitamos, queremos tudo verde, tudo viçoso, brisa fresca na janela
aos primeiros acordes da manhã e ao entardecer.
Embalado por estas divagações, me dei conta de que a nossa cidade já
teve muitas fontes de água, tanto para saciar a sede dos homens como também a
dos animais. Na fonte do Largo do Sapo, eu acompanhava meus pais, pelo menos
duas vezes por semana, para encher os garrafões de vidro com água boa de beber.
Salvo engano, eram quatro bicas, duas mais vazantes e as outras duas mais
minguantes.
Pintura de Juraci Neriz |
Lembro ainda que o pai ficava por conta quando a
gente chegava no local e os carroceiros estavam dando de beber para os animais.
Cansados da lida de transportar pedras para fazer os calçamentos de peti pavê, de carregar lenha para os
fogões e areia fina para construções, ali era o oásis da tropa fadigada .
Encostavam na fonte, soltavam os arreios, desatrelavam as carroças e, com baldes
improvisados, feitos de latas de banha
ou de azeitonas Colosso, despejavam água sobre o lombo das mulas e das éguas.
Os varões das carroças, soltas dos seus "motores",
ficavam apontados para o céu, enquanto os condutores ajeitavam a lata de milho,
ou buscavam nas proximidades uma moita de capim gordura, fresco, como prêmio
aos animais pelo trabalho duro.
As outras fontes que me recordo são: as (2) do
Matarazzo, nas ruas Nelson Spielman e 15 de Novembro, a da indústria Clayton,
onde hoje está a Avenida das Esmeraldas,
a fonte da antiga Circular, e a fonte da Rua Alagoas, sendo esta
exclusiva para os animais. Já me contaram sobre um segundo bebedouro que ficava
na confluência da Sampaio Vidal com a Campos Sales, mas eu não encontrei fotos ou outros registros.
Interessante notar a abundância de água potável que
a cidade dispunha até certo período da história, afinal, estamos assentados sobre uma grande escarpa, tanto que nossa
altitude em relação ao nível do mar é de 680 metros em alguns pontos centrais
da cidade. Podemos dizer que também
temos a benção de estarmos sobre o aquífero Guarani. Na baixada da Rua
Amazonas, está outro exemplo de terreno "minado". Para se construir
na área foi preciso drenar o local e utilizar modernas técnicas de engenharia.
A substituição dos calçamentos de paralelepípedo
(permeável) pelo asfalto, a instalação de mais vias para tráfego de automóveis,
a impermeabilização de grandes áreas
para construções ou estacionamentos, a diminuição acentuada
da quantidade de árvores, tudo isso contribuiu para o desaparecimento
das minas.
A Rua Alagoas é parte de um conjunto de ruas paralelas,
que homenageiam os estados brasileiros. Começa com a Rua Bahia, depois vem com
as ruas Maranhão, Alagoas, Paraná, Paraíba, Pernambuco, Mato Grosso, sendo
estas do lado de baixo da linha férrea. Mas a história nos conta que várias
ruas na cidade já tiveram o nome trocado. É o caso da Rua Nove de Julho, que antes tinha a
denominação de Rua Ceará, fazendo parte da sequência dos estados.
E assim aconteceu também com a Rua Alagoas. Em 28 de
abril de 2011, foi apresentado o Projeto de Lei nº 57/2011, que solicitava a
alteração, sendo aprovada pela Câmara Municipal. A Lei nº 7373, publicada em 16
de dezembro de 2011, alterou a denominação para Rua Paulo Corrêa de Lara,
homenageando o conhecido pioneiro. Dentre as justificativas apresentadas que calçaram
as argumentações e justificativas para as discussões na Câmara, inclui-se todo
o trabalho benemérito do cidadão, como, por exemplo: a participação ativa na
fundação do Hospital Espírita de Marília, da Associação Filantrópica, da Mansão
Ismael, do Educandário Dr. Bezerra de Menezes, do Lar de Meninas Amelie Boudet,
do Instituto Assistencial Espírita de Marília, da Sociedade Luso-Brasileira, da
União dos Treze e da Fundação de Ensino "Eurípides Soares da Rocha".
Paulo Lara e sua esposa (acervo Comissão Registros Históricos) |
Paulo Corrêa de Lara foi membro da Comissão de
Registros Históricos de Marília, autor do livro "Marília, Sua terra, Sua
Gente". Pesquisador, sempre gostou de contribuir para o desenvolvimento da
nossa cidade. A alteração tem o amparo legal na Lei Municipal nº 1629/69, que
permite mudança de denominações de vias públicas que sejam nomes de estados.
É uma rua bem curtinha, temos a Secretaria da
Fazenda e o Posto Fiscal de um lado e o prédio do Banco do Brasil do outro,
onde antes estava instalado o Hotel São Bento. A placa de identificação da rua
ainda não foi substituída. Continua como Rua Alagoas.
Ivan Evangelista Jr, é membro da Comissão de Registros Históricos de Marília. Publicado no Jornal Diário de Marília, em 24/09/2014
vovôs querido
ResponderExcluirLindos....
Luiz André