Desculpem meus amigos, não
consegui resistir mais e tombei.
Por anos eu lhes dei sombra,
frescor, agasalhei pássaros e ninhos em meus galhos e flores muito coloridas.
Por anos enfentei este canto da cidade que para mim sempre foi muito especial,
pois aqui, pelo que me contaram, foram terras de Bento de Abreu e foi ele quem
cedeu espaço para a instalação do tratamento das águas da Cascata, para matar a
nossa sede de beber e para o nosso jardim.Se vocês notarem bem eu tombei para o
lado da santa, sim, a Santa Isabel que me fez boa companhia durante todos estes
anos.
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Igreja Santa Isabel ao fundo |
Sim, ela perene, eu passageira,
disto eu já sabia, porque todos nós somos aqui passageiros. Esperei virar a
década para tombar e assim o fiz em homenagem ao Jatobá, meu vizinho que mora
do outro lado da praça. Já fomos em maior número por aqui, temos boas histórias
para contar e sei que ele será guardião das memórias.
Não me lembro ao certo qual foi a
mão generosa que me plantou neste solo, porém neste momento em que me ajoelho
na calçada da praça eu estendo meus galhos em direção a capela em sinal de
agradecimento pela generosidade anônima. Não fico triste por partir, pelo
contrário, volto ao plano universal com o sentimento do dever cumprido.
Quero também que transmitam meus
agradecimentos pela companhia daquele senhor que todo dia se deitava debaixo da
minha sombra. Tivemos bons diálogos;ele falando a língua dos homens e eu
falando a língua das árvores, tudo na mais perfeita conexão.
Ouvi dele relatos que me
impressionaram muito, ouvi também confidências de casais de namorados e de
muita gente que aproveitou a minha sombra para fazer suas orações, pedindo pela
saúde de amigos que estavam em tratamento na Santa Casa,preces por familiares e
por eles próprios. Em todos estes momentos eu e Ele, o Deus que habita em nós, ouviu silenciosamente suas súplicas e as conduzimos aos céus.
Você não sabia disso? Nós árvores
somos encantadas e temos o poder de falar com a natureza. Tanto é verdade que
eu tive a honra de tombar com a força do vento que trouxe a chuva abençoada,
chuva que lavou minhas folhas, meus galhos e o meu já frágil tronco.
Daqui a pouco eu me tornarei lenha e, assim
como a Fênix, eu terei o meu renascimento espiritual completando o ciclo da
minha existência neste plano.
Adeus Praça Maria Isabel, adeus
fonte de água, adeus Marília. Daqui do alto da Rua Nove de Julho e da Vicente Ferreira,
uma ponta da antiga Fazenda Cincinatina, eu me despeço em grande estilo e levo
comigo uma das mais belas vistas desta cidade que tanto amamos.
Por Ivan
Evangelista Jr, membro da Comissão de Registros Históricos e fotógrafo
Que bela homenagem. Com certeza cumpriu com maestria seu dever.
ResponderExcluirObrigado.
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