Está localizada no bairro Alto Cafezal, região da
antiga rodoviária intermunicipal de Marília, com início na Av. Sampaio Vidal e término
na rua Santa Cecília. É uma região que se desenvolveu bem e acredito que o
principal motivo seja pelo fato de estar próxima, no passado, de centros
produtivos e geradores de empregos, como por exemplo o Matarazzo, a Antarctica,
a Fiação Macul, o Zillo, entre outros. Isso garantia um bom salário aos
trabalhadores e o consequente investimento em construção de moradias de melhor
padrão.
Antes
de escrever este artigo, tive a curiosidade de percorrer a rua em toda a sua
extensão e constatei que, pelo menos, umas 25 casas de madeira ainda enfeitam
os quarteirões. Mas há muito mais para se ver, como por exemplo, no quarteirão
800, os blocos de cimento, frisados, para dar maior aderência para as rodas das
carroças e para os animais não escorregarem, que foram utilizados para calçar a
rua. Vale lembrar que a famosa chácara São Carlos ficava bem no final da via.
A
rua Catanduva já foi bem comercial e os pequenos comércios instalados atendiam
aos moradores da região e de bairros vizinhos, com o detalhe de que contava com
várias famílias de japoneses. Conferi que o antigo prédio do empório Líder, da
família Tokumo, ainda está por lá, porém com as portas fechadas. Era uma
alegria fazer compras neste local, sempre muito dinâmico. Lembro que o gerente
tinha o costume de manter a caneta sempre atrás da orelha direita, de onde
passava a mão e conferia em voz alta a lista de compras que seriam entregues
nas residências e sítios.
Logo
no início da rua, ainda encontramos registros arquitetônicos da antiga Fiação
de Seda Macul, onde trabalhou a senhora Maria de Lourdes Vicentini Jorente, que
aos 17 anos já tinha a responsabilidade da gerência de produção. Logo na
esquina (década de 70), funcionava o posto Cerejeira, hoje fechado, mas mantém
a placa com o nome do estabelecimento, também administrado por família de
japoneses.
No
quarteirão onde hoje estão instalados o Sindicato dos Comerciários e o
Sindicato Rural, havia duas oficinas, a dos Marques, família de portugueses, e
a dos Ferracini, família de italianos. Eram oficinas tipo faz de tudo, de
fundição mecânica a reparos em maquinários agrícolas e veículos. Do Sr. Sérgio
e do Sr. Mário Ferracini, ainda temos em casa uma mariquinha para coador de
café, feita em alumínio fundido. Dos Marques, um dos filhos montou oficina no
mesmo bairro e produz equipamentos para suporte logístico. Havia ainda o Sr.
Domingos Vani, hoje morador na rua José de Anchieta, proprietário da oficina de
tornearia.
Alguns
leitores que tenham melhor referência da região vão se lembrar da tradicional Casa
de Tecidos São Jorge, propriedade da família Ayoube (Michel e Fauzer). Dona
Floriza, esposa do seu Michel, era avó de um amigo de infância (Jorge) e vez ou
outra nos brindava com uma assadeira de quibe assado que tinha acabado de tirar
do forno. Nos sentávamos à sombra de uma enorme mangueira que ficava nos fundos
do terreno para saborear a iguaria. Este é outro detalhe curioso da época: o
comércio geralmente era na frente do terreno, a casa da família fazia fundos
com a loja e ainda sobrava área de quintal para plantar frutíferas e
hortaliças.
Os
Vicentinos homens, entre eles o Sr. Quito (do Bar do Quito) e o Sr. Tenório
Dantas, pai do meu querido amigo médico Dr. Dantas, eram os encarregados de
atender a parte social. Visitavam as famílias carentes que procuravam auxílio
na igreja, quase sempre em busca de alimentos ou donativos em dinheiro para fazer
uma comprinha, ou pagar a conta de água ou luz, que vivia atrasada. Dona Flora
se derretia toda ao ouvir o desfiar das histórias tristes de vida, já o Sr.
Quito não, era mais firme. Quase sempre passava um sermão pela falta de
organização ou limpeza na casa visitada, ou, se fosse o caso, orientava a mãe e
dava um "puxão de orelhas", carinhoso, sobre a importância do
controle de natalidade para evitar o aumento das despesas. Importante registrar
que todos sempre foram bem atendidos, como são até hoje, um trabalho social
relevante da comunidade com a igreja.
De
Garça a Lucélia, Sr. José Tenório Dantas era o responsável pela organização
Vicentina e foi sua esposa, dona Isaura Dantas, quem nos atendeu pelo telefone
e nos contou com alegria sobre este trabalho, ajudando a recuperar os detalhes
sobre as vestimentas das mulheres
Para
encerrar a pesquisa, passei pelas instalações do antigo Ginásio Industrial
"Antonio Devisate", onde hoje estão o Ceprom e a Secretaria de
Governo Municipal. A escola teve sua importância no passado, contribuindo para a
formação de profissionais nas áreas de marcenaria, mecânica e desenho
industrial. Foi nesta visita que conversei com o amigo Jorente, oportunidade em
que fiquei sabendo que ali também funcionou uma fiação de seda, com a
participação e investimento do imigrante Jorge Kawasaki. A vocação continua e hoje
a escola oferece cursos profissionalizantes em parceria com o SENAI, nas áreas
de gastronomia e serviços gerais, e está passando por reformas para melhor
adequar o atendimento aos alunos.
Ivan Evangelista Jr. é membro da Comissão de
Registros Históricos de Marília
Publicado no Jornal Diário de Marília em 02/02/2014
contato:
evangelista@univem.edu.br
Ivan aquela região também lembra um pouco de minha adolescência. Apesar de não ter morado na rua Catanduva, eu morei na Santo Antonio próximo do número 1000, na Lima e Costa próximo ao Segundo Grupo e na rua São Carlos a uma quadra da St. Antonio. É uma região que ainda guarda muito de suas origens, boa de se morar, perto de tudo (em Marília o que é longe?). Parabéns pela "reportagem".
ResponderExcluirGracias amigo;
ResponderExcluirIvan, que belas fotos. Sempre que posso, passo pela rua Catanduva, desde a av Sampaio Vidal até a Coroados. É uma paz a qualquer hora do dia. Parabéns!
ResponderExcluirSr. Ivan, bela iniciativa a sua! Moro nessa rua desde meus 4 anos de idade, hoje tenho 26! Claro, não vivenciei 1/10 do que é narrado, mas certos vestígios fizeram parte da minha infância! Tem sido uma viagem para mim ler suas postagens, navegando pela nostalgia que me traz o passado da cidade que tanto amo, imaginando a vida de meus pais, tios e avós que foram escritas todas por essas ruas...
ResponderExcluirBelo e rico relato, Amigo Ivan.
ResponderExcluirBelo e rico relato, Amigo Ivan.
ResponderExcluirBelo e rico relato, Amigo Ivan.
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