segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Arcoverde, a rua do Correio


O Cardeal Arcoverde
Já comentei que algumas ruas acabam perdendo a identidade e passam a ser mais conhecidas pela referência popular, conquistada ao longo dos anos, o que podemos dizer que foi um apelido que colou. Temos vários exemplos, entre eles: a "rua do bosque", referência à Brigadeiro Gomes, a "rua da Prefeitura", que é a rua Bahia, "a rua da Antarctica", que mesmo com o passar dos anos ainda continua sendo a primeira identidade da Av. Castro Alves, e  a "rua do MAC", referência à Av. Vicente Ferreira.
É um recurso de memória fácil de ser utilizado e que acionamos de imediato quando alguém nos pede uma informação sobre determinado serviço público ou estabelecimento. Fazemos da referência principal o centro da atenção, e transportamos mentalmente o nosso interlocutor até aquele ponto. A partir dele, traçamos o trajeto de acesso ao ponto desejado. Creio que isso é coisa bem brasileira e facilita a comunicação.
Faço esta introdução porque eu mesmo tenho uma grande dificuldade de guardar nomes de ruas, porém, as referências geográficas visuais são para mim um recurso de primeira mão. Quando mais jovem, me aventurei em viagem por conta própria. Acabava de receber o primeiro salário e fazia parte dos projetos uma visita ao amigo Júlio, mariliense que havia se mudado para São Paulo.
E lá fui eu. O destino final era o bairro São João Clímaco, Rua Pelegrino Varane, residência da  família Esteves; o pai, Francisco, trabalhou por anos na Antarctica; dona Olinda, a mãe, foi costureira das melhores, na Rua Coelho Neto, onde hoje está a indústria Marcom. Já na capital me indicaram ir até o Parque Dom Pedro, donde deveria me informar sobre a linha de ônibus que me levaria ao endereço. Andei tudo a pé, era muita novidade, e um misto de euforia com zonzeira me tomou conta. Então, decidi que o famoso prédio do Banespa seria o meu norte, o meu centro geográfico.
Antes de seguir ao Parque Dom Pedro, eu queria conhecer o Sujinho, a boca do lixo, o Filé do Moraes, a Rua Santa Ifigênia, a Av. Ipiranga, esquina com a São João, a Bela Cintra... Até então, tinha visto tudo aquilo nos jornais e nas revistas. Era um sonho que se realizava. Cortava galerias, atravessava avenidas, observava as pessoas naquele ritmo doido, e fui ao Mappin, ahhhh ! o Mappin, eu estava lá e nem acreditava...
Saí do Mappin e busquei com os olhos a torre do Banespa, daí, já sabia qual direção tomar até chegar ao Parque Dom Pedro. Para encurtar a história, chegando ao terminal do parque, passa na minha frente um ônibus prata com as inscrições na lateral: "São João Clímaco" e eu pulei dentro, mais rápido que gato fugido de pega de cachorro de rua. Por sorte, depois de passar pela Estrada das Lágrimas, descobri que o acaso havia conspirado a meu favor e o tal ônibus me levaria até bem próximo do local desejado. Foi o cobrador quem me contou que São João Clímaco era o nome da empresa de transporte público, concessionária de várias linhas na capital. Ufa!
É assim que a Rua Arcoverde, em Marília, é conhecida também como a "Rua do Correio". Caiu no consciente coletivo popular a partir da instalação da sede própria da empresa de Correios e Telégrafos, na esquina com a Sampaio Vidal. Antes, funcionava na Rua 4 de Abril, esquina com a Campos Sales. No livro do historiador Paulo Lara, encontramos boas narrativas sobre o tema.
Destaco entre elas o fato dos Correios, em certo período da história, competirem com a Companhia Paulista de Estrada de Ferro, visto que em todas as estações havia um posto de telégrafo. Na mesma obra, lê-se: "... Mas o serviço telegráfico da hoje Fepasa não mais existe e o dos Correios e Telégrafos se aperfeiçoou bastante,inclusive com o ‘Telegrama Fonado’ há alguns anos introduzido com reais vantagens."  (o livro é de janeiro de 1991)
Antiga sede da biblioteca municipal
O terreno dos Correios era propriedade dos irmãos Casadei, foi desapropriado pelo prefeito João Neves Camargo e passou por boa reforma neste ano de 2014, adaptando-se às normas de acessibilidade e com visual e instalações mais modernas.
O mesmo autor nos relata em outra publicação: "Primeiramente chamou-se ‘1º de Março’. Talvez fosse a data do início do loteamento. Depois se chamou ‘Cel. Siqueira Reis’, o primeiro coletor federal de Marília. Vivo este então, mudaram o nome para Arcoverde em homenagem ao 1º Cardeal brasileiro e da América Latina, nascido em Pesqueiro, Pernambuco, em 1850, e falecido em 1930. Seu nome completo era Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti."
biografia
Wilza Matos, bibliotecária da Câmara Municipal e também membro da Comissão de Registros Históricos, faz importante anotação de que na mesma rua residiu, por anos, o pioneiro Sr. Kyomassa Shibuya , um dos fundadores da empresa Sasazaki, grande admirador e cultivador de orquídeas e de bons amigos.
As placas de identificação ao longo da via variam na forma da escrita: Arco Verde e Arcoverde, sendo esta última a forma correta.
 
Publicado no Jornal Diário de Marília, em 14/12/2014
 

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