As visitas na
casa de parentes e amigos, nos finais de semana, são um hábito antigo e comum.
Seja pela amizade, pelos laços de parentescos ou mesmo pela necessidade
implícita de socializar-se com outros grupos, o fato é que o final de semana
vai chegando e os planos começam a ser traçados. Destas visitas, principalmente
entre as classes mais populares, surgiu o termo "juntar panelas", que
nada mais é do que duas ou mais famílias se confraternizarem, tendo como forte
apelo a gastronomia.
De um lado, tem
aquela vovó, que cozinha maravilhosamente bem e faz frango ensopado especial,
do outro, a norinha, que está chegando agora no novo núcleo familiar, e para
agradar a futura sogra propõe fazer uma maionese com ervas aromáticas. A
cunhada, especialista em arroz soltinho, dá o grito: "O arroz com carne
seca é por minha conta". E o cardápio especial vai ganhando temperos.
Tudo desculpa, a
gente bem sabe disso. O que todos querem mesmo é estar junto, com muita
contação de causos e de piadas, ouvir música e algazarra de criança brincando
pela casa, gente esparramada nos sofás e nas redes. Depois vem aquela sobremesa
especial, um pirex enorme de gelatina colorida, ou salada de fruta com sorvete,
e se tiver aniversário no grupo, bolo, com direito a velinha e parabéns... e o
cafezinho.
Oscar Leopoldino, esquina com Alfeu Cesar |
Vida simples. Foi
assim em boa parte da minha infância. Meus pais gostavam de receber e de fazer
visitas. Dos amigos, lembro da casa da Sra. Maria Lima e do Sr. Ildo, que moravam
em um chácara, nas proximidades da Rua Oscar Leopoldino da Silva. Muita fruta
no quintal, galinhas caipiras, parreiras de uva, goiaba e cana de fazer garapa.
Sempre havia um motivo para se reunirem; às vezes para colher as uvas que
estavam no ponto, ou para fazer pamonha e curau, pois o cabelo das espigas já
estava começando a secar, fazer doce de abobora cristalizado ou doce de leite.
Na esquina com a
Rua Alfeu Cesar Pedrosa, onde até hoje tem o Bar da Curva, havia uma chácara,
tocada por uma família de japoneses, que plantava flores. Minha mãe Geni,
acompanhada da Dona Maria, comprava lá os copos de leite para enfeitar o altar
da igreja Nossa Senhora de Fátima. Aproveitavam a visita e já traziam cravos,
margaridas e o tradicional mosquitinho branco, para enfeitar a mesa e a sala da
aconchegante casa de madeira.
Voltei na Oscar
Leopoldino para fotografar a antiga chácara. O local está cercado e tem placa
da prefeitura de "Proibido Jogar Lixo". Mesmo assim, tem muito lixo
jogado sob a pequena ponte. A casinha, branca e azul, tem ares de abandonada,
mas ainda restam muitas flores espalhadas pelo terreno. As sementes ficaram,
mesmo com o passar dos anos e o abandono. A vida renasce e parece insistir em
resgatar e contar histórias do passado.
Ladeira na Oscar Leopoldino |
Nas imediações,
há uma certa concentração de edifícios de pequeno porte, e dependendo do ângulo
que se observa a paisagem, há momentos em que as retículas das fachadas nos
remetem aos subúrbios paulistanos, com ladeiras e varandas coloridas por
lençóis e toalhas que balançam ao vento.
A numeração vai
crescendo no sentido da Av. Sampaio Vidal, onde na esquina está o edifício
Primavera. Construção portentosa, com apartamentos de 200 metros. Procurando um
bom enquadramento para fazer uma das fotos de ilustração deste artigo. Ao
fechar o ângulo, me dei conta de que as curvas das fachadas são parecidas com a
do Edifício Copam.
Na esquina com a
Rua São Leopoldo, há um prédio de construção enigmática, com uma grande lancha
na garagem, suspensa por fortes correntes e estrutura de ferro condizente ao
peso e tamanho. É o abre alas de toda a paisagem que se esparrama ao fundo,
vista ampla da zona sul da cidade, dos condomínios populares, não sem antes
passar os olhos pelos verdes vales e os paredões dos Itambés. Na lista de
pontos estratégicos para se fazer bons registros urbanos, não resta dúvida de que
esta esquina é um deles.
A Rua Oscar
Leopoldino da Silva atravessa a Av. Santo Antônio e chega nos limites da antiga
Fazenda Bonfim, finalizando na Rua José Rocha. Além das curiosidades aqui
mencionadas, a via tem vários barzinhos que, nos finais de tarde, sempre estão
cheios. É a turma do pincel, da funilaria, das reformas e das construções,
gente que pega no batente pesado e no final da tarde vai discutir as falhas do
juiz na arbitragem do jogo de domingo, falar de política e consertar o Brasil,
cada um do seu jeito, mas todos ali, juntos.
Sobre o patrono
da rua, encontramos as seguintes informações nos escritos do historiador Paulo
Corrêa de Lara. "Foi um dos primeiros escreventes do Cartório de Paz e
Registro Civil de Marília. Nasceu em Cajuru-SP, em 30 de dezembro de 1886, e
faleceu em Marília em 22 de fevereiro de 1957. Teria vindo para a nossa cidade
em fins de 1927, colocando-se no Cartório recém instalado. Quando da criação da
Comarca, passou para o Cartório de 1º Ofício e Notas, no qual permaneceu até a
sua aposentadoria. Por ocasião da Guerra Européia (1914/18), serviu na França
como voluntário."
Publicado no Diário de Marília, em 30/11/14
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