Os extremos sempre me chamaram a atenção, assim como, os
seres humanos que fogem das normas consideradas regulares. Explico e dou
exemplos.
Tem vários locais aqui em Marília onde encontramos alguns
destes casos de pessoas que definitivamente saíram do script. Na rua Olavo
Bilac, esquina com Rua Dr. Gelás, tem um barzinho bem simples, estilo “buteco
de vila” onde é possível fazer um estudo aprofundado no assunto.
Todos os dias, repito, todos os dias, um velhinho chega mais
cedo do que o horário de abertura e fica ali na porta esperando. Assim que as portas são levantadas, a mesma mesma
que ele ocupa há anos é montada no mesmo local da calçada e ali ele bebe sua
cerveja ritualisticamente. Tem outro senhor que chega mais tarde e este já
prefere a cachaça servida em copo, tá certo que uma dose por vez, mas o ato se
repete pelo dia todo.
As roupas, a barba por fazer, a posição corporal e as pernas
sempre cruzadas, mais o olhar sempre fugidio e penumbroso são características marcantes. Se fizéssemos uma
foto todos os dias seria possível registrar algumas mudanças, mais precisamente
nos personagens ao redor, porque eles são como molduras impregnadas nas paredes
do estabelecimento.
Outro personagem é um jovem que já ganhou o apelido de Tarzan
porque está sempre quase nu e gosta de utilizar uma camiseta ou um trapo
qualquer para esconder as partes baixas. Geralmente fica na esquina da Rua Antônio
Prado, próximo ao Tauste, no cruzamento da linha férrea onde pede uma moeda aos
que aguardam no semáforo.
Faz tempo que este moço usa os trocados para sustentar o
vício do crack. Carrega escondido sob as poucas vestes uma lata de refrigerante
amassada que serve de cachimbo para queimar as pedras e aspira o conteúdo com
uma ansiedade de fazer dó. Tem olhos claros, tristes e amedrontados, foi
consumido pelo vício, mas ao mesmo tempo me chama a atenção pela resistência física.
Parece que o corpo “se acostumou” a viver no limite.
Fonte: Folha de São Paulo |
Hoje eu li sobre o funeral do Lemmy, a lenda do rock e líder
do grupo Motorhead. Diz a matéria que ele sempre foi da pá virada e para
ilustrar sua vida nada convencional
mencionaram o bordão: “muito sexo, drogas e rock “n” rol”.
Mesmo assim o cara morreu com 70 anos. O autor nos relata
que desde os 30 anos de idade ele bebia uma garrafa de Jack Daniel´s com
Coca-Cola todos os dias. Numa conta
rápida cheguei aos seguintes números :
40 anos bebendo com regularidade, vezes 365 dias, é igual a 14.600 garrafas de uísque
e outra quantidade igual de Coca-Cola.
Juntem-se a estes números as drogas que ele ingeriu e vamos ter
um exemplar de ser humano que não pode ser simplesmente enterrado, pelo
contrário, precisa ser preservado para servir de base de estudos científicos,
aliando-se mais o impressionante fato de não ter ficado surdo devido ao volume de
suas apresentações musicais. Em um dos seus shows o volume chegou a 130
decibéis e bateu o recorde.
Ironias e brincadeiras à parte o que eu quero de fato ressaltar
é que somos seres incríveis, cada um com suas peculiaridades, com suas
fortalezas e fraquezas e que a medicina ainda vai descobrir muito sobre nós,
sobre o que comemos ou deixamos de comer e sobre o que bebemos.
No caso do guitarrista aqui mencionado penso que talvez seja
a música, o rock, que tenha sido o grande antídoto de tanta esbórnia. Será? –
que o diga Keith Richards, outra lenda ambulante que insiste em não acreditar
em limites.
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