O
movimento de tratores e máquinas de
terraplenagem sob o viaduto da rua Paraná chamou a atenção de quem passou por
ali nos últimos dias. A curiosidade popular arriscava vários palpites sobre as
obras, entre eles, a de que um novo trecho faria a ligação entre as ruas
Paraíba e Mato Grosso.
A
construção do viaduto transformou o que era o fundão de vários terrenos em
fachada. Temos a partir deste ponto uma bela vista da cidade, destacando a
torre da basílica de São Bento e o recorte de alguns prédios localizados no
centro comercial. O contraste desta agradável visão, com touceiras de capim-gordura
e braquiarão, cria um certo desconforto visual.
Na
visita ao local conheci a senhora Sonia Porto. Estava debruçada sob o parapeito
da ponte, observava as obras logo abaixo. Quando me viu de máquina fotográfica
em punho e caderno de anotações, disparou:
- "
O senhor é da política?"
Entendido
o questionamento, respondi que não, disse que estava ali para saber das novas e
para a produção de uma matéria para o jornal. Pessoa dada, simpática, dona
Sonia antecipou-se em dizer que serão construídos dois predinhos de
apartamentos e que a obra chegou em boa hora:
- "Vai
valorizar a região e evitar que as pessoas joguem lixo nas imediações".
Percebi
a crítica e dei corda na conversa:
- "Olha,
o que tem de gente que passa aqui e joga lixo, não é brincadeira não. Falta de
educação e cidadania. Esquecem que lixo acumulado é criadouro de dengue",
completou sabiamente.
Rua Matias de Albuquerque |
A
personagem mora na rua Mato Grosso, esquina com a rua Matias de Albuquerque. Fui
visitar a casa e a surpresa ficou por conta da ação social que realiza. Entre
gatos e cachorros, Sonia cuida de mais 50 animais, a maioria recolhida nas ruas
da cidade e outros que foram deixados no portão. Ela também adotou alguns que
foram jogados por cima do muro de sua casa na calada da noite.
Em
1991 deixou São Caetano do Sul e se mudou para Marília, onde passou a morar com
o pai. Queria mais qualidade de vida. Desde criança tem esta paixão por animais.
É cuidadora por vocação e amor, divide o pouco espaço da residência, e o tempo
de trabalho, na lida e cuidados com cada um dos bichinhos.
Dona Sonia e Baby Jhon |
Enquanto
falava comigo pegou no colo dois cachorros. Um filhotinho e outro mais velho,
um poodle, branco, tem o nome de Baby John.
- "O
senhor acredita que eu tenho um diário, onde escrevo a história de cada um
deles? Anoto tudo; as datas e histórico das adoções, as visitas ao veterinário,
os medicamentos ministrados...olha, daria um livro bem legal".
A
casa tem muro de cerâmica vazada. Uma das peças está quebrada e permite que os
animais vejam o movimento da rua. O buraco foi batizado de "guarita do
Nerso", um vira-lata, muito simpático, que passa boa parte do dia com a
cabeça pra fora. O cachorro tem só 3 patas, foi recolhido por ela
na região do
aeroporto depois de passar muita fome e sede. O animal está feliz da vida,
ganhou casa, ganhou trato, e ganhou patente de vigilante do abrigo.
"Nerso da Guarita" |
Do
outro lado da rua Mato Grosso, a vizinha, Neusa Maria Martins, é moradora no
trecho desde os 6 anos de idade. Há 30 é costureira, atende clientela local e
gente que vem de longe em busca das suas habilidades artísticas. Já fez muita
roupa de casamento de dar inveja em atelier de alta costura. Passa o dia na
oficina improvisada na garagem da residência, seu espaço. Dá mostras que ama o
bairro de paixão e quer ver tudo mais bonito, sempre vigilante com o meio
ambiente.
Terreno da antiga "bica do burrinho" |
Ela,
dona Sonia e outros moradores têm um sonho. Gostariam que o terreno de esquina,
que já teve o apelido de "Bica do Burrinho", fosse cercado com
alambrado pela Prefeitura e instalado um portão. Os moradores querem cuidar da
área. A costureira Neusa contou que certa
vez um grupo de alunos do Colégio Cristo Rei coletou o lixo e plantou árvores,
evento em parceria com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente.
Área
aberta é difícil de ser vigiada e controlada. Para complicar, corre água a céu
aberto e o medo de doenças transmitidas por insetos, ou animais peçonhentos, é
constante. "Se tivermos o apoio da prefeitura para cercar o espaço,
assumimos o compromisso de cuidar daqui como se fosse nosso quintal, vai ficar
muito bom", afirmou enfaticamente. A construção dos predinhos na rua
paralela soa como música aos ouvidos dos que ali moram. Tomara que venham outras
melhorias.
Ivan
Evangelista Jr, é membro da Comissão de Registros Históricos de Marília
Publicado no Jornal Diário de Marília, edição de 08/02/2105
Bom dia Ivan,
ResponderExcluirpelo que percebo, essa é a obra a ser edificada no local, entre as ruas Pernambuco e Paraná.
http://ciaimoveis.com/nossos-lancamentos/17/condominio_christo_rey
Abraços