segunda-feira, 29 de setembro de 2025
A história do Pão com Ovo do distrito de Avencas
Pratos que representam a identidade da gastronomia local
Boa parte dos pratos típicos mais tradicionais têm sua origem ligada a personagens ou a histórias e fatos que levaram pessoas a ter uma ideia empreendedora e se tornarem ponto de referência no turismo receptivo.
Na rua principal do distrito de Avencas, distante 22 Km de Marília, vamos encontrar um destes casos em que a necessidade, a atitude e o público, se encontraram em uma das esquinas mais famosas do pequeno distrito.
Duas irmãs, Andréia e Silvana, da tradicional família Gambini, há mais de 11 anos decidiram instalar uma pequena padaria. Até então não havia outra opção e num dos cômodos da casa da mãe improvisaram a produção e iniciaram as vendas. Foi sucesso e aos poucos ampliaram as opções com bolos, biscoitos e quitutes. Tudo no estilo bem caseiro, aquela coisa de receita de vó, que vai passando as gerações e mais o incremento da criatividade da dupla.
Avencas tem pouco mais de 1.000 habitantes, é cercada por propriedades rurais que hoje se dedicam a produção do amendoim. Já foi terra da melancia, fruta que levou a realização de grandes festas no distrito, atraindo pessoas de toda a região, com muita música, barracas, e o concurso que desafiava quem conseguia chupar mais melancias.
É também caminho de passagem obrigatória pela história de Marília e de toda a região. Desde os primórdios o movimento de máquinas e de caminhões transportando diferentes produtos agrícolas sempre foi intenso. Ao caminhar pelas ruas vemos nas fachadas marcas dos pioneiros comerciantes, e nos pequenos botecos que ainda guardam características singulares. São construções simples e paisagens que nos transportam para o passado.
Detalhe importante: Avencas é rota de passagem dos praticantes do ciclismo, dos jipeiros e colecionadores de aventuras, adeptos do turismo rural e curtem andar pelas vicinais e de quebra conhecer paisagens incríveis.
É lá que você vai encontrar o famoso PÃO COM OVO que representa a mais típica gastronomia popular local. Contam as irmãs que o sucesso do lanche é um daqueles episódios em que a gente pode dizer que mirou na lua e acertou as estrelas. O negócio principal inicial era vender pães e bolos para a comunidade local nos horários mais rotineiros, o café da manhã e o café da tarde.
Mas como foi que o Pão com ovo chegou neste enredo? – Certo dia encostou na padaria um ciclista que fazia o trecho e pediu um lanche. Não era costume fazer lanche porque a maioria dos habitantes locais comprava o pão, a mortadela fatiada, o queijo, ou outro tipo de frios e levava para casa.
Com a resposta “lanche a gente não faz” o ciclista insistiu e perguntou: mas nem um pão com ovo? - Ah, isso a gente pode fazer! E conta a história que ele comeu o melhor lanche de pão com ovo da sua vida. Foi uma experiência tão boa e um sabor tão especial que ele passou a divulgar para os amigos e a panificadora Gambini passou a ser ponto de parada obrigatória nas pedaladas.
O trecho Marília – Avencas está se tornando uma das principais vias do turismo receptivo local. A sede do automóvel clube de Marília está logo no início do trajeto, depois vem o Mosteiro da Divina Misericórdia que integra o turismo religioso regional e ao lado do Mosteiro foi plantado um vinhedo, que anuncia para breve o início de atividades de uma vinícola e mais a instalação de um resort com praia artificial de água doce.
Seguindo em frente temos a Serra de Avencas com toda sua beleza, ladeada por dois vales imensos e o portal instagramável da Rota das Capelas, trecho que tem mais de 110 Km de percurso na região e finaliza no Mosteiro.
A receita do pão com ovo que levou o Comtur a certificação como Prato Típico de Marília da gastronomia local e integrante da Rota das Capelas é das mais simples: pão produzido na padaria artesanal local, ovo estralado, no ponto e com a consistência que dá o toque especial, valorizando a crocância do pão, mais o queijo derretido e os temperos especiais das irmãs, incluindo a simpatia da acolhida, os sorrisos e a disposição de sempre atender clientes de uma forma toda especial.
*Pesquisa e relato elaborado pelo Comtur-Marília e pela Comissão dos Registros Históricos da Câmara Municipal e da cidade de Marília - COREH, com a finalidade de valorizar e resguardar as tradições culturais e gastronômicas locais. Por Ivan Evangelista Jr, presidente do Comtur Marília e membro da Coreh.
segunda-feira, 22 de setembro de 2025
A história do “Curto Circuito de Cafés” no Sítio Olho D’Água
EXPERIÊNCIAS GASTRONÔMICAS EM MARÍLIA
Para compor o cheiro, a cor da fumaça e o ponto do café na xícara, guardados na memória da D. Santina, proprietária do Sítio Olho D’Água, seu marido Sr. Maier Pardo (in memoriam) se esforçou muito, estudando, assuntando, calculando, matutando e inventando. Até mesmo o Sr. Belmiro Mendonça, o fazendeiro que viu o moleque Maier correr com os amigos entre cafeeiros para chegar à cachoeira da Faz. Sta. Teresinha, deu orientações valiosas para que o pequeno pedaço de chão, naquele momento já exaurido e coberto de pasto, retomasse seu destino de ser berço de bons grãos de café.
Na porção de terra apontada pelo Mirão existiam duas minas de água, fato animador. No altiplano do sítio, desde 1997, com muito esforço, dedicação, trabalho e planejamento, aos poucos, o casal de aposentados, foi dando forma ao sonho de ter uma propriedade agrícola. Assim, no ano 2000, o solo começou a ser preparado para receber 8 mil mudas de café em plantio adensado.
Foi assim a retomada da atividade da cafeicultura, bem ao lado do distrito de Padre Nóbrega, onde Maier Pardo nasceu e cresceu, e onde eles se casaram. Três anos se passaram e a primeira saca da colheita, premiada até mesmo no Concurso da Câmara Setorial de Cafés em Santos, foi torrada no fogão da cozinha, na casa do Sítio Olho D'Água, sob orientação do Valtinho, o provador de cafés e amigo da família que acreditou em seus discípulos e promoveu D. Santina à função de Torrefadora de Café.
Em 2005, no terreno vizinho aos espaçados 8.000 pés de café inicialmente plantados, Santina e Maier instalaram a sua própria torrefação, ao lado do pequeno terreirão.
Uma torrefação com personalidade, carregada de propósitos e sonhos, frutos de muitas conversas em volta da mesa de refeições com a família reunida. A pequena Casa de Torra, documentada no dia 10 de janeiro de 2005 - dia seguinte ao aniversário de 55 anos da D. Santina - foi a consolidação de toda a personalidade forte e a obstinação que sempre orientaram os projetos da família. Nascia, então, o Café D. Santina, homenagem mais do que merecida a quem sempre foi esteio e companheira, nascia o Café da família Bonini Pardo.
Com o falecimento do pai, em 2017, e com total apoio da mãe, em 2020, os filhos Renata, Victor e Júlio decidiram investir no turismo receptivo e abriram as portas da casa para receber convidados e turistas.
Abriram não somente as portas da casa, mas também o baú de ancestralidades que guarda memórias dos anos 1950-1960, quando a matriarca D. Santina, ajudava a mãe a torrar café no torrador modelo bolinha, no quintal da casa localizada na rua Independência, na cidade de Marília. Ainda que de forma empírica, na melhor tradição das famílias caboclas, Santina-menina aprendeu a “dar o ponto” na torra observando a cor da fumaça que sai do torrador e o aroma característico.
Enquanto o filho Júlio apresenta os cafés para consumidores americanos, a filha Renata e o irmão Victor se dedicaram ao projeto Sítio Olho D´Água e buscaram novas frentes de pesquisa e parcerias com universidades, como a Fatec Marília, a Unesp de Tupã e a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, a Apta Marília. As pesquisas e a constante observação das principais curiosidades dos turistas que chegavam à propriedade, muitos deles estrangeiros, inspiraram o “Curto Circuito de Cafés”.
O circuito se constitui da vivência que os turistas experimentam durante a visita rural. Roteiro de Ciência e Tecnologia, têm início com um passeio entre os pés de café, conhecendo sobre os cuidados da cultura, da colheita no pano para garantir uma boa bebida, seguindo para o terreirão, onde estão vários terreiros suspensos que contêm os grãos em diferentes estágios de secagem e onde acontece o benefício dos cafés ensacados, bem ao lado da Casa de Torra, onde se promovem a seleção e as posteriores torras.
É neste local em que os visitantes aprendem sobre os estágios da torra, temperaturas e detalhes que comporão a bebida final e darão a identidade ao Café D. Santina. Também, os turistas passam por uma oficina prática de seleção de frutos e grãos, aprendem sobre as diferentes espécies e variedades de café que são mais comuns na região de Marília e fazem a prova de degustação.
Só depois de passar por todo este processo de aprendizado de saberes da terra é que os visitantes finalmente experimentarão o café, seja coado em coador de pano, filtrado, prensado, apertado, ou seja, “ao gosto do freguês”. Tudo é servido na mesa da cozinha da família Bonini Pardo sobre a toalha xadrez e acompanhado de bolo e de quitutes feitos no fogão a lenha que enfeita a cozinha e dá um cheiro que é o toque todo especial na experiência sensorial.
O Curto Circuito de Cafés foi adaptado para proporcionar a experiência fora da sede em eventos turísticos da cidade e da região, sendo convidado para representar a gastronomia mariliense nos eventos Agrishow 2025, Mesa São Paulo desde 2021, e no SP Gastronomia desde 2023, dentre outros.
Este é o Curto Circuito de Cafés no Sítio Olho D’Água que levou a cidade de Marília a ser protagonista regional no projeto “Rotas do Café de São Paulo” e, também, da Região Turística do Alto Cafezal (https://www.rotasdocafe.sp.gov.br/rotas-cafe-sp/as_rotas/alta_paulista/sitio%20olho%20d%20agua).
Outra curiosidade que reforça a identidade cultural, gastronômica e de ancestralidades é que o Sítio Olho D’Água está localizado no contexto da Estação de Estudos Ambientais e de Sustentabilidade da região de Padre Nóbrega (https://turismo.marilia.sp.gov.br/arquivos/cmt_-_eeaspen_20230809_09102615.pdf), constituindo-se, hoje, no principal representante da cafeicultura mariliense e símbolo de resistência de preservação do meio ambiente, tendo em vista que a região ao seu redor foi totalmente loteada e ocupada por condomínios e bairros residenciais.
O sítio é o oásis de respiro na teia urbana, é abrigo de espécies nativas, é morada de abelhas que fazem a polinização e produzem mel, tem água pura, e muito verde. Tudo isso a menos de 6 km do centro da cidade de Marília.
Pela atividade comercial do sítio na venda de cafés especiais, consideramos que a formatação e a oferta da experiência do Curto Circuito de Cafés fortalecem o turismo e a economia criativa local e regional.
Pesquisa e relato elaborados pelo Comtur-Marília e pela Comissão dos Registros Históricos da Câmara Municipal e da cidade de Marília - COREH, com a finalidade de valorizar e resguardar as tradições culturais e gastronômicas locais. Por Ivan Evangelista Jr, presidente do Comtur Marília e membro da COREH.
sexta-feira, 19 de setembro de 2025
A história do “Filé Mignon ao Molho de Café”
Pratos que representam a identidade da gastronomia local
A história do “Filé Mignon ao Molho de Café”
Um bom café é, desde sempre, um motivo para um bom papo, reunir família e amigos. É essa a essência que trazemos e apresentamos no nosso prato, “FILÉ AO MOLHO DE CAFÉ MARÍLIA”. Esta foi a inspiração do empresário Cesar Bettini, proprietário e chef do Pasttini – Restaurante e Pizzaria, para criar o prato que integra e representa Marília na Rota Turística do Alto Cafezal e na Rotas do Café de São Paulo.
O desafio da criação do prato veio da sua participação na 9ª edição do Festival Gastronômico de Marília no ano de 2023. Evento anual promovido pelo Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares (SinHoRes) e o Marília e Região Convention & Visitors Bureau, em parceria com a prefeitura da cidade, que visa promover a culinária local, estimular o turismo gastronômico e fortalecer o setor de bares e restaurantes. O festival apresenta pratos exclusivos criados pelos participantes inscritos, fomenta a economia criativa, gera empregos e apoia entidades sociais.
Os participantes podem homenagear personagens históricos ou icônicos da cidade, e podem criar pratos com ingredientes e receitas que remetem a cultura e a história da nossa gente.
Pasttini contou ao Comtur que nesta 9ª edição ele decidiu homenagear o café e toda a sua representatividade na história de Marília. Em suas palavras: “O café exercia um papel fundamental na economia Brasileira, tornando São Paulo o novo centro cafeeiro, impulsionando o crescimento da cidade. Já em 1915, os primeiros cafezais surgiram nas terras da nossa região, depois denominadas de Alto cafezal. Em 1929, a cidade de Marília se tornou um município e o café sempre esteve presente. Esse prato de filé ao molho de café serve para celebrarmos a nossa origem mariliense, homenagear cada trabalhador e família que se dedicaram nesta atividade em Marília e que nos deixaram legados importantes. Na atualidade temos empresas representativas, como a Intercoffe, Café Passaport, Café D.Santina, Café Floriana, Café do Feirante; temos a “Rua do Café”, no bairro Higienópolis, e o edifício Ouro Verde, na av. Sampaio Vidal, construído no ano de 1952, símbolo de uma época. Desejamos que os nossos clientes saboreiem em cada garfada a hospitalidade, a simpatia e tradições que nós Marilienses carregamos, cheios de amor e orgulho por nossa cidade.”
Homenageamos, relembramos e agradecemos a todos os envolvidos na cafeicultura de Marília.
Cesar estudou na escola Bento de Abreu Sampaio Vidal, localizada na rua Cincinatina, ao lado da Fazenda Cascata, que nos primórdios foi grande produtora de café. Quando decidiu instalar seu novo empreendimento escolheu estar bem próximo das suas origens e das memórias afetivas da sua infância e juventude. A nova casa foi construída na rua Liberdade, nº 349, imediações da Fazenda Cascata, onde ainda se pode ver o grande terreirão de secar café, os trilhos e vagões que levavam os grãos até a tulha. Parte da nossa história está preservada neste cenário bucólico e de grande representatividade cultural.
A fachada do Pasttine é toda em tijolos à vista, coberta com uma linda trepadeira verde de Falsa Vinha, o que nos remete aos antigos casarões das fazendas de café. A nova edificação guarda memórias afetivas de outros locais que já foram endereços na história da casa e da gastronomia mariliense. Os tijolos utilizados na construção são reciclados do antigo Barzinho Pé de Manga, as portas da entrada foram da clínica do Dr. Foloni, na rua 4 de abril, centro histórico de Marília, que posteriormente se tornou endereço do Flor Pastel, e do Espelho Mágico, e as vidraças são do antigo Pasttine - Tauste Sul, endereço que consolidou a casa como referência e preferência gastronômica da cidade.
A receita do Filé ao Molho de Café
Composto por filé mignon, servido ao molho de café especialmente desenvolvido pela cozinha da casa, acompanha risoto de parmesão com espinafre. Sabor único e imersivo.
A casa é especializada em massas e tem carta de vinhos especiais que atendem aos mais exigentes paladares. Desde o concurso o filé permanece no cardápio como opção de experiência gastronômica, com identidade, valorização e resgate cultural.
*Pesquisa e relato elaborado pelo Comtur-Marília e pela Comissão dos Registros Históricos da Câmara Municipal e da cidade de Marília - COREH, com a finalidade de valorizar e resguardar as tradições culturais e gastronômicas locais. Por Ivan Evangelista Jr, presidente do Comtur Marília e membro da Coreh.
quarta-feira, 17 de setembro de 2025
A história do “Socialista”, o lanche dos companheiros
O tradicional Restaurante Chaplin sempre foi o ponto de encontro daqueles que apreciam um bom chope, ou aquela cerveja bem gelada também conhecida como “canela de pedreiro” que chega na mesa do cliente branquinha por fora.
Foi no Chaplim o ponto de encontro dos bancários de Marília, os companheiros, como eles mesmos gostavam de se tratar, turma que se dedicava as atividades sindicais, e que se reunia com regularidade para um bom bate papo e as reuniões decisórias. Os encontros eram tão assíduos que chegaram a ter uma “mesa da diretoria”, um carinho da casa que deixava reservada sempre a mesma mesa para a turma.
Num destes encontros um dos companheiros do grupo chamou o garçom e pediu: “você pode fazer um lanche aqui pra nós, um lanche gostoso, pra gente ir beliscando enquanto a conversa vai rolando”. O garçom, prata da casa e velho conhecido dos amigos, sugeriu: pode ser um lanche de filé mignon, queijo e tomate. – Pode respondeu o solicitante. Porém a mesa tinha várias pessoas e o garçom perguntou quantos lanches deveria fazer.
O interlocutor respondeu: “faz um pra gente experimentar, corta em fatias e depois corta em quadradinhos, assim, vai servir todo mundo”. O garçom, esperto, já estava habituado com a turma e o ritmo da mesa e sempre ligado no estilo do grupo respondeu: “...ah, então vocês querem um socialista, vou pedir lá na cozinha”.
E não demorou o lanche chegou do jeitinho do pedido; bem recheado, suculento, cortado em pedacinhos, espetados com palitos de dente para facilitar a pegada. Se tornou o queridinho do grupo. Conversa vai, conversa vem, cerveja, vai, cerveja vem, e manda mais um socialista pra mesa da diretoria que o assunto vai longe.
É claro que logo entrou para o cardápio da casa e até hoje permanece como um grande diferencial do menu gastronômico local. É um dos pratos que tem a cara de Marília, cidade que sempre foi âncora do movimento sindical bancário regional.
Quando visitar Marília você pode saborear o socialista que tem berço de identidade no restaurante Chaplim, também no Bem-Me-Quer, pizzaria e lanchonete e no Grappa Caffé.
*Pesquisa e relato elaborado pelo Comtur-Marília e pela Comissão dos Registros Históricos da Câmara Municipal e da cidade de Marília - COREH, com a finalidade de valorizar e resguardar as tradições culturais e gastronômicas locais. Por Ivan Evangelista Jr, presidente do Comtur Marília e membro da Coreh.
segunda-feira, 15 de setembro de 2025
A história do “Chinelão”, o lanche da madrugada
Pratos que representam a identidade da gastronomia local
A Padaria São Luiz, do Sr. Orídes Magon, funcionava no período noturno e atendia ao público até às 23 horas. No passado, era um dos poucos estabelecimentos que se podia contar com pão quente neste horário, daí ter uma boa freguesia que geralmente saía do trabalho noturno e passava pela padaria para levar pães, queijo muçarela, mortadela ou presunto para fazer o lanche em casa.
A partir da meia noite as portas eram fechadas. Porém os clientes eram atendidos acessando um estreito corredor lateral que dava acesso aos fundos da padaria. Dos frequentadores mais habituais eram médicos, que atuavam no antigo Hospital Marília, policiais civis e policiais militares que faziam a ronda noturna.
O rito era passar pela padaria, solicitar uma ou duas bengalas (tipo de pão muito comum no passado), algumas fatias de mortadela e queijo. Como não havia espaço para comer no local o jeito era sentar-se na sarjeta da calçada, ou no banco do carro, ou acomodar-se num canto qualquer, montar o lanche no improviso e saciar a fome.
Num destes atendimentos o Sr. Orides, que ficou mais conhecido como Luiz, devido ao nome da padaria, resolveu fazer um agrado para alguns amigos médicos, e se ofereceu para fazer um sanduiche da casa, o Chinelão, que ele e os padeiros sempre comiam na madrugada.
A receita original do sanduiche: pão tipo bengala cortado ao meio, generosas fatias de apresuntado, ou opcional de mortadela, ao gosto do freguês e queijo. Na primeira etapa da confecção as fatias são postas lado a lado na assadeira e se parecem muito com um par de chinelos, daí o nome chinelão.
Podia ter tomate ou cebola fatiados, dependia do tempo e disposição do Sr. Luiz, que se revezava na produção dos pães e no atendimento do público
Montado o sanduiche em uma das partes do pão, leva-se ao forno, e espera aquecer por alguns minutos. Em seguida, sobrepõe a outra fatia e retorna ao forno, o que dá crocância e o sabor todo especial. Era servido no papel de pão, fatiado em 6 ou 8 pedaços.
A partir de então o chinelão se tornou o lanche da madrugada, nome e propaganda dos próprios clientes, acompanhado da tradicional bebida Tubaína.
Para esta indicação o Comtur Marília entrevistou a Sra. Virginia Magon (Lola) filha mais velha do Sr. Orides Magon (nascido em 1930) e da Sra. Aparecida Macagnam Magom. Segundo seus relatos, o pai vendeu dois sítios de sua propriedade na cidade de Itapuí, e em sociedade com mais 3 irmãos, no ano de 1969, compraram do Sr. Luiz Barea, a Padaria São Luiz pelo valor de 20.000 Cruzeiros, localizada na rua São Luiz, nº 1001.
Orides já atuava no setor de panificação na cidade de Itapuí, e convidou os irmãos para investir em nova oportunidade de empreendimento em Marília. A sociedade com os irmãos seguiu até o ano de 1999. A partir daí ele passou a contar com a ajuda e participação das filhas Virginia e Josefina Magon.
Com o passar do tempo Virginia casou-se no ano de 1970, com Irineu Corradi, padeiro e funcionário da padaria e continuaram a trabalhar juntos no estabelecimento.
No ano de 2006 a padaria foi vendida. Irineu, padeiro experiente, foi trabalhar como funcionário na Lanchonete do Zé, estabelecimento montado na esquina das ruas 15 de novembro e rua Bassan. Foi lá que passaram a oferecer aos clientes o Chinelão como diferencial do cardápio. A Lanchonete do Zé passou a ser conhecida como sucessora do “Chinelão da Madrugada”.
Outros estabelecimentos da cidade servem o sanduiche que se imortalizou na lembrança das pessoas e na memória gastronômica da nossa terra e da nossa gente, assim como, dos visitantes e turistas.
O lanche tem histórico de homenagens pela Câmara Municipal de Marília:
• Requerimento nº 1984/2003 Ementa: VOTOS DE CONGRATULACOES A LANCHONETE E PIZZARIA "O CHINELAO"JUNTO A PADARIA SAO LUIZ, 1010. Autoria: CARLOS CAVALHEIRE BASSAN (20/10/2003);
• Requerimento nº 357/2006 Ementa: VOTOS DE CONGRATULACOES A EMPRESÁRIA MARILIENSE, SRA. CLAUDIA HELENA GUIMARAES, NOVA PROPRIETARIA DA PADARIA SAO LUIZ, ONDE ESTA REATIVANDO O FORNECIMENTO DO FAMOSO LANCHE CHINELAO. Autoria: Mário Coraíni Júnior (13/03/2006)
• Requerimento nº 481/2006 Ementa: VOTOS DE CONGRATULACOES AO SR. ORIDES MAGON, EX-PROPRIETARIO DA PADARIA SAO LUIZ TRADICIONAL ESTABELECIMENTO COMERCIAL DE NOSSA CIDADE, CRIADOR DO CONHECIDO LANCHE "CHINELAO", QUE ENCERROU SUAS ATIVIDADES APOS 40 ANOS. Autoria: LUIZ SERGIO CONEGLIAN (27/03/2006);
• Requerimento nº 306/2009 Ementa: Votos de congratulações ao Sr. Murilo Casadei, responsável pela nova direção da tradicional Padaria São Luiz, que vem mantendo o fornecimento do famoso lanche “Chinelão” que já há muitos anos, vem sendo saboreado pela população de nossa cidade, graças a sua originalidade, esmero na execução e paladar dos melhores. Autoria: Mário Coraíni Júnior (09/03/2009);
• Requerimento nº 747/2012 Ementa: Votos de congratulações ao querido e renomado Sr. Orides Magon, que ficou conhecido em nosso município por ter criado o famoso e tradicional lanche "chinelão", que ganhou projeção nacional. Autoria: Sydney Gobeƫ (23/04/2012);
• Ementa: Votos de congratulações à 'Lanchonete Rota do Sabor', localizada na Avenida Brasil, na cidade de Lácio, onde é servido o tradicional lanche - o 'Chinelão'. Autoria: Marcos Rezende (05/11/2015);
quarta-feira, 3 de setembro de 2025
Marília vai certificar pratos típicos da gastronomia
Tradições, saberes e receitas que foram criadas ou incrementadas por empreendedores atuantes em vários segmentos passam a ter uma identidade ainda mais próxima com a cidade. O Comtur - Conselho Municipal de Turismo de Marília, aprovou na reunião ordinária do mês de agosto a Certificação dos Pratos Típicos que representam a gastronomia mariliense.
As receitas originais, fotos, entrevistas e depoimentos e até mesmo as homenagens recebidas ao longo dos tempos compõem uma grande vitrine cultural e de ancestralidades que poderão ser mais conhecidas do público em geral. Para a comunidade local e para os turistas os “registros de identidade” passam a ser uma boa dica de roteiro no meio urbano. Ao sentar-se à mesa e pedir aquele prato ou lanche o cliente poderá acessar sites de informações que contam a história do que vai consumir.
Todo este trabalho visa fortalecer a presença e participação de Marília na “Rota dos Cafés de SP” e na “Região Turística do Alto Cafezal”, dois programas do governo estadual que promovem os empreendedores e empreendimentos do turismo receptivo no interior paulista. É sabido que a fundação da cidade de Marília e todo o desenvolvimento inicial se deu em torno do avanço da ferrovia para a esta região e das grandes propriedades produtoras de café.
Neste contexto das certificações estão contemplados não somente pratos, assim como, histórias e saberes, ancestralidades e outros fatores que possam de alguma fortalecer as conexões dos atores com a Cadeia Produtiva Local do Turismo de Negócios que está em fase de análise e aprovação pelo governo estadual, tendo como gestora e entidade proponente inicial a ADIPA – Associação das Indústrias Produtoras de Alimentos .
Serão três tipos de certificações: Prato Típico da cidade de Marília; Empresa e/ou empreendedor que integra a Cadeia Produtiva do Turismo receptivo local; e a terceira Empresa/empreendedor que integra a Cadeia Produtiva da “Rotas do Café de São Paulo” e da “Região Turística do Alto Cafezal.”
Nas próximas publicações você confere os pratos que já estão cadastrados e devidamente autenticados e em breve vão receber o certificado do Comtur Marília.
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