segunda-feira, 22 de setembro de 2025

A história do “Curto Circuito de Cafés” no Sítio Olho D’Água

EXPERIÊNCIAS GASTRONÔMICAS EM MARÍLIA
Para compor o cheiro, a cor da fumaça e o ponto do café na xícara, guardados na memória da D. Santina, proprietária do Sítio Olho D’Água, seu marido Sr. Maier Pardo (in memoriam) se esforçou muito, estudando, assuntando, calculando, matutando e inventando. Até mesmo o Sr. Belmiro Mendonça, o fazendeiro que viu o moleque Maier correr com os amigos entre cafeeiros para chegar à cachoeira da Faz. Sta. Teresinha, deu orientações valiosas para que o pequeno pedaço de chão, naquele momento já exaurido e coberto de pasto, retomasse seu destino de ser berço de bons grãos de café. Na porção de terra apontada pelo Mirão existiam duas minas de água, fato animador. No altiplano do sítio, desde 1997, com muito esforço, dedicação, trabalho e planejamento, aos poucos, o casal de aposentados, foi dando forma ao sonho de ter uma propriedade agrícola. Assim, no ano 2000, o solo começou a ser preparado para receber 8 mil mudas de café em plantio adensado. Foi assim a retomada da atividade da cafeicultura, bem ao lado do distrito de Padre Nóbrega, onde Maier Pardo nasceu e cresceu, e onde eles se casaram. Três anos se passaram e a primeira saca da colheita, premiada até mesmo no Concurso da Câmara Setorial de Cafés em Santos, foi torrada no fogão da cozinha, na casa do Sítio Olho D'Água, sob orientação do Valtinho, o provador de cafés e amigo da família que acreditou em seus discípulos e promoveu D. Santina à função de Torrefadora de Café. Em 2005, no terreno vizinho aos espaçados 8.000 pés de café inicialmente plantados, Santina e Maier instalaram a sua própria torrefação, ao lado do pequeno terreirão. Uma torrefação com personalidade, carregada de propósitos e sonhos, frutos de muitas conversas em volta da mesa de refeições com a família reunida. A pequena Casa de Torra, documentada no dia 10 de janeiro de 2005 - dia seguinte ao aniversário de 55 anos da D. Santina - foi a consolidação de toda a personalidade forte e a obstinação que sempre orientaram os projetos da família. Nascia, então, o Café D. Santina, homenagem mais do que merecida a quem sempre foi esteio e companheira, nascia o Café da família Bonini Pardo. Com o falecimento do pai, em 2017, e com total apoio da mãe, em 2020, os filhos Renata, Victor e Júlio decidiram investir no turismo receptivo e abriram as portas da casa para receber convidados e turistas. Abriram não somente as portas da casa, mas também o baú de ancestralidades que guarda memórias dos anos 1950-1960, quando a matriarca D. Santina, ajudava a mãe a torrar café no torrador modelo bolinha, no quintal da casa localizada na rua Independência, na cidade de Marília. Ainda que de forma empírica, na melhor tradição das famílias caboclas, Santina-menina aprendeu a “dar o ponto” na torra observando a cor da fumaça que sai do torrador e o aroma característico. Enquanto o filho Júlio apresenta os cafés para consumidores americanos, a filha Renata e o irmão Victor se dedicaram ao projeto Sítio Olho D´Água e buscaram novas frentes de pesquisa e parcerias com universidades, como a Fatec Marília, a Unesp de Tupã e a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, a Apta Marília. As pesquisas e a constante observação das principais curiosidades dos turistas que chegavam à propriedade, muitos deles estrangeiros, inspiraram o “Curto Circuito de Cafés”.
O circuito se constitui da vivência que os turistas experimentam durante a visita rural.
Roteiro de Ciência e Tecnologia, têm início com um passeio entre os pés de café, conhecendo sobre os cuidados da cultura, da colheita no pano para garantir uma boa bebida, seguindo para o terreirão, onde estão vários terreiros suspensos que contêm os grãos em diferentes estágios de secagem e onde acontece o benefício dos cafés ensacados, bem ao lado da Casa de Torra, onde se promovem a seleção e as posteriores torras. É neste local em que os visitantes aprendem sobre os estágios da torra, temperaturas e detalhes que comporão a bebida final e darão a identidade ao Café D. Santina. Também, os turistas passam por uma oficina prática de seleção de frutos e grãos, aprendem sobre as diferentes espécies e variedades de café que são mais comuns na região de Marília e fazem a prova de degustação.
Só depois de passar por todo este processo de aprendizado de saberes da terra é que os visitantes finalmente experimentarão o café, seja coado em coador de pano, filtrado, prensado, apertado, ou seja, “ao gosto do freguês”. Tudo é servido na mesa da cozinha da família Bonini Pardo sobre a toalha xadrez e acompanhado de bolo e de quitutes feitos no fogão a lenha que enfeita a cozinha e dá um cheiro que é o toque todo especial na experiência sensorial. O Curto Circuito de Cafés foi adaptado para proporcionar a experiência fora da sede em eventos turísticos da cidade e da região, sendo convidado para representar a gastronomia mariliense nos eventos Agrishow 2025, Mesa São Paulo desde 2021, e no SP Gastronomia desde 2023, dentre outros.
Este é o Curto Circuito de Cafés no Sítio Olho D’Água que levou a cidade de Marília a ser protagonista regional no projeto “Rotas do Café de São Paulo” e, também, da Região Turística do Alto Cafezal (https://www.rotasdocafe.sp.gov.br/rotas-cafe-sp/as_rotas/alta_paulista/sitio%20olho%20d%20agua). Outra curiosidade que reforça a identidade cultural, gastronômica e de ancestralidades é que o Sítio Olho D’Água está localizado no contexto da Estação de Estudos Ambientais e de Sustentabilidade da região de Padre Nóbrega (https://turismo.marilia.sp.gov.br/arquivos/cmt_-_eeaspen_20230809_09102615.pdf), constituindo-se, hoje, no principal representante da cafeicultura mariliense e símbolo de resistência de preservação do meio ambiente, tendo em vista que a região ao seu redor foi totalmente loteada e ocupada por condomínios e bairros residenciais.
O sítio é o oásis de respiro na teia urbana, é abrigo de espécies nativas, é morada de abelhas que fazem a polinização e produzem mel, tem água pura, e muito verde. Tudo isso a menos de 6 km do centro da cidade de Marília. Pela atividade comercial do sítio na venda de cafés especiais, consideramos que a formatação e a oferta da experiência do Curto Circuito de Cafés fortalecem o turismo e a economia criativa local e regional. Pesquisa e relato elaborados pelo Comtur-Marília e pela Comissão dos Registros Históricos da Câmara Municipal e da cidade de Marília - COREH, com a finalidade de valorizar e resguardar as tradições culturais e gastronômicas locais. Por Ivan Evangelista Jr, presidente do Comtur Marília e membro da COREH.

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